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“As mídias sociais são entorpecentes”, proclama psicóloga do TikTok

Fenômeno na rede de vídeos, Julie Smith lança livro 'Por que ninguém me disse isso antes?' para tornar conhecimento terapêutico mais acessível

Por Gabriela Caputo 22 dez 2022, 09h00

Em contínua ascensão, o TikTok vem se provando um terreno fértil para o surgimento de conteúdos enciclopédicos — e por vezes suspeitos. Há quem utilize o aplicativo como um “novo Google”, e chega-se ao ponto de tentar fazer até mesmo terapia através dos famigerados clipes verticais. Nesse espaço, a psicóloga clínica Julie Smith encontrou oportunidade para puxar um banquinho e falar sobre saúde mental, e já ultrapassa 4 milhões de seguidores. Pioneira do nicho no aplicativo, a britânica responde aos anseios de um público diverso, mas no qual predomina a impaciente geração Z, com vídeos lúdicos, coloridos e mais informais. Com a mesma premissa, escreveu Por que Ninguém me Disse Isso Antes?, manual de autoajuda publicado no Brasil pela Sextante

Seu objetivo declarado é disseminar conhecimento educativo e tornar o cuidado emocional mais acessível para os que não têm acesso à terapia com um profissional — uma ideia que não está livre de polêmica, já que palavras de aconselhamento, ainda mais lançadas no ambiente superficial das redes sociais, não substituem a atuação do terapeuta clínico em muitos casos. Ainda assim, segundo Julie, que ganhou o apelido de “psicóloga do TikTok”, a intenção era ficar longe de qualquer tipo de diagnóstico, e fornecer ferramentas mentais para o cotidiano. Confira a entrevista concedida pela autora a VEJA:

No TikTok, o nicho de conteúdos sobre saúde mental se tornou muito popular. Como discernir quando vídeos e livros de autoajuda podem ser o suficiente do momento em que se deve buscar ajuda profissional? Os dois não são mutuamente exclusivos. Você sempre pode se educar e usar exercícios de auto-reflexão, esteja em terapia ou não. As pessoas pensam que devem preencher os critérios para algum transtorno psicológico antes de procurar ajuda. Eu diria que a hora certa é a qualquer momento em que tiver acesso e sentir que não está em sua melhor forma, e que um pouco de apoio pode gerar uma mudança positiva.

Muitos dos mecanismos ensinados em seu livro têm a ver com processar as emoções a partir da autorreflexão. Ficou mais difícil realizar esse processo interno na era das redes sociais? Sim, as mídias sociais são um tipo de dispositivo entorpecente. Você pode se convencer de que está fazendo algo que gosta, quando talvez esteja apenas bloqueando alguns sentimentos difíceis de sua realidade. E especialmente quando passamos pela experiência de perder várias horas rolando pelo feed de postagens sem pensar, é porque nosso sistema de dopamina foi sequestrado e estamos só seguindo o movimento. Temos de estar realmente cientes de como essas plataformas são viciantes.

Quais são os cuidados que se deve ter em mente para não cair em conteúdos falsos ou imprecisos sobre saúde mental? É uma pergunta para as plataformas de mídia social. Não acho que nenhum de nós, individualmente, tenha controle sobre o que está sendo publicado, para além daquilo que nós mesmos postamos. O que faço é me manter vigilante com a qualidade do meu próprio conteúdo; só lançarei um vídeo se souber que posso defender o que disse, que de fato acredito naquilo e sinto que pode ser útil. Assim, posso aumentar as chances de que alguém em situação vulnerável encontre meu trabalho.

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O acesso a especialistas de saúde mental ainda é restrito. Como seus vídeos contribuem para mudar esse cenário? Os vídeos provavelmente não são o suficiente, mas minha vontade era que esse material educacional oferecido na terapia também ajudasse, fora dela, na construção da autoconsciência e da confiança de gerenciar a própria saúde mental no dia a dia. Por que as pessoas têm de pagar psicólogos para isso? Não posso dar terapia para todos, mas posso disseminar esse conhecimento baseado em evidências.

Há materiais no TikTok que propõem diagnosticar transtornos, como o TDAH, e que vem sendo questionados. Você se preocupa com esse tipo de publicação? Sim e não. As pessoas fazem autodiagnósticos o tempo todo através do Google. É como quando você tem um conjunto de sintomas físicos e todo mundo diz para não pesquisar, porque pode te deixar impressionado com o pior cenário possível. Isso pode criar um pouco de ansiedade, mas ao menos faz com que você vá ao médico mais rápido para uma avaliação. Se alguém consome vídeos na linha “cinco sinais de depressão”, e isso a incentiva a buscar um profissional, ótimo. O risco seria se fossem capazes de se auto receitar, o que não é possível.

Você fala muito sobre as semelhanças entre o cuidado com a saúde mental e a física. Ao longo do tempo, houve muita discriminação em falar sobre saúde mental, como se fosse diferente da física. Experimentar uma flutuação emocional não significa que você perdeu o contato com a realidade, ou que você é perigoso, ou todas essas mentiras que nos contaram. Significa apenas que está passando por um momento difícil, e que é perspicaz o suficiente para buscar a recuperação. Percebi que quando as pessoas encontram benefícios na terapia, mal podem esperar para recomendar para amigos e familiares. Nunca pensei que minha clínica particular seria alimentada pelo boca-a-boca, mas foi isso que aconteceu. Estamos indo na direção certa.

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