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Cidade que viveu o pesadelo do Katrina pôde desfrutar da banda que foi o sonho americano

No New Orleans Jazz & Heritage, a formação da banda contou com Brian Wilson e Mike Love: a alma e a cara dos Beach Boys

Por Sérgio Martins Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 29 abr 2012, 12h15

“Eles eram a América quando o mundo queria ser a América” prega o músico e ator John Stamos, momentos antes do concerto dos Beach Boys no festival New Orleans Jazz & Heritage, realizado na cidade mais musical dos Estados Unidos. Poucos artistas representaram tão bem os ideais de sonhos americanos como os Beach Boys – suas letras sobre a onda perfeita, meninas lindas tostando sob o sol da Califórnia, os carrões possantes; os riffs de guitarra calcados em Chuck Berry e na surf music (gênero onde eles foram os nomes mais bem-sucedidos). E quando este sonho foi abalado pela morte do presidente John Kennedy e pelos horrores da Guerra do Vietnã, os Beach Boys foram talentosos o suficiente para falar sobre amadurecimento, casamento e vida a dois, o que rendeu pelo menos uma obra incontestável: o disco Pet Sounds, de 1966. Hoje senhores, os Beach Boys estão completando 50 anos de atividade com uma turnê e um novo disco, que sai até o fim de 2012.

Não deve ter sido uma tarefa fácil reunir esses senhores no mesmo palco. Havia pelo menos três versões dos Beach Boys rodando o mundo. A mais fiel trazia Mike Love, único remanescente da formação original, e Bruce Johnston, que entrou no grupo depois que Brian Wilson, seu principal compositor, teve um colapso nervoso dentro de um avião (Johnston fazia as turnês, Wilson trabalhava em estúdio). A segunda era de Brian Wilson e seu espetacular grupo de apoio, The Wondermints. Eles recriavam, com perfeição de dar nó na cabeça de engenheiro japonês, discos clássicos como Pet Sounds e Smile. Os Wondermints também trabalharam em dois ótimos projetos solo de Wilson: um disco com obras de George Gershwin e outro com temas de desenhos de Walt Disney. A última encarnação dos Beach Boys tinha o epíteto Family & Friends e era liderada por Al Jardine, guitarrista e cantor do grupo, ao lado das filhas de Brian Wilson. Tudo foi dividido salomonicamente: os Beach Boys (que ainda trouxeram Dave Marks, que tocou nos principais discos do grupo), são ladeados por músicos de Wilson e de Love e cada um tem seu momento de brilho.

A apresentação no New Orleans Jazz & Heritage não foi muito diferente das que eles farão em shows regulares. São divididas por temas, como músicas sobre surfe, músicas sobre carro, Pet Sounds e Smile – seus discos “sérios” mais conhecidos – e hits radiofônicos como Kokomo, que embalou os namoricos de Tom Cruise em Coquetel. Mas há surpresas, como a inclusão de Sail On, Sailor, canção de Holland, disco que os Beach Boys lançaram em 1973 e trazia influências do rock daquela época.

Brian Wilson e Mike Love são, de fato, a alma e a cara dos Beach Boys. Wilson é aquele garotão tímido, de sorriso sincero e desprotegido, aquele que as meninas queriam levar para casa e embalar. E Mike Love era o canalha boa pinta, com que as meninas saíam depois de embalar Wilson e colocá-lo para dormir. Em Nova Orleans, Brian, depois de anos de abuso de drogas e de uma melancolia que mais tarde foi diagnosticada como transtorno bipolar, muitas vezes foi uma figura decorativa. Ele parece desligado, não lembra das letras (e chegou a balbuciar um fraseado qualquer quando o sol bateu direto nos seus olhos, impedindo-o de ler o que estava escrito no teleprompter) e não esboça reação. Mas nos poucos momentos que acorda – na já citada Sail on, Sailor – mostra a classe que encantou nomes como Paul McCartney. Love, por sua vez, virou um senhor babão.

Manda beijinhos para as meninas, dança com moças da plateia e as vezes comete piadas grosseiras. “Vamos agora cantar uma música de 1963, ano em que John nasceu”, diz, olhando para John Stamos, que vai tocar bateria na tal canção. “Foi o ano em que me diverti como nunca com sua mãe!” Mais grosso do que isso, só se estivesse no elenco do Zorra Total. Grosserias à parte, foi um espetáculo competente. Repleto de hits, momentos emocionantes (a plateia cantando Good Vibrations, por exemplo) e uma música nova, a bela That’s Why God Made the Radio, e Nova Orleans, que viveu o pior pesadelo americano com o Katrina, pôde desfrutar da banda que foi o sonho americano.

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