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Por Kelly Miyashiro
Críticas e análises sobre o universo da televisão e das plataformas de streaming
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“Faria de novo”, diz ex-militar americano que ajudou Carlos Ghosn a fugir

Em entrevista a VEJA, Michael Taylor esclarece seus sentimentos sobre a saga revelada na série documental 'Procurado', do Apple TV+

Por Gabriela Caputo Atualizado em 8 set 2023, 16h26 - Publicado em 8 set 2023, 10h17

Carlos Ghosn, ex-presidente da Renault-Nissan, era um empresário altamente celebrado no setor automotivo. Acusado de malfeitos, o brasileiro de origem libanesa foi preso no Japão em 2018, e, desde que fugiu do país, em dezembro de 2019, vive foragido no Líbano. Sua história — da ascensão à queda — é narrada na série documental Procurado – A Fuga de Carlos Ghosn, lançada recentemente no Apple TV+. Ao longo de quatro episódios, são entrevistados inúmeros envolvidos no caso. Além do próprio empresário, há a versão completa de Michael “Mike” Taylor, ex-militar americano que, junto de seu filho, Peter, arquitetou e executou um plano pitoresco: Ghosn escapou do Japão em um voo particular, após driblar a inspeção no aeroporto escondido em uma caixa para instrumentos.

“O caráter hollywoodiano da fuga é obviamente eletrizante. E ficou claro para mim que se tratava do tipo de história em que, quanto mais se descascam as camadas, mais sombrio e complicado tudo se torna. Valia a pena contá-la de maneira cinematográfica”, explicou a VEJA o diretor do documentário, James Jones. “Ghosn tem uma espécie de aura intensa. Ele é muito inteligente e engajado, mas não é uma pessoa muito humana em alguns aspectos — não é de conversa fiada, não pergunta sobre você”, contou Jones. O diretor pensa que novas reviravoltas no caso devem acontecer em algum momento, mas não acredita que Ghosn sairá do Líbano para enfrentar o julgamento que o aguarda na França, por exemplo.

Procurado busca entender, inicialmente, como o empresário conquistou todo o seu império, ainda que fosse visto como um outsider, ou seja, um forasteiro, nos lugares em que viveu e trabalhou. “De início, no Japão, isso foi uma vantagem. Ele era um pouco brasileiro, um pouco libanês, um pouco francês — se colocava como um homem internacional e, talvez por isso, o receberam melhor do que se fosse um americano loiro chegando para mudar tudo”, analisa Jones. “Enquanto era bem-sucedido e admirado, ele estava bem. Mas, quando as coisas deram errado, não tinha muitos aliados dispostos a se arriscar por ele. Em parte, isso se deve à questão cultural. Por outro lado, é uma questão de personalidade: Ghosn era tão focado nos negócios que não exerceu um soft power tradicional para conquistar amigos ao longo do caminho. Então, no momento da queda, ele estava sozinho”, completa o diretor.

Michael Taylor, ex-militar responsável pelo plano de fuga
Michael Taylor, ex-militar responsável pelo plano de fuga (Apple TV+/Divulgação)

A faceta de poucos amigos mantida por Ghosn foi certamente sentida por Mike Taylor. Como agradecimento, não recebeu nem um aperto de mão — e ainda acabou extraditado dos Estados Unidos para o Japão, onde cumpriu pena sob condições que descreve como torturantes. Taylor também falou a VEJA sobre o assunto:

Por que decidiu ajudar Carlos Ghosn? Apresentaram para mim que ele estava sendo torturado na prisão japonesa, em confinamento solitário, com dois banhos por semana. E uma das coisas mais bizarras que já ouvi na minha vida foi que, como condição para sua fiança, ele não tinha permissão para falar com a esposa. Senti pena dele. Não quero ver ninguém torturado, sejam quais forem as circunstâncias. Faria de novo, com certeza. O plano funcionou incrivelmente bem – eu só teria feito de uma forma diferente, para que meu nome não vazasse.

Que imagem tinha de Ghosn? Eu realmente não o conhecia antes do resgate. Só sabia do que a família dele me contou. Falei muito com sua esposa, Carole, que me deu todos os detalhes sobre o que estava acontecendo, para que pudéssemos formular o plano de fuga. Quando o encontrei, em 29 de dezembro de 2019, ele estava em êxtase, muito feliz e ansioso pela liberdade, para poder finalmente explicar sua posição ao mundo.

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Você diz no documentário que sua história com Carlos está longe de terminar, e que também pode ser um grande inimigo. Quem me conhece sabe, sou um grande amigo, sou leal até a queda. Bem como há inimigos meus por aí, e eles sabem que também sou um grande inimigo. Isso nunca vai mudar na minha vida.

Você também diz que voltou do Líbano para os Estados Unidos porque queria enfrentar quaisquer consequências que houvesse. Se arrepende disso? Não. Algumas pessoas me aconselharam a ficar no Líbano para não arriscar ser extraditado, mas não quis me esquivar do que fiz. Sabíamos de antemão que não era uma violação da lei. Escapar sob fiança não é crime no Japão. O artigo 103 do Código Penal Japonês, que utilizaram para me enquadrar, alega que é crime tirar alguém de uma prisão ou que esteja sob custódia, como em um carro de polícia ou algemado. Ele estava em liberdade sob fiança, portanto, não houve violação dessa lei ali (*). Mas eu preferia, claro, enfrentar o julgamento nos EUA. Não achava que seria extraditado. Infelizmente, o então presidente Donald Trump e seu Secretário de Estado Mike Pompeo me extraditaram com base em uma decisão política, não na Justiça Internacional.
(*) Nota: Ainda que sob fiança, Ghosn fez um juramento de permanecer no Japão para se defender durante o julgamento.

Como foi sua experiência na prisão japonesa? Passei muito tempo lá. Dezessete meses em confinamento solitário. Você passa seis meses e meio tomando apenas dois banhos, as luzes ficam acesas 24 horas por dia, sete dias por semana. Têm câmeras na sua cela. Ninguém fala inglês ou qualquer outro idioma. A temperatura lá dentro é congelante, e ficamos no chão. 

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Qual era o sentimento? Eram muitos sentimentos. Foi interessante pensar: aqui estou, passando por tudo isso, porque evitei que outra pessoa fosse torturada, que enfrentasse essa mesma punição. Meu pensamento era de que, sim, fiz aquilo e nunca me esquivei de tê-lo feito. E se me torturar era o que [a Justiça japonesa] achava que precisava fazer em retaliação, então que ficassem à vontade. Eu não iria enfraquecer, não iria me curvar, estava firme em minhas convicções. E faria de novo.

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