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Os ensinamentos de vida que Jakson Follmann quer passar adiante

Um dos seis sobreviventes do acidente com avião do time da Chapecoense, ex-jogador fala a VEJA

Por Valmir Moratelli Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 19 abr 2024, 07h00

Jakson Ragnar Follmann, 32 anos, um dos seis sobreviventes da queda do voo LaMia 2933, em novembro de 2016, que transportava o time da Chapecoense, está pronto para recomeçar. Ao redescobrir a vida fora do futebol, onde atuava como goleiro, ele passou a trabalhar em diversos projetos, inclusive paixões antigas, como a música. Follmann conversou com a coluna GENTE sobre o trabalho e a vida pós-acidente, depois de sua participação no Gramado Summit, no começo do mês.

Como descobriu esse lado cantor? Os amigos mais próximos sabem que sempre gostei da música. É uma paixão desde o berço, meus pais cantam, minhas irmãs cantam, fui criando essa paixão nas rodas de churrasco. Antes de seguir no futebol, cantei na minha cidade. Depois do acidente, tive que me reconstruir. Hoje faço palestras, mas em paralelo tenho um projeto na música. Pelas minhas limitações físicas, só não consigo fazer show em casa noturna.

O que gosta de cantar? No projeto ‘Prosa e viola’, shows corporativos e em teatros, quero passar uma mensagem positiva através do meu canto. Faço trabalho de fono, sei o básico do básico no violão… A música precisa ter uma letra legal. Nada contra, mas vejo que tem muitas músicas hoje em dia que são muito mais no comercial e se esquece do principal, que é a letra, é a história.

Você compõe? Compus minha primeira canção há três meses, a gente ainda não lançou, mas compus com uma dupla de amigos. Até fui bem cobrado em relação a isso, mas tem que ter o dom, sentar com pessoas que sabem. Não é fácil.

Qual é o nome da música? Pérola Rara. Fala sobre a perda de um amor. Pode ser a perda de um grande amor, a perda de um trabalho profissional, de uma pessoa querida. Tem uma pegada sertanejo raiz, mais lento, um Victor e Leo.

Cinco cantores que não podem faltar na sua playlist? Guilherme e Santiago, sou muito fã, Daniel, Victor e Leo, Almir Sater, Lauana Prado. Dos mais antigos, Milionário e José Rico, ouvi muito meus pais cantando essas músicas.

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Pretende gravar um álbum só seu? Tenho essa vontade, mas deve uma coisa bem intimista, a minha essência, talvez gravar um projeto de amigos numa fogueira. Acho que isso conecta mais com a minha paixão pelas músicas, pela natureza, pelo interior.

Durante sua recuperação, mais de cinquenta dias internado, que músicas te marcaram? Tente outra vez e Tocando em frente, que dá nome a minha palestra. São músicas com as quais me identifico com a letra, e a minha esposa colocou muito na UTI para eu ouvir. Eu ficava muito agitado no hospital, com muitos aparelhos, e ela colocava músicas no meu ouvido para me acalmar. Esse é o propósito da música, se conectar com a história e dar uma viajada.

Por que só agora tomou coragem de lançar um livro de memórias? Fui muito cobrado para fazer um livro, mas eu tinha essa preocupação de não ser só sobre o acidente. Quero contar o como me reconstruí no mundo do PCD. A minha maior limitação é o tornozelo esquerdo, não tenho o osso talo, tenho 20% do movimento. Depois do acidente, me casei, eu sou pai, sou palestrante, sou digital influencer, sou comentarista de um programa de esporte na internet. Não moro mais no Sul, moro em São Paulo. Tem tanta coisa para falar…

Que memórias você tem do dia do acidente? Não lembro de quase nada. Lembro de estar entre as ferragens pedindo água, muita água para beber. Depois no hospital, quando o médico chegou para avisar que perdi parte da perna e boa parte dos meus amigos. Ele ainda disse que eu teria que encerrar a carreira precocemente. Foi com essas palavras. Eu não tinha noção nenhuma do que estava acontecendo. A todo momento eu achava que estava bem. Pensamento positivo atrai coisas positivas, é a mais pura verdade.

Foi fácil para você rever todas essas memórias? É muito emocionante, porque você relata, seus pais relatam, seus amigos infância, todos os treinadores, cada um tem uma história. Tem muitos depoimentos, troca de informações dos médicos colombianos com médicos brasileiros. Quase ninguém sabe do risco de uma segunda amputação, na época os médicos colombianos optaram por amputar minha perna, teve toda uma discussão. Os médicos brasileiros evitaram isso. Esse livro é meu mais novo filho.

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Você ainda sente muita dor? Senti muito a dor fantasma (dor na parte amputada), que é normal depois do trauma. Com tratamentos e remédio vai passando. A sensação fantasma, que é coçar o pé, a canela, tenho até hoje. Só que com o passar dos anos fui descobrindo meu novo corpo. Sei o que posso fazer, tiro minha prótese, dou massageada no meu coto. A dor fantasma, você tem que fazer fisioterapia também para dessensibilizar o corpo. Tenho os ligamentos rompidos do joelho, então não tenho tanta força na coxa. Tenho dois sistemas hoje só para a prótese.

Te incomoda ter virado uma celebridade após o acidente? Esse carinho das pessoas, essa energia é muito bom para mim. Sou ser humano, tenho meus momentos de tristeza, momentos que acordo e não quero falar com outras pessoas, mas essa conexão é muito gostosa. Ruim seria se eu fosse conhecido por uma cagada. Claro, foi uma história muito triste, uma história muito forte, mas que graças a Deus, com ajuda dos familiares e médicos, dei essa virada de chave e pude reconstruir minha vida.

É fácil para você andar de avião? Pego um voo por semana, às vezes até internacional. É uma loucura imensa, um desafio grande. Mas a vida continua. Tenho minhas manias. Procuro viajar de dia, numa poltrona ao lado da janela para ver o que está acontecendo, fico atento ao movimento dos comissários de bordo, enquanto o alerta de cinto não desliga eu fico rezando… Levo na esportiva quando outros passageiros entram, me veem e falam: ‘Ah, Follmann, de novo?’. O medo é muito grande, mas coloco nas mãos de Deus.

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