Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
Continua após publicidade

Lula 3 terá o Congresso mais independente da história

Decisão do STF dá mais independência aos congressistas e reduz poder do presidente, Lira e Pacheco

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 23 dez 2022, 14h08

É perigoso ter um amigo ministro o STF. Para ajudar o amigo Sergio Moro das acusações de parcialidade, o ministro Edson Fachin tirou da gaveta a transferência dos processos da Lava Jato de Curitiba para Brasília, decisão que num efeito dominó anulou todas as condenações e jogou mais luz sobre os erros da operações. Prestes a se aposentar, Ricardo Lewandowski decidiu ajudar Lula da Silva e votar pela inconstitucionalidade do Orçamento Secreto.

Vale uma observação: o Orçamento Secreto é uma excrecência jurídica. Foi criado para que os presidentes do Senado e da Câmara pudessem distribuir sem critério e transparência quase R$ 20 bilhões aos seus aliados. É um clientelismo que faz diferença. Neste ano, os deputados da turma de Lira receberam em média R$ 70 milhões em emendas, enquanto os demais em torno de R$ 30 milhões. O índice de reeleição dos amigos de Lira foi de 75%, os outros de 50%. Lira não é o presidente da Câmara mais poderoso desde Ulysses Guimarães por acaso.

A decisão de Lewandowski confirmou o entendimento da maioria do STF, mas piorou muito a vida de Lula. No domingo, 18, véspera da decisão de Lewandowski, Lula e Arthur Lira tiveram uma reunião de quase três horas. Encontraram um acordo para aprovar a PEC da Transição, acertaram um ministério para um preposto de Lira (o deputado Elmar Nascimento, que até outubro chamava Lula de presidiário) e até as comissões que o PT teria na Câmara. Para tornar o acordo público, Lira deu no mesmo dia uma inesperada entrevista à repórter Andreia Sadi, da Globonews, prometendo que, se reeleito, faria para o governo Lula o mesmo que fez para Bolsonaro.

Depois da decisão de Lewandowski, Lira se sentiu traído. Nenhuma alma na Câmara acredita que o ministro mais petista do STF tomou uma decisão tão importante sem o aval do presidente eleito. A validade da PEC foi reduzida a 1 ano, Elmar Nascimento vai virar ministro e o governo eleito renegociou o direito de os congressistas direcionarem emendas para suas regiões, apenas com rubrica diferente. A diferença é que até a decisão do STF, essas emendas depois de liberadas pelos presidentes da Câmara e do Senado podiam ou não serem pagas pelo governo federal. Agora, o governo será obrigado a pagá-las.

Continua após a publicidade

Como mostrou o jornal digital Poder360, o Senado foi o vencedor das novas regras. As emendas do orçamento secreto somavam R$ 19,4 bilhões e foram repartidas. A metade ficou livre para os ministérios gastarem e a outra foram transferidas para as rubricas das emendas parlamentares. Assim, até agora cada deputado e senador tinha direito a direcionar emendas no valor total de R$ 19,7 milhões. A partir de 2023, os deputados vão poder decidir sobre R $ 32,1 milhões e cada senador, R$ 59 milhões automaticamente. Isso significa que eles não vão precisar da benção de Lira, Pacheco ou Lula para levar verbas para suas regiões, reduzindo em muito o poder de pressão do governo federal para formar uma maioria estável no Congresso.

Desde a Constituinte, o sistema político se sustentava no presidencialismo de coalizão. Como nenhum presidente consegue maioria no Congresso, mesmo quando eleito no primeiro turno, ele é obrigado a conceder parte de seu poder para formar uma maioria, seja através de cargos nos Ministérios, seja através da liberação das emendas. Desde o governo Dilma Rousseff, o Congresso foi ganhando independência, seja na deliberação das medidas provisórias, seja na autonomia na liberação de verbas. Com o orçamento secreto, o Palácio do Planalto de Bolsonaro passou a dividir o privilégio das emendas com os presidentes da Câmara e Senado. Com a decisão do STF, esse poder diminui. No governo Lula 3, deputados e senadores poderão se manter na oposição sem que isso necessariamente prejudique sua base eleitoral.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.