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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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O que Lula quer no Natal?

Discurso de colocar “o pobre no orçamento e o rico do imposto de renda” resume agenda econômica do segundo semestre

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 14 ago 2023, 14h58

No tradicional pronunciamento de fim de ano, entre o Natal e o réveillon, o presidente Lula da Silva quer afirmar ter cumprido a promessa de campanha que resume a sua política econômica, “colocar o pobre no orçamento e o rico no Imposto de Renda”. Mais do que criar a base de sustentação do arcabouço fiscal, este é o objetivo central da agenda econômica do governo no Congresso nos próximos meses.

Ter esse slogan em mente ajuda a entender o que Lula quer e o que está disposto a negociar com o Congresso. Por “pobre no orçamento” Lula entende manter o nível de gastos sociais do orçamento deste ano, que recuperou a média de despesas de saúde e educação e triplicou os gastos históricos com o Bolsa Família. Isso inclui ainda o envio da reforma que amplia a isenção do imposto de renda até R$ 5 mil, promessa de campanha que beneficiaria 30 milhões de trabalhadores. É altamente improvável que o projeto seja aprovado na íntegra no Congresso por falta de quem pague os R$ 100 bilhões necessários para sustentar a proposta. É provável, no entanto, que haverá um aumento da isenção o Imposto de Rendas dos atuais R$ 2,6 mil até o fim do mandato.

“Colocar o rico no Imposto de Renda” implica na aprovação de alguns projetos prontos para serem anunciados pelo Ministério da Fazenda, as taxações sobre fundos exclusivos, off-shore, Juros sobre Capital Próprio e dividendos.

Primeiro uma anedota: desde o governo Temer tenta-se cobrar impostos sobre os fundos exclusivos, investimentos feitos por cotas mínimas de R$ 10 milhões. Hoje esses fundos só pagam imposto de renda quando são resgatados. Em 2018, o projeto de taxação chegou a ser aprovado na Câmara e terminou sendo derrotado no Senado. Quando o então número 2 da Fazenda, Eduardo Guardia foi cobrar os senadores governistas pela não aprovação do projeto, um deles, meio sério, meio na brincadeira, justificou: “seria ilusão achar que a gente votaria contra os nossos filhos”.

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Como nesses últimos anos o número de deputados e senadores milionários só aumentou, é improvável que tenha muda a pouca disposição dos congressistas em taxar seus próprios investimentos.

Os aumentos dos impostos sobre os demais itens — off-shore, JCP e dividendos — podem ser aprovados pelo Congresso, mas aqui entra um paradoxo. A importância política dada por Lula à aprovação desses itens é maior que o seu efeito fiscal. Isso significa que o governo está disposto a aceitar alíquotas baixas em troca de um consenso para aprovação rápida. É mais importante para Lula ter o discurso “aumentamos a taxação sobre os bancos” ou “o Brasil deixou de ser o único país do mundo que não cobrava dividendos” do que necessariamente ter um resultado na arrecadação. A narrativa política é mais importante do que o arcabouço.

O resumo da reforma ministerial: em junho, o governo Lula tinha uma base confiável entre 180 e 190 deputados. Em setembro, com a chegada de parte do Progressistas e do Republicanos, esse índice vai crescer para 260 a 270 deputados. Isso significa que o governo Lula tem maioria tênue para aprovar projetos de lei, mas principalmente que assegurou uma base para impedir ataques como a criação de CPIs ou pautas bombas. É uma reforma ministerial defensiva, não a formação de um rolo-compressor.

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Por isso o presidente Lula não tem pressa. Responsável por meia dúzia de reformas de trocas de ministros nos mandatos anteriores para aumentar a base no Congresso, ele tem experiência de que o tempo trabalha a seu favor. Ele gastou quase dois meses para realizar um única troca, tirar o Ministério do Turismo da deputada Daniela do Waguinho para Celso Sabino, e com a demora adiou que o novo ministro exigisse indicar também o presidente da Embratur, agência dominada pelo PT.

Lula e o presidente Arthur Lira são negociadores veteranos. Sabem que as ameaças, chantagens e trombadas fazem parte do processo. É como a venda de um tapete na qual, segundo a tradição, não regatear o preço é quase um desrespeito ao vendedor.

No caso da troca atual, o Centrão abriu as negociações pedindo o Ministério da Saúde. Depois foi para o Desenvolvimento Social. Agora já aceita o Esportes e Portos, além da Caixa Econômica. O acordo final não vai mudar o resultado: apenas parte do Centrão vai votar com o governo e mesmo assim isso os pontos realmente importantes, como o aumento de carga tributária, serão negociados caso a caso pelo ministro da Articulação Política, Alexandre Padilha.

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