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Estudo traça antiga rota de temperos e descobre produção milenar de curry

O tempero tradicional sintetiza influências diversas e evidencia a importância da Ásia no comércio de especiarias

Por Marília Monitchele Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 21 jul 2023, 15h55 - Publicado em 21 jul 2023, 15h00

A luta contra comidas insossas ajudou a transformar boa parte do mundo. Foi a busca por temperos e especiarias que resultou em zonas de comércio multinacionais e uma série de consequências que são discutidas até hoje, como a colonização e a escravidão, por exemplo. Agora, um novo estudo publicado na revista científica Science Advances ajuda a lançar luz sobre esse complexo universo no Sudeste Asiático.

A pesquisa sugere que o curry, tempero tradicional na região, comum nas cozinhas da Índia, Tailândia, Vietnã, Indonésia e outras, foi introduzido na Ásia há cerca de 2.000 anos, período em que o local desempenhava um papel fundamental no comércio local de especiarias, refletindo uma miríade de influências. 

O trabalho coletivo feito por arqueólogos chineses, vietnamitas e australianos analisou restos de plantas presentes em moedores de pedra encontrados no sul do Vietnã detectando traços de especiarias que compõem a receita tradicional do curry. “Foi surpreendente testemunhar o aroma liberado pelas sementes de noz-moscada de quase 2.000 anos que escavamos”, diz Hsiao-chun Hung, professor de Arqueologia e História Natural da Universidade Nacional da Austrália e um dos autores do estudo. “Quase podíamos visualizar e sentir o cheiro do cenário da preparação para a produção”. 

O sul da Ásia foi uma região central no comércio de especiarias entre os continentes asiático e europeu por mais de 4.000 anos, sendo fonte de temperos como noz-moscada, cravo, canela, pimenta preta e muitas outras variedades que vieram de locais diversos para o sul do Vietnã. Acredita-se que a região tenha desempenhado um importante papel no comércio marítimo entre os séculos 65 e 580 d.C., servindo de porto intermediário entre países do sul do continente e a China. 

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“O estudo confirma, pela primeira vez, a importância das especiarias como mercadorias comerciais, conforme mencionado em documentos antigos da Índia, China, Roma e outros registros escritos na época”, afirma Hung. “Antes deste trabalho, já sabíamos que muitos bens preciosos eram comercializados de lugares distantes, abrangendo milhares de quilômetros”, complementa Khanh Trung Kien Nguyn, do Centro de Arqueologia do Instituto de Ciências Sociais do Vietnã e coautor do estudo. “No entanto, esta pesquisa contribui significativamente para nossa compreensão mais ampla da translocação de longa distância de culturas alimentares específicas no mundo pré-histórico”.

Apesar disso, ainda não estava claro como e se essas especiarias poderiam ter sido usadas na culinária tradicional do Sudeste Asiático neste período. Durante as pesquisas, a equipe de arqueólogos analisou ferramentas, como pedras de moagem, pilões e almofarizes, que podem ter servido de utensílio para a preparação do curry. Além disso, eles identificaram restos de arroz e especiarias com origens rastreadas principalmente no sul da Ásia e na Indonésia, incluindo açafrão, gengibre, galanga, cravo, noz-moscada e canela. 

Essas descobertas representam algumas das evidências mais antigas do uso de muitos desses temperos e da fabricação de curry no sudeste da Ásia. “Através deste projeto, não só obtivemos conhecimentos sobre a rede de comercialização e os produtos envolvidos, como também aprofundamos a nossa compreensão sobre papel das especiarias no cotidiano das pessoas durante esse período”, resume Nguyn.

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