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‘Não tenho problemas em envelhecer’, diz Lucinha Lins

Aos 70 anos de idade, e mais de 50 de carreira, atriz reflete sobre cobranças, o retorno aos palcos e a vida pessoal

Por Marília Monitchele Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 3 Maio 2023, 10h14

Lucinha Lins está realizada. Aos 70 anos, 50 dos quais atuando na TV, no teatro e no cinema, a atriz carioca volta aos palcos em São Paulo com a peça “As Meninas Velhas”, que ficará em cartaz por dois meses no Teatro Fernando Torres. O espetáculo conta a história de quatro amigas com mais de 60 anos que seguem vivendo a vida apaixonadamente. Além disso, em breve também deve estar de volta aos cinemas.

Em entrevista a VEJA, a atriz reflete sobre o processo de envelhecer e fazer as pazes com a idade, sobre etarismo e sobre o espaço do trabalho em sua vida. “Eu me sinto tão bacana, tão em paz. Sinto que [tudo] é tão possível”, diz. 

Como é envelhecer sob os holofotes?

Antes de mais nada, eu sou uma pessoa como outra qualquer, que também vai envelhecer. Tenho 70 anos. Vou ficar uma velhinha bonitinha, pelo que eu aparento [risos]. Faço parte do normal, antes de mais nada. Sei que a minha capacidade de sedução com o envelhecer diminui, naturalmente. Não posso mais fazer a mocinha da novela, não posso mais uma porção de coisas. Por uma questão de aparência física. Mas não morri. Ainda existo, estou no teatro, estou trabalhando, tenho planos, tenho sonhos, tenho desejos, tenho tudo que qualquer pessoa tem. O fato de estar mais velha, é claro que muda minhas possibilidades. Mas eu não estou impedida de fazer nada que tenha vontade de fazer e me sinta adequada para tal. 

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Qual o impacto do etarismo na sua vida? Você se sente cobrada em algum aspecto?

Pessoas públicas, sobretudo artistas como eu, são muito cobradas. De vez em quando, alguém diz coisas como: “Fulana era tão bonita. Na juventude era isso, era aquilo“. Isso é, em certa medida, normal. A lembrança que fica para as pessoas, a gente não tem como controlar. Elas vão se lembrar de determinados momentos da minha vida, e quando me veem mais velha, é aquela lembrança que vem primeiro.  É como se a pessoa que é conhecida não pudesse envelhecer. É engraçado o que se passa na cabeça das pessoas, elas meio que pararam no tempo, na lembrança de algum personagem, de alguma coisa que ela viu. Mas eu não me sinto cobrada pela juventude. 

Você acha que superou essa obsessão coletiva pela juventude eterna?

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A juventude é linda, antes de mais nada. Tenho ótimas lembranças da minha, o que me deixa feliz. Mas não tenho problemas em envelhecer. Às vezes é bem chato. Mas quando a gente é jovem também tem problemas muitos chatos na vida. Então, é um dia de cada vez. Envelhecer é simplesmente incontrolável. 

Você não sente nenhum tipo de pressão estética ao estar na sua idade?

Se isso existe, eu não posso fazer nada a respeito. Provavelmente soltam frases do tipo: “Ela era tão bonita” ou “Ela tinha um corpão”.  Vou ouvir isso em algum momento, como já devo ter ouvido antes. Mas isso para mim não tem muita importância. 

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O que podemos esperar do seu trabalho?

O bacana é que tenho 70 anos e continuo no teatro, continuo trabalhando. Estou fazendo um espetáculo chamado “As Meninas Velhas”. Também acabei de fazer um filme maravilhoso, que daqui a pouco vai estrear, chamado “Perdidas”. Tem ainda um outro filme, que ainda não posso comentar, mas que deve estrear no segundo semestre. Acabou a pandemia e estou viva. Voltei a viver do meu trabalho, da minha profissão, do que sei e do que aprendi a fazer na minha vida, e ainda tenho muito o que aprender. 

A sua peça tem um enredo que traz a história de mulheres maduras. 

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Foi uma grande surpresa desde que estreamos, porque acreditamos que a plateia que iria nos ver seria composta por pessoas mais velhas. Porque é esse o público que frequenta teatros. Mas o público tem desde os 15 até os 80 anos. E a reação é igual. Turmas de 20 e poucos anos se identificam com aquelas mulheres tão mais velhas, no palco, contando suas histórias e seus momentos. Nós não contamos uma história individual na peça. Somos quatro mulheres, amigas, já aposentadas, na faixa dos 60 e poucos anos, e envelhecendo. E a história vai ganhando camadas à medida que elas envelhecem. Elas não vivem do passado, vivem do presente e tem um futuro pela frente. O passado traz boas lembranças, mas não dita as regras. 

Como tem sido a recepção dessas mulheres no teatro? 

Naturalmente, encontramos mulheres da nossa idade ou bem mais velhas que voltam ao espetáculo levando as amigas. E não só as mulheres, os homens também se identificam de alguma forma com o que a gente está fazendo no palco. Nós temos tido surpresas incríveis. É muito gostoso estar fazendo um trabalho que as pessoas saem tocadas, emocionadas e felizes e se identificam de alguma forma. Nós queremos captar recursos, porque queremos viajar pelo Brasil, e já se fala em ir para Portugal. 

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Você se identifica com esse enredo?

Eu penso muito assim também. O velho de hoje é muito diferente do meu avô, dos velhos do passado. O velho de hoje surfa na praia com os netos, ele aprende a andar de skate. Não são mais aquelas pessoas sem perspectivas, que aposentam e ficam em casa, vão para a praça jogar dominó, cuidam dos netos… Quando eu era mais nova eu achava que aos 40 anos já se estava velha. Aos 40 anos eu era uma gata, eu fui capa de revista. Agora eu tenho 70, claro que sou uma “senhora”, as pessoas me tratam assim. Eu vou continuar sendo senhora e vou morrer senhora. Vou fazer o que? Tenho 70 anos [risos]. 

O que diria sobre envelhecer?

Não tenha dúvidas de que a lei natural das coisas vai acontecer para todos. Tomara que todos nós tenhamos a possibilidade de enxergar isso com bons olhos. É difícil envelhecer, é complicado. A pele mudou, a essência mudou. Nossa cabeça permanece nos 30 anos, mas o corpo não. Até bem pouco tempo eu subia em árvores, agora não vou subir mais não [risos]. Eu tenho outros tipos de insegurança e tenho que me respeitar. Mas me sinto ainda tão bacana, tão em paz. É tão possível, independente da sua idade, realizar coisas. Que é o que interessa!

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