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‘O dia que fiz parte de uma ousada peça de Zé Celso Martinez’

Colunista relata sua 'participação' em espetáculo de diretor morto nesta quinta, 6

Por Valmir Moratelli Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 7 jul 2023, 15h22 - Publicado em 7 jul 2023, 10h00

Era para ser apenas mais uma encenação teatral, que fecharia em grande estilo a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), da edição de 2011, que homenageou o antropofágico Oswald de Andrade. Mas, desde sua divulgação, já eram altas as expectativas. Não seria mais uma encenação. Afinal, teríamos uma peça dirigida por Zé Celso Martinez no final de tarde de um domingo ensolarado na pacata cidade do sul fluminense, dessa vez agitada em dias de debates literários. O local escolhido foi a praia em frente a uma das tendas principais do evento. A polícia interveio de última hora e obrigou a organização a colocar tapumes imensos ao redor da areia, para que crianças não presenciassem o que aconteceria ali em instantes. O muro improvisado gerou ainda mais curiosidade. Não seriam poucos os que dariam um jeito de, mesmo sem convite, bisbilhotar a apresentação.

Atores recepcionavam os convidados com taças de vinho, enquanto outros tantos trocavam carícias e beijos provocativos no centro da arena na areia. A maioria deles vestidos com figurinos de plástico transparente. Nada por baixo, obviamente. Zé Celso sempre foi conhecido pelo tom contestador de exacerbar os tabus tacanhos da sociedade e explorar de forma artística os pudores do corpo humano. Beijos e carícias, atos tão sensuais quanto banais, ganham peso coreografado em beleza sob sua direção. Foi assim também em Paraty.

Momento de tensão ocorreu quando os atores, vestidos como indígenas canibais prestes a devorar curiosos os invasores portugueses (era o papel que cabia a nós enquanto público), se aproximaram. As peças de Zé têm forte participação com a plateia: não há “quarta parede”. Os limites se rompem e o público também faz parte da cena. Nus, os atores cantavam e pediam, sob consentimento, que os homens colocassem seus “documentos genitais” para fora. As mulheres, os seios. Alguns se negavam (eu não tinha bebido vinho suficiente), outros bebiam mais vinho para tomar a coragem artística que dominava o ambiente. Quem acatava tinha auxílio dos atores com o zíper.

No centro da arena, um cenário hedonista, com cachos de uvas verdes sendo oferecidos a bocas famintas, foi interrompido por gritos, crucifixos e pessoas de vestimentas pesadas. A chegada dos pudores cristãos em cena dava um tom de “fim de festa” ao primeiro ato. Zé Celso, de manta branca, perambulava entre seus atores comandando a ação. Nesta hora, fez papel de padre catequizador.

Depois de três horas e meia de espetáculo, tudo terminou num grande abraço coletivo ao som de marchinhas de carnaval. A antropofagia moderna de Zé Celso propõe exatamente isso – recontar histórias, por vezes dolorosas, sob o olhar do afeto. Estamos todos no mesmo barco, na mesma areia, no mesmo palco. Exaustos, mas felizes, saímos daquela praia com a certeza do quanto Zé Celso era necessário já a um país que ainda não se via polarizado como nos anos subsequentes.

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