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Filha de Jorge Amado ataca revisionismo que patrulha obras do pai

Defensora do legado dos pais, Zélia Gattai e Jorge Amado, Paloma Amado fala a VEJA

Por Valmir Moratelli Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 21 jul 2023, 11h59 - Publicado em 21 jul 2023, 07h01

Celebração da cultura baiana no centro histórico da cidade de Salvador (BA), a Festa Literária Internacional do Pelourinho (Flipelô) acontece de 9 a 13 de agosto. A realização fica a cargo da Fundação Casa de Jorge Amado, em co-realização do Sesc. A crítica literária e também escritora Paloma Amado, 72, segunda filha dos escritores Zélia Gattai e Jorge Amado, é um dos nomes à frente da festa. Ela conversa com a coluna sobre o legado dos pais.

Qual é a importância da Flipelô, que acontece desde 2017? Já é um evento consolidado? As Flips, as festas literárias, ocorrem pelo Brasil inteiro. Durante muito tempo, quisemos fazê-la no Pelourinho. Vou te explicar o porquê. A Fundação Jorge Amado é um lugar em que nós guardamos o acervo do papai hoje. As pessoas que estudam a obra dele vão lá para ter acesso à documentação, além de ser um banco de fotografia que a mamãe doou. Mas para papai, a coisa principal era que fosse um centro cultural, onde se recebesse escritores da Bahia e de fora, onde se produzisse cultura. A Flipelô (patrocinada pelo Instituto CCR) é a abertura da nossa Fundação, sobre esse que é o coração de Salvador. Sempre com a preocupação de mostrar a literatura que é feita hoje, essa literatura que pode sair da Bahia para o resto do Brasil e o mundo.

Muito da novidade na literatura brasileira foi produzido no período de pandemia. Como avalia isso? É, muita gente aproveitou para botar os seus projetos no papel. A pandemia é indissociável do retrocesso daquele governo em relação à cultura. Não foi um retrocesso da cultura, porque as pessoas tiraram leite de pedra para fazer seus filmes, montar suas peças de teatro. Tudo foi absurdamente comprometido pelo governo anterior.

Não dá para se colocar na posição de Jorge Amado, mas a senhora imagina o que seu pai acharia disso tudo hoje? Nem me pergunte o que o papai estaria achando, eu não sei. Pensa que papai morreu há 20 anos, não tinha nem WhatsApp!

A onda de revisionismo na literatura brasileira tem cancelado vários autores. Teme que Jorge seja o próximo? Isso me dá uma dor mortal. Se eu te disser que o meu pai nunca revisou um livro, para não ter que mudar nada, estarei falando a verdade. Ele escreveu, por exemplo, Capitães da Areia, publicado em 1935. Faz, portanto, quase 100 anos. E pouca coisa se alterou em relação às crianças que não têm opções de vida. Só piorou. Em 1947 escreveu Gato Malhado e Andorinha Sinhá, que foi presente de aniversário para meu irmão. Era a história de um gato que se apaixona por uma andorinha e acaba muito mal. Aí papai dizia: ‘acaba muito mal porque eu era muito preconceituoso e achava que um gato não podia casar com uma andorinha’. E aí ele não quis nunca publicar. O azar dele é que deu de presente para meu irmão. Já homem feito, disse: ‘Vamos publicar sim’. E mesmo assim, ele não alterou o final, para o gato casar com a andorinha. Ele disse: ‘Essa é uma história de um homem, que em 1947, tinha preconceito, hoje eu não tenho. Hoje fico feliz quando vejo uma amiga que casou com uma moça e que estão felizes. Então acredito que o papai vendo mexerem em obras, estaria chorando de tristeza.

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As pessoas evoluem, né? É, a vida não é parada, a gente não se cristaliza no momento.

O que acha de comentários de redes sociais, dizendo que Jorge seria machista? Quando vejo, apago. E vou te dizer: Não estou velhinha, mas já passei dos 70, e acho que mereço, vou usar um termo bem baiano, não me aporrinhar mais. É tão bobo… Uma vez vi uma mulher dizendo que Tereza Batista Cansada de Guerra era livro de um machista. É o livro mais feminista do mundo! Papai era, posso te dizer com todas as letras, muito mais feminista do que mamãe. Mamãe era mais machista que ele. Papai foi um homem que soube evoluir com seu tempo até o fim da vida.

Tieta é uma obra feminista? Muito. Tereza Batista é uma menina vendida, é estuprada, violentada e que dá volta por cima e vai liderar as prostitutas para que outras mulheres sejam reconhecidas como pessoas que valem a pena. Se isto é ser machista, não sei o que que é. Mas enfim, o que as pessoas dizem não me aflige, inclusive porque quem diz é gente que não vale a pena.

A internet tem esse mal, não? É, o que a gente tem que fazer é se blindar para não viver chateado, resmungando. Sou muito otimista e quero, usando os anos que ainda tenho de vida, curtir ao máximo os netos, tenho dois, um já adulto e outro adolescente de 18 anos. Meninos ótimos… Esse é o meu trabalho, conversar com jovens.

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Qual é a herança do pensamento político de seus pais, que a senhora carrega na sua vida? Não é uma herança, porque herança é uma coisa que você recebe pronta. O pensamento político do meu pai, aprendi desde que nasci, nasci no exílio. Eles estavam exilados em Praga. Então não é herança, é formação. E vou te dizer, dou graças a Deus diariamente, por ter tido essa formação, considero que sou privilegiadíssima pelos pais que tive e que me ensinaram a ser simples, generosa e socialista. Se é para dar um rótulo, eu me dou esse.

Mais socialista do que anarquista? Pode ser, isso é verdade, sou a única católica da família. Meu catolicismo andou muito embaixo, melhorou com o Papa Francisco, um grande sujeito. Adoro ele. Pode dizer que sou uma “anarquista graças a Deus”. E adoro conversar com o meu neto mais velho, Nicolau, que estuda Direito, sobre o anarquismo. Ele sim se considera um grande anarquista.

 

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