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Enóloga argentina: ‘Não é fácil empreender com tanta crise”

Ana Lovaglio, da premiada vinícola Susana Balbo, fala à coluna GENTE

Por Valmir Moratelli Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 7 jun 2024, 12h55
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  • Ana Lovaglio Balbo, 37 anos, diretora de marketing da vinícola argentina Susana Balbo Wines e co-fundadora do hotel boutique Susana Balbo Unique Stays, esteve no Rio de Janeiro recentemente para o lançamento do novo Guia Michelin. Ana cresceu vendo sua mãe, a enóloga Susana Balbo, criar vinhos premiados e construir uma adega de luxo. Depois de se formar em Administração pela Universidade de San Andrés, em Buenos Aires, trabalhou como consultora e, em 2012, voltou às raízes ao regressar a Mendoza e se juntar à equipe da empresa familiar, dessa vez como Gestora de Marketing e Comunicação. Em conversa com a coluna GENTE, Ana fala sobre o amor pelos vinhos e das inúmeras crises econômicas que atingem seu país.

    HISTÓRIA FAMILIAR. “Minha mãe foi, em 1981, a primeira mulher da Argentina a ter um título acadêmico em tecnologia, sempre teve uma mentalidade pouco típica para a época e para seu gênero, e sempre foi fiel aos seus talentos. Foi aí que ela disse: ‘Nunca mais vou ser empregada. Tenho que empreender’. Voltou a Mendoza e tentou. Minha mãe era a única universitária da família. Seus pais tinham apenas o ensino primário e meu avô nunca se formou”.

    PRIMEIROS PASSOS. “Meus avós eram cordoveses, do centro da Argentina. Quando se mudam para Mendoza, porque acharam uma linda cidade para ter família e viver, ele consegue um trabalho em uma loja. Minha avó estava grávida. Meu avô foi logo depois demitido. Ele então foi ao dono de uma fábrica que o conhecia por ter trabalhado tantos anos e pede um empréstimo. Minha avó sempre desenhou muito bem. Aí fizeram um conjunto de toalhas, lençóis, e foram de porta em porta vendendo. Assim se tornou uma pequena empresa que cresceu muito”.

    PIONEIRISMO. “Minha mãe foi estudar e se tornou a primeira enóloga, fez sua carreira. Meus avós não sabiam o que fazer com meu tio, porque ele não trabalhava. Com o dinheiro desse empreendimento, compraram uma vinha para ele. Chamaram minha mãe e perguntaram se ela queria vir para a empresa familiar. Minha mãe diz: ‘Bem, tenho dois filhos pequenos, salário estável’. Mas decidiu aceitar. Fica apenas seis meses trabalhando com eles, não se dava bem com meu tio. A vinícola estava focada no volume e em vinhos baratos. Meu avô lhe dá um dinheiro para recomeçar. Graças a isso, chegou tão longe, porque desde pequena sempre gostou de estudar, investigar, ler”.

    VÁRIOS RECOMEÇOS. “Ela (Susana) já tinha um nome muito bom como enóloga. Fez consultorias, fazia dupla colheita, ia e vinha entre Estados Unidos e Argentina. Até que em 1999, começa o que hoje é nosso projeto. Entre vários recomeços, em 2009, quando produzíamos menos de 60 mil garrafas, de repente há um boom. Começamos a crescer, fizemos vinhos mais conhecidos, sucesso com produtos.

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    ENTRE CRISES. “Entrei em 2012 na vinícola. Fiz produção, depois me interessei em setor de vendas. Tenho formação em administração. Na última administração, enquanto minha mãe trabalhava, foi a época em que a Argentina, de tantas crises que tivemos, passou por uma hiperinflação. Minha mãe ficou um ano sem receber salário, porque pegavam o dinheiro e o colocavam no mercado financeiro. Não é fácil empreender com tanta crise”.

    LEGADO. “Fazemos milhões de iniciativas relacionadas à sustentabilidade em todos os sentidos, desde do trabalho com a terra às pessoas e a comunidade. Há outra ONG muito conhecida na Argentina que se chama Un Techo para mi País. Tenho um produto específico para eles que vendemos e arrecadamos para fazer casas. O que conseguimos em 25 anos de trajetória é assombroso. Acredito que é o sonho de qualquer vinicultor ou empreendedor, porque cedo ou tarde você quer que seu projeto cresça para que as contas sejam sustentáveis”.

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