De ‘Ataque dos Cães’ à Netflix: os grandes esnobados do Oscar
Spielberg, Kristen Stewart e Lin-Manuel Miranda também acabaram ofuscados na premiação
Toda noite de Oscar segue um roteiro mais ou menos parecido: os vencedores, em sua maioria, não surpreendem, já previstos por uma leva de outras premiações que acontecem na mesma época. Mas uma ou outra categoria gera burburinho e discórdia entre os fãs do cinema: na noite de domingo, 27, No Ritmo do Coração levou o Oscar de melhor filme, em toda sua glória prosaica de filme de Sessão da Tarde. Apesar de suas chances fiarem evidentes nas últimas semanas, não era a impressão de quando saíram as indicações: àquela altura, especulava-se que Ataque dos Cães seria imbatível, já que o filme de Jane Campion se encaixa na linha de produções ambiciosas e “cult” que o Oscar adora. Apesar das robustas 12 indicações, o longa foi o grande esnobado da noite e levou uma única estatueta, pela direção de Campion. Outra decorrência disso: a Apple, dona do despretensioso e vitorioso No Ritmo do Coração, passou a perna na Netflix, que imaginava enfim colocar as mãos na estatueta de melhor filme com Ataque dos Cães, e viu a rival fazer história ao se tornar o primeiro serviço de streaming a ganhar na categoria.
Também por Ataque dos Cães, Benedict Cumberbatch e Kodi Smit-McPhee eram nomes bem cotados para vencer, respectivamente, como melhor ator e melhor ator coadjuvante. Mas terminaram a noite de mãos abanando. Cumberbatch, principalmente, teve um intenso trabalho de preparação para seu personagem — chegou, inclusive, a conviver com um caubói de verdade para aprender modos e habilidades utilizadas em cena e passou alguns dias sem tomar banho, tal como seu personagem Phil Burbank. Um tipo de transformação que o Oscar costuma adorar, mas que, dessa vez, não surtiu efeitos. Uma última possibilidade para Ataque dos Cães era a de fotografia, pelo trabalho da australiana Ari Wegner (segunda mulher na história a concorrer na categoria). Não deu de novo: quem levou foi o visualmente extasiante Duna. Com 10 indicações, o sci-fi de Denis Villeneuve terminou a cerimônia com seis estatuetas.
Outro filme desbancado por Duna nas categorias mais técnicas foi Amor, Sublime Amor. A refilmagem de Steven Spielberg, que somava sete indicações na premiação, faturou uma estatueta histórica de melhor atriz coadjuvante — Ariana DeBose é a primeira mulher afro-latina e queer a ganhar um Oscar de atuação. No entanto, o musical não foi recompensado em categorias como direção, melhor filme, fotografia, figurino ou design de produção.
Mais uma esnobada da noite foi Kristen Stewart por Spencer, na pele de Lady Di. Talvez por sua trajetória surpreendente — de mocinha sem expressão na saga vampiresca Crepúsculo aos indicados do Oscar —, a americana era uma grande aposta para o prêmio de melhor atriz. Em seu lugar, no entanto, prevaleceu outra performance baseada em uma personalidade real: Jessica Chastain, por Os Olhos de Tammy Faye.
Já na categoria de canção original, Lin-Manuel Miranda foi desbancado por Billie Eilish e Finneas O’Connell. Na sombra do grande hit de Encanto, We Don’t Talk About Bruno, a faixa Dos Oruguitas acabou perdendo para No Time to Die, trilha do filme 007 – Sem Tempo para Morrer. O sucesso estrondoso da animação, ao que parece, não foi o suficiente para garantir a Miranda seu primeiro Oscar.