Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Por que o metro quadrado de Balneário Camboriú é o mais caro do Brasil

E o fenômeno tende a crescer

Por Luiz Paulo Souza Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 27 ago 2023, 08h00

Dias antes de desembarcar com toda a pompa e circunstância em Riad, na Arábia Saudita, contratado pelo Al-Hilal para um contrato de pornográficos 850 milhões de reais por ano, Neymar recebeu no Brasil um outro mimo milionário — as chaves de um apartamento quadrúplex em Balneário Camboriú, joia da coroa de Santa Catarina. O valor estimado da brincadeira: 60 milhões de reais, alcançados por um elevador que chega a rapidíssimos 21 quilômetros por hora. O prédio de duas torres, o Yachthouse, tem 81 andares, 281 metros, e vista para a Praia Central. É o segundo maior edifício da orla balneocamboriuense, pedaço do Brasil que ganhou notoriedade em virtude do preço do metro quadrado, recordista. E não por acaso o brasileiro que faz mais barulho fora de campo do que nos gramados decidiu encostar por ali nas férias.

O ranking FipeZAP+, elaborado para acompanhar o mercado de imóveis no país, mostra que, entre cinquenta cidades avaliadas, o metro quadro de Camboriú é o mais caro, de 12 335 reais. Em segundo lugar desponta uma cidade vizinha, Itapema. Logo em seguida vem Vitória, no Espírito Santo, São Paulo e Florianópolis (veja no quadro). A surpresa tem explicação. “Camboriú é uma cidade eminentemente turística, com empreendimentos mais novos que o de grandes capitais e leis que autorizam a construção de arranha-céus”, diz Luiz Antonio França, presidente da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc). Como o fetiche por altura parece interessar muita gente, porque o meu é maior do que o seu, deu-se a valorização.

Os andares a mais, contudo, carregam um problema, cuja locomotiva é o maiorzão de todos, o One Tower, de absurdos 290 metros de altura, onde a família de Cristiano Ronaldo tem apartamentos. No início da tarde, por força da natureza, os prediões — os seis maiores do Brasil estão naquela franja — lançam sombra sobre o Atlântico. Em 2021, a prefeitura tentou dar um jeito na situação, alargando a faixa de areia da Praia Central de 25 para 180 metros em alguns trechos. A obra custou 66,8 milhões de reais, mas não resolveu completamente o problema. Afinal, o mar insiste em retomar o espaço que sempre foi seu. E daí? O incômodo, real, não atrapalha os planos de quem pode pagar para além do horizonte. Desde 2018, a valorização das moradas foi 82%. Só no último ano, a alta acumulada chegou a 21%, ante tímidos 5,6% no restante do Brasil.

A tendência é que o preço continue subindo. Cidades litorâneas tem um espaço físico limitado e, certamente, existem mais pessoas querendo morar nelas do que a quantidade de imóveis disponíveis, o que faz com que o preço aumente. “As médias mais altas do que a de cidades como São Paulo e Rio de Janeiro também se devem à menor desigualdade nessas cidades, o que é reforçado à medida que pessoas com maior poder aquisitivo se estabelecem, empurrando o custo de vida e restringindo o acesso dos menos abastados”, diz o economista Alison Pablo de Oliveira, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) e coordenador do índice imobiliário. Somem-se ainda o cuidado com a segurança nas ruas e avenidas e o bom índice de desenvolvimento humano.

Continua após a publicidade
SOMBRAS - O sol encoberto na orla catarinense: problema atávico da cidade
SOMBRAS - O sol encoberto na orla catarinense: problema atávico da cidade (iStockphoto/Getty Images)

Há quem goste de Camboriú, apesar do crescimento, há quem desgoste e prefira porções de litoral menos urbanas. Tudo bem. Mas parece brotar um fato incontestável, segundo os especialistas: como os preços brasileiros ainda são baixos na comparação com o resto do mundo, espe­ram-se ainda mais compras e, portanto, valorização. É o que acontecerá quando a economia estiver mais robusta, sem os solavancos esquentados pela política. E, então, Camboriú subirá ainda mais. É hora de investir, portanto. Hora também de ter um cantinho catarinense, apesar das faixas de sol encoberto. E resta torcer para não dar o azar, assim chamemos, de ter um apartamento vizinho ao de Neymar, que gosta de festa e barulho.

Publicado em VEJA de 25 de agosto de 2023, edição nº 2856

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.