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Quem é a décima mulher, em 125 anos, a ser imortal da ABL

Em conversa com VEJA, Heloisa Buarque de Hollanda reflete sobre seus trabalhos culturais com a periferia e da representatividade feminina

Por Valmir Moratelli Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 9 jun 2023, 12h01

Heloisa Buarque de Hollanda, 83, contribui desde os anos 1960 para o estudo, o reconhecimento e a democratização da cultura no Brasil. Entre as muitas atuações, se destaca o projeto Universidade das Quebradas, sobre pesquisas com grupos periféricos na UFRJ, que promove o diálogo de produtores culturais e artistas suburbanos com a comunidade acadêmica. A teórica, autora de Macunaíma, da literatura ao cinema (1978), Cultura e participação nos anos 60 (1982), Pós-Modernismo e política (1991), entre outros livros, será empossada imortal da ABL no dia 28 de julho, assumindo a cadeira que era ocupada por Nélida Piñon. Bem-humorada, sua marca, Heloisa conversou com a coluna sobre como recebeu a notícia após uma inédita votação por urna eletrônica (antes os votos eram em cédulas imediatamente queimadas, sem direito a recontagem).

Por que a senhora achava que não entraria na ABL? Porque tinha uma visão da ABL, digamos toda a geração de 1960, essa mais rebelde, que era um lugar fechado da elite que tomava chá. E depois descobri que é uma instituição legítima. A função dela é defender a língua e a literatura brasileiras. Defender a língua é uma coisa politicamente enorme. E fiquei fascinada com isso numa época que a gente tem que ter muita atenção para a liberdade de expressão. Censura está em pauta. Jovem tinha horror, bobeei.

O que mudou agora que é uma imortal. Nada, sou uma imortal e vou fazer jus a isso! Eu sempre trabalhei com minorias, com favela e a questão da exclusão é vital. O reconhecimento de uma literatura menos canônica é vital. São as minhas missões que estou sintonizando com a Academia.

Sobre o diálogo que mantém com a periferia, ocupar a cadeira é uma forma de levar a cultura marginal e a favela para a ABL? Evidente que sim. Em todos os sentidos, da literatura, língua e da produção de conhecimento. Quando me aproximei das periferias, achei que eu ia agregar, e não é bem assim. A gente estabeleceu uma relação de parceria. A periferia tem muito intelectual, que fez universidade, terceiro grau e que agora estão todos por aí, no governo, no comando e isso me dá orgulho. Começam a perceber que a periferia não é sempre problema. A questão intelectual e a cultura são contribuições muito importantes.

E a senhora já chegou fazendo história. A sua votação aconteceu pela primeira vez por meio de urna eletrônica. A Academia, nesse momento, e foi um dos motivos que eu quis entrar, está em pleno processo de abertura, em vários sentidos. Ela se abriu para o público, voltou ao processo de visitação, tem intensificando seminários e está abrindo um novo perfil acadêmico. Fernandona, Gilberto Gil, a turma que implicava com a Academia está toda entrando, isso é um reconhecimento de que está com vontade política de se modernizar.

Acredita que algum imortal pediria o código-fonte da urna eletrônica? Está todo mundo muito velhinho, eu sou velhinha, mas eu jamais pediria isso por uma questão geracional (risos). A gente não pensa nessas coisas. Pode ser que aparecesse um militante querendo código-fonte, mas acho isso um absurdo. A urna eletrônica é segura!

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A senhora tem trabalhos que envolvem o estudo da produção cultural na internet. Continua com esses temas?  Não, eu parei. Quando começaram as mídias sociais, comecei a participar e não dei conta. Não tenho Instagram, não tenho nada. Mas isso é importante, uma comunicação vigorosa, porque a academia tem que ser compreendida. A grande necessidade é essa: a importância política dessa instituição. Ela tem uma interferência grande, em legitimar coisas, promover e responder a cidade.

Sua cadeira já foi de Nélida Piñon. Mas ainda há poucas mulheres na ABL. Por quê? Eu vou ser a nona mulher, no total dos 125 anos. É muito escandaloso. E acompanhei a Raquel de Queiroz, ela era tipo uma madrinha… Acompanhei a briga dela entrando. Ela abriu as portas, com todo o arsenal de prestígio que tinha.

E o motivo de ter poucas mulheres na instituição? Motivo regimental mesmo. Até 1976, o regimento proibia. Nunca tinha entrado aqui nem na da França. É um espírito da Academia de Letras, uma instituição quase legislativa. A Raquel rompeu o regimento. Isso obviamente vai trazer vantagem para a Academia. E tem a ver com a internet, a massa feminista só se formou por esse espaço. No meu tempo, as mulheres faziam trabalhos importantíssimos, inventaram a Delegacia das Mulheres, que só tem no Brasil, muitas ações importantes… O alcance era o alcance do seu braço. Agora não.

Pretende frequentar o chá das cinco? Sim, com muito cuidado porque tem muitos biscoitos e eu estou gorda (risos). O cardápio é tudo, menos diet. Mas o chá é importante de frequentar, porque é ali que gera ideias, que pode fermentar algumas coisas de forma mais informal.

Quem a senhora convidou para a posse? Estou convidando o povo dos meus projetos sociais de favela e os amigos chegados. Artistas, grafiteiros…

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Quem vai pagar o seu fardão de posse? O (prefeito) Eduardo Paes, graças a Deus. É uma tradição que o estado ou a cidade do acadêmico pague.

Quais seus próximos livros? Vou lançar Rebeldes e Marginais, trabalhei muito sobre os anos 60 e 70, tempo da ditadura. Estou amando esse livro, é todo tecnológico, tem QR Code. Falo, por exemplo, do incêndio da UNE, aparece o filminho com incêndio. E depois vai sair um da coleção de Pensamento Feminista, reunião de artigos sobre identirarismo. Essa coisa de confronto de mulheres negras que não podem falar não sei o quê, mulheres brancas não podem falar sobre mulheres negras… Esse tipo de cancelamento, de combate… E estou começando um novo sobre velhice, assunto que mais me agrada hoje.

 

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