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Ellen DeGeneres: A apresentadora ‘gentil’ que se tornou vilã da televisão

Ex-funcionários relatam episódios de racismo, intimidação e medo nos bastidores do popular programa conduzido por Ellen

Por Eduardo F. Filho Atualizado em 4 ago 2020, 15h10 - Publicado em 4 ago 2020, 14h57
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  • O conselho “seja gentil” é dito com frequência, quase como um slogan, pela apresentadora americana Ellen DeGeneres, 62 anos, ao longo de suas mais de duas décadas de atuação na televisão. As feições que transmitem gentileza ajudam. O excesso de carisma ajudou Ellen a construir um patrimônio estimado em mais de 400 milhões de dólares e a transitar entre famosos, como Jennifer Aniston, Adele e Justin Bieber, e políticos de diferentes bandeiras, da família republicana Bush até o clã democrata Obama. Tamanho império, porém, começou a ruir recentemente, quando a apresentadora símbolo da gentileza se viu em meio ao fogo cruzado de graves acusações de assédio moral.

    Em julho, o site BuzzFeed publicou uma matéria com a denúncia de dez ex-funcionários e um atuante do programa The Ellen DeGeneres Show. Segundo os relatos, eles enfrentaram episódios de racismo, medo e intimidação nos bastidores da atração exibida pelo canal americano NBC.

    Amiga pessoal de famosos como Brad Pitt e Angelina Jolie
    Ellen no Oscar: Amiga pessoal de famosos como Brad Pitt e Angelina Jolie (Handout / Handout/Getty Images)

    Desde então, novas denúncias continuaram a surgir. Até o momento, são mais de 36 relatos — o que levou a uma investigação interna no canal. Os ex-funcionários narram episódios como demissões logo após uma licença médica ou dias de luto por um ente querido. Uma funcionária negra que trabalhou durante um ano e meio no programa afirma que experimentou comentários racistas e “micro-agressões” no escritório. Em uma das festas recorrentes do trabalho, ela conta que um dos principais diretores lhe disse: “Me desculpe, eu só sei o nome das pessoas brancas que trabalham aqui”.

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    Ellen, que além de dama da gentileza ostenta o selo de defensora das minorias, pediu desculpas aos funcionários, mas se isentou de qualquer culpa, dizendo que a magnitude do programa a impede de acompanhar detalhes dos bastidores. “Qualquer um que me conhece sabe que isso é o oposto do que eu acredito e do que eu esperava para o nosso programa. Visto que nós crescemos exponencialmente, eu não tenho conseguido estar a par de tudo e precisei delegar funções a outros, que sabiam como eu gostaria que nosso programa fosse feito. Claramente, alguns não cumpriram o acordo”, disse Ellen, completando que ações estão sendo tomadas para garantir um melhor ambiente de trabalho. “Estou comprometida a assegurar que isso não vai acontecer novamente.”

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    Nenhuma das denúncias cita o nome de Ellen diretamente, porém, ex-funcionários sugerem que seria muito difícil ela não saber sobre o que acontecia, ou que pelo menos deveria ter demonstrado mais interesse. “Se ela quer ter o nome no título do programa, ela precisa se envolver mais. Acho que os produtores executivos a cercam e dizem: ‘Está tudo bem, todo mundo está feliz’, e ela simplesmente acredita nisso, mas é responsabilidade dela ir além disso”, disse um dos antigos empregados.

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    Em uma acusação mais recente, a ex-produtora Hedda Muskat, que trabalhou com a apresentadora no desenvolvimento do programa em 2003, afirma que desde lá já existia nos bastidores uma “cultura do medo”. “Eu nunca tinha experimentado um ambiente tóxico antes”, disse ao portal americano The Wrap. Hedda foi dispensada um ano depois, logo após conquistar seu primeiro Emmy. A produtora afirma que foi deixada de lado com menos responsabilidades e acusa o produtor executivo Ed Glavin de contribuir com os assédios morais no programa. Hedda conta de um caso em que Glavin teria constrangido um membro da equipe ao gritar com ele em uma reunião.

    Ellen e a mulher, a atriz Portia de Rossi. As duas estão casadas há 11 anos
    Ellen e a mulher, a atriz Portia de Rossi (Christopher Polk / Equipe/Getty Images)

    Ao BuzzFeed, em uma declaração conjunta, os produtores executivos Ed Glavin, Mary Connelly e Andy Lassner lamentaram as denúncias e disseram que vão se esforçar “para criar um ambiente de trabalho aberto, seguro e inclusivo”. “Estamos realmente com o coração partido. Não somos assim e não é a missão que Ellen nos deu. Para constar, a responsabilidade cotidiana do programa Ellen é totalmente nossa. Levamos tudo isso muito a sério e percebemos, como muitos no mundo estão aprendendo, que precisamos fazer melhor, que estamos comprometidos em fazer melhor, e faremos melhor”, escreveram.

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    O escândalo levantou rumores sobre o fim do programa. A produção, porém, nega, e afirma que Ellen volta a gravar episódios inéditos este mês. Agora é esperar para ver se a mancha no histórico da atração será esquecida com tanta facilidade.

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