Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

‘A abolição do biquíni não vai mudar as coisas tão cedo’, diz Miss Mundo Brasil

Eleita representante brasileira para o concurso Miss Mundo, Julia Gama comenta a decisão da organização de eliminar o tradicional desfile de biquíni e afirma que a diversidade nas competições de beleza está a caminho, mas a passos lentos

Por Meire Kusumoto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 26 dez 2014, 10h24

Em uma decisão histórica, o Miss Mundo, criado em 1951, em Londres, como um concurso de biquíni, abandonou suas origens e aboliu o traje de banho a partir de 2015. Na última sexta-feira, o Miss Mundo Brasil, etapa nacional da competição, seguiu a mudança. Campeã da última disputa brasileira e representante do país na edição deste ano do torneio mundial, realizada no último dia 14, quando ficou entre as sete finalistas, a gaúcha Julia Gama diz ver a mudança com bons olhos, mas não acredita que ela resultará em uma invasão repentina das passarelas por gordinhas. “O padrão de modelo não vai mudar drasticamente. Mas acho que estamos tentando chegar a um equilíbrio”, diz em entrevista ao site de VEJA.

Julia defende que o concurso tem um objetivo mais nobre que o de eleger uma mulher pela beleza. Além de desfilar com traje de gala e apresentar a modalidade esportiva que dominam, as candidatas a Miss Mundo devem se preparar para uma entrevista com os jurados e montar um projeto social para ser desenvolvido em seu país de origem. A gaúcha de 21 anos, por exemplo, abraçou a luta contra a hanseníase. “Vou continuar tocando o projeto, mas quero me dedicar a outros trabalhos, também”, diz.

Claro que essa nobreza toda traz frutos financeiros. Apenas três meses após sua coroação como Miss Mundo Brasil, em agosto, Julia já havia assinado quatro contratos publicitários, com marcas de roupas e cosméticos. No primeiro semestre de 2015, ela deve seguir a agenda imposta pelos patrocinadores, mas, a partir do meio do ano, pretende voltar a ser a nerd que sempre foi: quer retomar o curso de Engenharia Química na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). E já faz planos de uma segunda graduação em Relações Internacionais, inspirada na experiência como Miss. “Valorizo a engenharia, que me ensinou a ter objetividade e racionalidade para a solução de problemas, mas eu me encontrei no concurso. Me vejo hoje como diplomata.”

O Miss Mundo nasceu como um concurso de biquíni e até 1975 a vencedora era coroada em traje de banho. A alteração que aconteceu agora não vai contra um princípio básico do concurso? De forma alguma. Já em 1972, a CEO da Miss World Organization, Julia Morley, criou o Beauty with a Purpose (Beleza com Propósito), entidade que arrecada fundos para projetos humanitários. Esse se tornou o principal objetivo do concurso, fazer com que misses do mundo inteiro desenvolvessem projetos sociais em seus países e inspirassem outras pessoas a fazer o mesmo. Eu, inclusive, coloco o Miss Mundo em uma categoria à parte dos concursos de beleza. É só ver a pontuação das provas: a entrevista e o projeto social valem muito mais do que o desfile. A Miss Mundo se torna uma embaixadora mundial que dissemina princípios e valores e trabalha um ano inteiro em prol de causas sociais. E no concurso deste ano as meninas tinham todos os tipos de beleza, algumas não eram tão altas ou magras, e todos os tipos de cabelo. O importante é aceitar as diferenças e valorizar a diversidade.

Se desde o começo da década de 1970 o concurso tem um perfil diferente, por que demorou tanto para que ele eliminasse a prova do biquíni? O concurso valoriza a harmonia. Claro que a miss tem que ser bonita, mas isso é usado como instrumento para cativar as pessoas, para abrir as portas para outras coisas. E acho que o fato de o concurso ter sido realizado na Indonésia no ano passado pesou na decisão. Os asiáticos são um povo mais conservador, eles participam, são fortíssimos na competição, mas não faz parte da realidade deles essa exposição toda. A Julia Morley deve ter percebido isso e decidido contemplar essas meninas, que não precisam ir contra as suas tradições e princípios para participar do concurso.

Continua após a publicidade

Como você se sente sendo a última Miss Mundo Brasil a ter passado pelo desfile de biquíni? Na verdade, neste ano essa prova já foi um pouco diferente. Os jurados não escolheram os corpos mais esculturais. Eu não me classifiquei no top 10, mas achei a iniciativa saudável.

Não acha que a prova vai fazer falta? Não. Como candidatas, não gostamos de ser julgadas. As pessoas apontam se você tem celulite, como se isso definisse quem você é.

E a indústria do biquíni, não pode ser penalizada por isso? Não, acho que até que ela pode ser beneficiada, já que as mulheres não vão ver corpos perfeitos usando biquínis. Elas vão perceber que todas podem usar biquíni.

A indústria da plástica também deve sentir a queda na demanda por modificações no corpo. De que maneira você vê isso? Acho positivo. Ícones de beleza estereotipados impõem padrões muitas vezes inalcançáveis e fazem com que as pessoas fiquem com baixa autoestima. Mas a medicina existe para fazer a nossa vida melhor, sou a favor das operações feitas com equilíbrio.

Continua após a publicidade

Você acha que, com essa mudança, misses mais gordinhas vão aparecer? Sim, mas o padrão magro de modelo não vai mudar drasticamente tão cedo. Acho que estamos tentando chegar a um equilíbrio. A própria Miss Mundo deste ano já não é extremamente magra, esquálida. Ela é linda, mas é uma mulher normal, com quadris largos. É possível que a gente regresse para aquele padrão de antigamente, de miss que tem um corpão.

Por que a magreza é tão valorizada? Já tive vários tipos de corpo, agora estou mais magra por causa do concurso. A receptividade do público antes era muito legal antes, mas eu não tinha tantos contratos publicitários. O mercado da moda acabou estabelecendo a magreza, porque a roupa cai melhor em corpos mais magros.

Na sua opinião, que prova deve ser colocada no lugar do desfile de biquíni? O concurso já é muito amplo e com diversos testes, mas acho que está faltando um de conhecimentos gerais, para resgatar a ideia da miss com conteúdo, que está ligada no que acontece no mundo.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.