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Por Sérgio Rodrigues
Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.
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O caso do judeu ‘nazista’: hipérbole e anemia

Faz tempo que me incomoda nossa inclinação por chamar de nazista qualquer tiranete de botequim, de fascista quem se limita a elevar a voz numa discussão. Há poucos dias, a questão voltou à tona a propósito da crítica que fiz ao curador da última Flip por ter xingado de nazista o cineasta francês Claude Lanzmann, […]

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 11h20 - Publicado em 17 jul 2011, 10h00

Faz tempo que me incomoda nossa inclinação por chamar de nazista qualquer tiranete de botequim, de fascista quem se limita a elevar a voz numa discussão. Há poucos dias, a questão voltou à tona a propósito da crítica que fiz ao curador da última Flip por ter xingado de nazista o cineasta francês Claude Lanzmann, de lamentável participação na festa literária de Paraty. Lanzmann foi grosseiro e arrogante, sem dúvida, mas nazista era uma palavra ridiculamente imprópria para um judeu que dirigiu o documentário “Shoah”, sobre o Holocausto.

Houve quem ficasse indignado com minha observação, como se eu estivesse interessado em restringir a liberdade de expressão de alguém. O que é cômico, sem dúvida, mas também uma boa oportunidade de explicar mais detidamente meu ponto de vista.

O que ocorre quando se qualifica qualquer pessoa vagamente autoritária de fascista, qualquer imbecil de nazista, é um fenômeno que eu chamo de entropia linguística. É claro que se trata de uma hipérbole, um exagero, qualquer um sabe disso. Algo semelhante a dizer, quando o jantar atrasa meia hora, que se está “morto de fome”.

Hipérboles dão colorido à linguagem e não costumam ter contra-indicações. Mas há exceções, a meu ver. Quando se diz que uma chuva mais forte é um dilúvio, dá-se algo interessante: a chuva se agiganta e o dilúvio encolhe. Não há como escapar disso. Ao se aproximarem subitamente, a palavra fria e a palavra quente chegam a um equilíbrio termodinâmico. E alguma energia semântica sempre se perde no processo.

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No caso do dilúvio, isso não é problema algum. Nos casos de nazista e fascista, é. Esses termos estão tão carregados de história, uma história tão dolorosa e infame, que merecem cuidado. Nazista sem racismo e genocídio não é nazista. É leviandade e perda de memória.

Hipérbole demais provoca anemia. Um dia, como o menino que gritava lobo, poderemos descobrir que ninguém mais nos leva a sério, e aí será tarde demais.

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