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Dani Calabresa sobre assédio de Melhem: “Para mim, era uma vantagem”

Como a atriz justificou à Justiça a troca de mensagens picantes entre eles e outros detalhes inéditos da briga dos ex-globais nos tribunais

Por Da Redação Atualizado em 12 ago 2022, 12h48 - Publicado em 12 ago 2022, 11h13

Acusado publicamente de ter assediado sexualmente Dani Calabresa e outras mulheres na época em que dirigia o núcleo de humor da Rede Globo, Marcius Melhem move desde o início de 2021 um processo cível de reparação por danos morais contra a atriz. A parte principal dos depoimentos prestados pelos dois à Justiça no caso que corre na 22ª Vara Cível do Foro Central de São Paulo trata dos detalhes da noite em que Melhem teria feito o ataque mais feroz contra a suposta vítima. O evento ocorreu na noite de 5 de novembro de 2017, durante uma confraternização do elenco da TV ocorrida no Rio. Uma reportagem da revista Piauí publicada no final de 2020 fez uma reconstituição do suposto ataque. Segundo a matéria, Melhem tentou beijar Calabresa por mais de uma vez na festa. Na porta do banheiro, ele a teria imobilizado com as mãos para forçar uma aproximação e lambeu o rosto da atriz. Em seguida, Melhem avançou contra ela de calças abertas, exibindo o pênis. Ainda segundo a publicação, Calabresa conseguiu fugir e passou o restante da noite transtornada. Tempos depois, segundo ela, como vingança a essa e outras investidas, Melhem passou a persegui-la profissionalmente na Globo.

Em seu depoimento à Justiça sobre o caso, obtidos com exclusividade por VEJA, o ex-diretor nega os episódios e detalha o que teria ocorrido na festa. De acordo com ele, houve de fato um envolvimento com Calabresa na ocasião, mas de uma forma consensual. Melhem diz que, em determinado momento, estava beijando a melhor amiga da atriz numa área mais reservada, quando Calabresa chegou perto, insinuando-se para se juntar ao casal. Nesse momento, segundo Melhem, a amiga puxou a atriz para perto. No instante seguinte, ainda de acordo com ele, Calabresa e o ex-diretor global começaram a se beijar. Minutos depois, teriam voltado à festa e, cada um do seu lado, curtiram o restante da noitada. Melhem assume que, depois dessa festa, tentou continuar flertando com Calabresa, mas desistiu ao ver que não havia reciprocidade no interesse. “A gente trocava mensagem, eu dizendo que ela estava gata, ela dizendo quando é que eu ia correr pelado, mas assim, coisas normais de amigos”, relatou.

Em seus depoimentos à Justiça sobre os mesmos fatos (também obtidos com exclusividade por VEJA), Calabresa e a melhor amiga dela citada no depoimento de Melhem, Maíra Perazzo, confirmam uma informação do ex-diretor global: ambas assumem que, de fato, Maíra trocou beijos com Melhem naquela noite, mas isso teria ocorrido em circunstâncias e com papéis um pouco diferentes daqueles narrados por ele. Segundo Calabresa, Melhem teria tentado assediá-la durante boa parte da festa. “Totalmente mal intencionado, vinha me encoxando, tentou me agarrar, me agarrou na pista, me agarrou perto do bar, me agarrou no banheiro, me agarrou saindo do banheiro, e eu virava, virava, tentando me beijar o tempo todo, me agarrou e me desrespeitou o tempo todo! E temos testemunhas e amigos, as pessoas viram, a equipe viu! Que até ele me prensou numa parede, e eu falei ‘Para, Marcius, para!’”, narrou, repetindo em seguida em seu depoimento as cenas agressivas descritas pela Piauí. Ainda de acordo com essa narrativa, no momento em que atriz e Melhem estavam na área mais reservada, Calabresa afirma ter puxado a melhor amiga dela para perto deles, com o objetivo de se livrar do constrangimento. “Empurrei a Maíra para ele, e ele abocanhou a Maíra, e ficou ficando com a Maíra, e eu voltei para a pista de dança, lambida, descabelada, abusada e bêbada, animada, mas pensando: ‘Ele não tem limite, acabou, não é brincadeira, ele me agarra mesmo!’”.

Apesar de ser a melhor amiga de Calabresa, o depoimento de Maíra no processo como testemunha foi pedido pelos advogados de Melhem. Um aparente contrassenso, mas justificado pelo time jurídico do ex-diretor com o argumento de que ela é peça-chave para demonstrar que ocorreu um relacionamento consentido. Não foi fácil levá-la ao juízo. Segundo a defesa do ex-diretor, havia no endereço profissional dela a orientação para não receber qualquer tipo de intimação para comparecer à Justiça. Apesar desse tipo de dificuldade, Maíra acabou prestando depoimento, quando confirmou as supostas tentativas de assédio de Melhem sobre Calabresa durante a festa e o envolvimento com o ex-diretor na área mais reservada no meio da madrugada, em condições semelhantes às narradas por Calabresa: “A Dani me puxou para essa área no final da festa, eu já estava bem embriagada, nessa hora estava o Marcius e eu fiquei com o Marcius nesse momento. As pessoas saíram, eu fiquei sozinha com ele, a gente ficou (se beijou, né, ele me beijou, eu fiquei com ele”. Maíra contou ainda que, ao se aproximar dos dois, não lembra de ter visto o casal se beijando. Ao final do depoimento, narra que voltou para o ambiente principal  da festa, reencontrou Calabresa, que lhe pareceu estar bem naquele momento: “Eu não vi ela chorando, nem tremendo, ela só me puxou para ficar com ele”.  Ambas saíram de lá juntas e dormiram no apartamento da atriz no Rio.

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No dia seguinte à festa, Maíra afirma que ela e Dani conversaram apenas sobre as coisas divertidas ocorridas na noitada. “Ela me contou que ficou com o Pedro, que era uma pessoa que ela queria ficar, né? Ela não entrou em nada, nada ruim”, contou (o Pedro em questão é um operador de câmera da Globo). Alguns dias depois, Maíra conta que começou a trocar mensagens com Melhem. No mês seguinte, encontrou-se com ele no Rio: “Fui no apartamento dele, a gente ficou 40 minutos, uma hora no máximo, juntos”. Após contar esse episódio a Calabresa, Maíra narra que a atriz teria começado a se abrir com ela, falando do suposto assédio e sentindo-se culpada por ter atirado a melhor amiga nos braços dele para se livrar do ataque durante a festa do elenco do humor da Globo: “Ela não tinha visto a gravidade, nem eu ainda, depois ela sentiu o tamanho da gravidade, que aí ela me contou tudo o que aconteceu”. Perguntado pelo juiz sobre o episódio com Maíra no Rio, Melhem confirma o encontro e acrescenta o seguinte: “Se eu fosse um assediador, alguém que tivesse cometido um ato constrangedor ou violento numa festa, a amiga que ela levou à festa iria, um mês depois, vir ao Rio para encontrar a Dani e me encontrar para transar comigo?”.

Além do envolvimento consensual do trio na festa (na reportagem da revista Piauí não consta a informação da presença da Maíra junto aos dois), a defesa de Melhem sustenta que as denúncias de assédio sexual e moral contra ele vieram à tona muito tempo depois, motivadas por um desentendimento profissional em 2019. No processo, o ex-diretor reproduz uma série de mensagens trocadas entre os dois pelo WhatsApp e anexa áudios da atriz que demonstrariam o bom relacionamento entre ambos, antes e depois do suposto episódio de assédio na festa de 2017, tentando refutar o argumento de que ela teria ficado traumatizada. Para os advogados do ator, trata-se de um conteúdo de tom “jocoso e íntimo”, com espaço para mensagens de cunho sexual. A respeito da noitada onde ele teria atacado a atriz, Melhem reproduz uma mensagem de Calabresa no grupo de WhatsApp Zorra em que ela diz no dia seguinte que a festa foi um “bapho”. Em outra mensagem, trocada entre ela e Melhem um mês depois, num contexto de brincadeira entre ambos, a atriz escreve: “Deus te deu vários dons” e, entre os emojis, coloca uma berinjela. Em seguida, completa: “Desculpa, o emoji certo era esse” — e envia a figura de um microfone.

Anexadas ao processo por Melhem, há outros exemplos de trocas de mensagens de cunho sexual entre eles. Em um dos WhatsApp, de 29 de junho de 2017, Melhem escreve o seguinte: “Eu que agradeço. Pela confiança, pelo carinho, pelo talento… e ok pelos nudes que você me mostrou. Ou seja: talentosa e gostosa”. Antes, no início do mês, ele já havia escrito: “Te amo sem você me mandar um nude, olha que puro!”. Ao que Calabresa responde, depois de uma risada: “Mostrei sem vc pedirrrr!!!!”. Ambos se referem a um episódio ocorrido em outra festa, em abril de 2017, ocorrida na casa do diretor Mauro Farias. Segundo Melhem, em um determinado momento, as pessoas conversavam sobre nudes e Calabresa o chamou para um canto do local e exibiu o conteúdo do celular: “Ela me mostrou nudes dela, me mostrou tudo: me mostrou fotos dela totalmente pelada, ela com amigas, ela sozinha, fotos, vídeos, poses, tudo”.

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Na versão de Calabresa que consta no processo, a atriz diz que exibia esse conteúdo para amigos no meio de uma roda dessa festa quando Melhem avançou sobre ela, agarrando telefone para ver as imagens. Em seu depoimento, a atriz justifica a troca de brincadeiras e de mensagens de cunho sexual  com Melhem como uma estratégia utilizada por ela até o limite do suportável para não comprar briga com o chefe que comandava o departamento de humor da Globo. “Deixa ele me cantar, deixa me chamar de gostosa. Para mim, era uma vantagem. Prefiro continuar brincando com o meu chefe tarado do que comprar briga com ele”, justificou. Em outro momento, cita como exemplo de “saia-justa” na relação com o superior o episódio relacionado ao interesse dela em protagonizar um novo programa, o Furo de Hora.  “Excelência, ele me garantiu que eu ia, que ia me ajudar a fazer um projeto parecido com o Furo MTV, que eu disse para todo mundo (inclusive ele), que eu queria fazer.” Segundo a defesa de Melhem, o não cumprimento dessa “promessa” teria originado a desavença profissional e as denúncias dela contra o ex-chefe.

O caso acabou sendo levado ao compliance da Globo, que, alegando sigilo, nunca divulgou o resultado do trabalho, limitando-se a dizer que tudo foi devidamente apurado. Depois de ficar cinco meses afastado do trabalho para cuidar de um grave problema de saúde de sua filha no exterior, Melhem teve seu contrato encerrado. No mês passado, o mesmo aconteceu com Calabresa, após sete anos de relação com a Globo.

A briga entre os dois prossegue nos tribunais. O acusado foi o primeiro a buscar a Justiça, uma das singularidades do caso (em geral, são as vítimas que fazem isso). No processo cível que corre em São Paulo, além de negar as acusações, Melhem pede que a ex-­subor­dina­da seja condenada ao pagamento de uma indenização de 200 000 reais, que seriam doados ao Retiro dos Artistas. Além disso, o ex-­diretor cobra que a humorista se responsabilize pelos pagamentos de seus tratamentos psiquiátrico e psicoterápico e que faça uma retratação pública. Nesse processo, a defesa de Calabresa tentou impedir que Melhem continue divulgando na imprensa e nas redes sociais mensagens trocadas entre os dois, mas acabou sendo derrotada recentemente. Do outro lado, denúncias de Calabresa e de outras sete supostas vítimas deram início a uma investigação criminal contra Melhem em curso na Delegacia de Atendimento à Mulher no Rio.

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