Animados para o Oscar
Curta que vencer a nova edição do festival Anima Mundi entrará para a lista dos que podem concorrer à estatueta
Há alguns anos, o brasileiro Carlos Saldanha conseguiu um lugar ao sol como diretor de animações em Hollywood. Após colocar seu nome nas três primeiras partes da franquia A Era do Gelo, Saldanha se tornou um dos nomes mais conhecidos não somente entre os brasileiros da área, mas também entre os que fazem cinema de animação no mundo. Ele ainda é exceção, mas, no que depender da nova safra nacional de animadores, em breve deve ser apenas o pioneiro de uma invasão verde-amarela nesse segmento do cinema. Em conversa com o site de VEJA, alguns dos novos nomes mostram que, depois de anos de injeções de capital por meio de incentivos públicos e privados, a animação vive um ótimo momento no Brasil.
Iniciada na última sexta no Rio de Janeiro, a edição 2012 do Anima Mundi, criado na mesma cidade em 1993, tem uma grande novidade. Desta vez, e deve ser assim nas próximas, quem vencer a principal mostra competitiva de curtas do festival entra para uma lista de possíveis concorrentes ao Oscar. Um dos organizadores do evento, Marcos Magalhães, acredita que o bom momento desse mercado se deve ao amadurecimento dos animadores brasileiros e à sua capacidade de fechar contratos de coprodução com outros países. “Hoje, o Brasil não fornece só mão-de-obra para animações, como faz a China, por exemplo. A maioria dos profissionais que exportamos é feita de diretores, desenhistas e até roteiristas.”
Segundo ele, a iniciativa de o Anima Mundi indicar animações brasileiras ao Oscar partiu do produtor americano Ron Diamond, frequentador assíduo do festival e um dos palestrantes desta edição. “Ele nos indicou e tivemos de passar por um processo seletivo, em que eles avaliaram o histórico do evento e as premiações já concedidas por ele”, conta Magalhães.
No fim do ano passado, a Secretaria do Audiovisual fez um edital para escolher 25 projetos que irão receber, cada um, até 100.000 reais. A previsão é de que nos próximos anos o Ministério da Cultura forneça ainda mais incentivos para esse tipo de produção. Segundo a secretária do Audiovisual, Ana Paula Dourado Santana, o Minc estuda lançar um edital para o desenvolvimento de conteúdos infantis, que também incluiria animação.
Se os organizadores do Anima Mundi comemoram a honra, os animadores, então, estão em festa. “Graças a esses incentivos públicos e privados, hoje produzimos mais”, diz Guto Bozzetti, do estúdio Cartunaria, que concorre no Anima Mundi com o curta O Guitarrista no Telhado, produzido com verba do projeto Histórias Curtas, promovido pela rede RBS, afiliada da TV Globo no Rio Grande do Sul.
O cartunista Rogério Vilela (de Mentiras São Contadas em Julho) sabe bem como é trabalhar sem os incentivos. Há 10 anos, ele criou o site Mundo Canibal. “Não quis esperar verbas do governo ou espaço na programação da televisão para mostrar nosso trabalho. Hoje, temos mais de 7 milhões de visitantes por mês, então, acho que fizemos uma escolha acertada”, gaba-se. “Quando comecei, há mais de 10 anos, era muito difícil conseguir trabalhos. Hoje em dia, é comum faltar mão-de-obra”, garante Thomas Larson, mais conhecido como Thomate, que dirigiu o curta O Grande Evento.
Mas quem não quer ganhar Oscar? “Todos os diretores estão sonhando com essa possibilidade”, diz Tiago Americo, que dirigiu O Acaso e a Borboleta ao lado de Fernanda Correa.