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Thomas Traumann Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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Bolsonaro e a diplomacia da estupidez

O Brasil briga com a China, com a União Europeia, com a Argentina e vai sentir o calor do novo governo Biden

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 25 nov 2020, 13h03
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  • Meu pai me contava que bastava uma lata de tinta para reconhecer um schmuck (idiota em ídiche). “Peça que ele pinte o chão de um quarto. O schmuck vai começar pela porta e, ao final, ficará preso em um canto cercado de tinta fresca por todos os lados”, dizia. A política externa brasileira é igualzinha ao estúpido da anedota.

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    O governo da China parabenizou hoje o presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, pela vitória, transformando o Brasil no único país que ainda acha que Donald Trump venceu a eleição de novembro. Não que isso tenha mais importância. Nesta semana, Biden indicou que o ex-veterano da guerra do Vietnã, ex-senador e ex-secretário de Estado John Kerry como seu czar do Meio Ambiente. A função de Kerry será recolocar os Estados Unidos como signatário do Acordo Climático de Paris e incomodar os países que estão descumprindo a agenda mínima de proteção ambiental. Ganha uma motosserra novinha quem adivinhar qual o primeiro país da lista de Kerry.

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    Mas os Estados Unidos não são o único país do mundo. Tem a China. Na segunda-feira, o filho do presidente e deputado federal Eduardo Bolsonaro postou um tuíte propagando que a China pretende usar a tecnologia 5G para espionar outros países. “Isso ocorre com repúdio a entidades classificadas como agressivas e inimigas da liberdade, a exemplo do Partido Comunista da China”, escreveu. A resposta da Embaixada China foi ameaçadora. “Instamos essas personalidades a deixar de seguir a retórica da extrema direita norte-americana, cessar as desinformações e calúnias sobre a China e a amizade sino-brasileira e evitar ir longe demais no caminho equivocado tendo em vista os interesses de ambos os povos e a tendência geral da parceria bilateral. Caso contrário, vão arcar com as consequências negativas e carregar a responsabilidade histórica de perturbar a normalidade da parceria China-Brasil”, afirmou a embaixada. A China responde hoje por um terço das exportações brasileiras, sendo a maior compradora de ferro, soja e fundamental para o agro.

    Com a União Europeia, a relação é ainda pior. Jair Bolsonaro e Paulo Guedes já ofenderam a mulher do presidente da França, atacaram a Noruega e a Alemanha. A retórica de botequim da família Bolsonaro, Guedes e o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, paralisou as conversas sobre o acordo comercial Mercosul-União Europeia, resultado de anos de tratativas dos diplomatas dos governos Lula, Dilma e Temer.

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    Nem com os vizinhos a diplomacia da estupidez consegue conviver. Bolsonaro rompeu com a Argentina desde a eleição de Alberto Fernández, apoiou o golpe na Bolívia, atacou a ex-presidente do Chile e rompeu as pontes que faziam do Brasil um negociador para uma saída institucional para a Venezuela. O Brasil, que desde a volta da democracia era um ator relevante no cenário global, virou um pária.

    Em tese, o shmuck da anedota pode sair do quarto quando a tinta secar. Em tese ainda, na próxima vez ele pode começar a pintar pelos cantos e deixar a saída para o fim. Só em tese. É mais fácil Bolsonaro aumentar os ataques à China e piorar as relações com o mundo. Shmucks não aprendem.

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