Citibank Hall, em São Paulo, fecha as portas com brinde de champagne e marretadas
Antigo Palace, casa de shows mais antiga da cidade encerrou as atividades neste sábado, após apresentação da comédia 'Hermanoteu na Terra de Godah'; destino do terreno ainda é incerto
Não teve choro nem vela. Pouco menos de um mês após ter seu fim anunciado, a casa de shows Citibank Hall fechou as portas na noite deste sábado (18). Sem nenhum anúncio oficial de que aquele seria o último dia de atividades da casa, muita gente foi pega de surpresa quando o humorista Jovane Nunes, da companhia Os Melhores do Mundo, pediu um brinde, com direito a champagne para o elenco, ao fim da peça Hermanoteu na Terra de Godah, o último espetáculo a ser exibido antes de o Citibank Hall encerrar suas atividades. Oficialmente, a casa fecha no dia 1º de março, mas este foi o último evento aberto ao público. Entre uma piada e outra, o elenco se mostrou emocionado ao se despedir da plateia abarrotada (cerca de 1.000 pessoas, a lotação máxima da casa com mesas). “Hoje é um dia muito importante para nós, porque é o último dia do Citibank Hall”, disse Jovane, arrancando um “ahhh” coletivo dos presentes.
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Ele prosseguiu: “Coube a nós a tarefa de encerrar essa história tão bonita do antigo Palace. Só aqui, mais de 120 mil pessoas já viram esse espetáculo, e nós gostaríamos de agradecer a vocês, o público, por todos esses anos de sucesso. O mais engraçado é que nós gravamos o nosso primeiro DVD no Canecão, no Rio, que também fechou, e depois, gravamos um aqui. Já estamos pensando em gravar o próximo na câmara legislativa”, disse Jovane, anunciando, em seguida: “Já que é para demolir, vamos começar agora” – afirmou, antes de sacar uma marreta e destruir parte de uma estrutura de madeira que compõe o palco.
Na saída do espetáculo, frequentadores do local aproveitaram para tirar fotos em frente às logomarcas do Citibank Hall dentro da casa para guardar como lembrança. O paulistano Fabio Pascale, de 38 anos, era um dos que se revezava com amigos entre fotógrafo e fotografado. “Estou muito chateado com o fim da casa. Venho aqui desde a época do Palace e acho muito triste que tenha que acabar assim. É uma pena que a especulação imobiliária possa tirar esse local da gente”, afirmou. Para ele, o show mais marcante que assistiu no local foi o da turnê do disco Per Amore da cantora Zizi Possi, que rendeu gravação de um DVD em 1998.
Conforme o site de VEJA já havia noticiado, o contrato de locação do imóvel com a produtora Time For Fun (T4F) está vencido desde 2008 e, apesar dos esforços da T4F para manter a casa funcionando, a Associação Brasileira de Educação e Assistência (Abea), proprietária do terreno, pediu que o local fosse desocupado. O terreno do imóvel, localizado em área nobre da capital paulista, é disputado por construtoras. A Abea afirma que a T4F se recusou a pagar um reajuste no valor do aluguel, que serve de fonte de renda para a associação. Mas nega que vá vender o terreno para uma construtora. “O espaço é essencial para a renda da associação, e deve ser usado para finalidades estatutárias que ainda serão definidas em assembleia”, afirmou Padre Bruno, que dirige a associação. A T4F diz que, caso um novo empreendimento seja erguido no local, estuda fazer dele um novo espaço para shows. Diz ainda que entende a importãncia histórica do endereço para a cidade.
Inaugurado em 1983, o Palace recebeu mais de 2.700 shows, entre eles, Tom Jobim, BB King, Jean Luc Ponty e Rita Pavone. Em 2000, já sob o comando da T4F, foi rebatizado como Directv Music Hall. Desde 2005, é conhecido como Citibank Hall. A casa é a mais antiga entre as principais de São Paulo — a Via Funchal, na Vila Olímpia, está há treze anos no mercado; o Credicard Hall, no bairro de Santo Amaro, existe há doze anos; enquanto o HSBC Brasil, na Chácara Santo Antônio, é o mais novo, com sete anos de existência. A casa localizada no número 213 da alameda dos Jamaris, em Moema, marcou diferentes gerações da cidade de São Paulo.