Ben Affleck inova (e exagera) com herói autista em ‘O Contador’
Personagem vai de interessante gênio da matemática até fortão que daria medo ao Rambo
Parte do espectro do autismo, a Síndrome de Asperger é apontada como uma estranha responsável pela genialidade de alguns de seus portadores. Em O Contador, que chega aos cinemas nesta quinta-feira, nomes como Isaac Newton e Lewis Carroll são exemplos famosos que, acredita-se, sofriam com a doença. No filme, Christian Wolff, personagem de Ben Affleck, reforça a lista de gênios que possuem o distúrbio, mas extrapola ao beirar a força e agilidade de um super-herói — ou de um Rambo.
Apesar do exagero, a produção segue um ritmo interessante de narrativa, enquanto constrói um intrincado quebra-cabeça em que quatro histórias se afetam.
A trama começa com uma elaborada sequência de um assassinato em série. A câmera segue uma mão armada, testemunha de quase uma dezena de mortes provocadas por apenas um homem. Sem revelar identidades da violenta cena, o filme pula para o passado, em 1989, quando um casal escuta conselhos de um especialista em doenças mentais. No outro cômodo, um jovem Christian (interpretado por Seth Lee) se move para frente e para trás enquanto tenta completar um quebra-cabeça. O pai do menino (Robert C. Treveiler) desaprova o tratamento da casa de recuperação zen. Para ele, um militar veterano, o garoto precisa aprender a viver no mundo real. O homem então educa o filho com rigor, ensina diferentes lutas e a arte de usar uma arma.
A edição traz o espectador de volta para o tempo atual para apresentar o personagem do ótimo J.K. Simmons, um agente que chantageia uma jovem analista (Cynthia Addai-Robinson). Ele exige que ela descubra quem é o contador, um indivíduo de terno que aparece em diversas fotos ao lado de perigosos chefes de organizações criminosas do mundo. Acredita-se que o misterioso homem seja o responsável pela lavagem de dinheiro e contabilidade de tais grupos.
Só depois da longa introdução, Affleck aparece pela primeira vez, oficialmente, bem vestido e com feições robóticas, fazendo a contabilidade de um casal de idosos de uma pequena cidade. Por fim, o vilão Brax (Jon Bernthal) surge charmoso e armado para criar a quarta linha da história.
As tramas se desenvolvem paralelamente e passam a se conectar quando entra na história Anna Kendrick. A atriz dá vida a uma divertida e brilhante jovem que faz parte da contabilidade de uma grande empresa de robótica. Ela encontra um desvio de dinheiro, Wollf é chamado para encontrar o vazamento.
Affleck é admirável na pele do homem que luta contra os sintomas da doença. E surpreende quando revela suas camadas, entre elas a genialidade para a matemática e uma inacreditável força física. Alguns momentos são risíveis, outros são genuinamente divertidos ou intensos.
Pena que no final, o diretor Gavin O’Connor mastiga com detalhes a resolução da trama, sem deixar uma margem de imaginação ao espectador. Lição que Hollywood teima em não aprender.