Na Itália, uma polêmica que precisa terminar em pizza
Empresário e pizzaiolo debatem a qualidade e o preço do prato popular que, segundo se acredita, começou em Nápoles
Na versão histórica mais aceita, a pizza como a conhecemos hoje foi criada em Nápoles, na Itália, entre os séculos XVIII e XIX. Em suas primeiras versões, a massa em disco era colocada no forno condimentada com banha, sal grosso e alho, além de queijo, óleo de oliva e ervas finas – o basílico se destacava. Comida de fácil realização e muito barata, logo se tornou popular e levou ao aparecimento das pizzarias. Considerada pela Unesco um patrimônio da humanidade, é consumida no mundo inteiro, especialmente em São Paulo, a cidade brasileira que mais come essa iguaria no país. Há para todos os gostos e bolsos, e esse parece ter sido o pomo da discórdia entre o empresário Flavio Briatore e o chef napolitano Gino Sorbillo, no centro de uma polêmica que ganhou os jornais, as redes sociais e atravessou as fronteiras italianas.
Briatore não é estranho a controvérsias: em 2009, ele foi banido da Fórmula 1 por manipular o resultado do Grade Prêmio de Singapura – depois, a pena foi revertida e ele voltou a frequentar os autódromos. Na semana passada, o ex-chefe das equipes da Benetton e da Renault e hoje dono da rede de pizzarias Crazy Pizza, publicou um vídeo na sua conta de Instagram no qual respondia a críticas dos internautas às pizzas de seus restaurantes, que podem atingir até 65 euros, ou mais de 350 reais, como é o caso de uma que vem com cobertura de presunto Pata Negra. Ao mesmo tempo, atacava as tradicionais margheritas napolitanas, cotadas em 5 euros, ou 30 reais, nos restaurantes populares do sul. “Como vendem uma pizza por 4 e 5 euros?”, questiona Briatore. “O que colocam nessas pizzas? Se você tem que pagar salários, impostos, contas e aluguéis, fica muito difícil: ou você vende 50 mil pizzas por dia ou é impossível. Há algo que me escapa.”
Sorbillo, famoso por comandar uma pizzaria muito popular no centro histórico de Nápoles, respondeu oferecendo pizza de graça e descontos generosos para quem se sentasse à mesa. “Você (Briatore) diz que se a pizza é barata não é boa? Aqui, fazemos assim e os ingredientes são estes: prove e me diga o que achou”, falou o chef napolitano a um grupo de jornalistas, fotógrafos e clientes. “É uma controvérsia estúpida”, continua Sorbillo. “A pizza nasceu como um prato popular e deve continuar a sê-lo. Gostamos de trabalhar com as pessoas e agradar a todos, crianças, desempregados, profissionais e aposentados. Na frente de uma pizza são todos iguais e todos devem poder comprá-la”.
O chef Sergio Miccu, presidente da associação de pizzaiolos napolitanos, também revidou, acusando Briatore de trair a herança humilde da pizza. “A pizza alimentou gerações inteiras, superando… guerra e cólera”, disse ele em um comunicado. Mas Sorbillo, o mestre da pizza napolitana, propõe uma solução que certamente vai terminar em… pizza. A fim de encerrar a polêmica, ele usou os microfones de uma rádio italiana para convidar Briatore para uma noite “a quatro mãos” entre a sua equipe de pizzaiolos e a do empresário para “fazer com que os clientes do empresário (na Crazy Pizza), habituados às pizzas gourmet, também conheçam a típica pizza napolitana”. Até onde se sabe, eles ainda não se falaram.