O Big Brother que vê e é visto
A estreia da décima quarta temporada do “Big Brother Brasil”, da TV Globo, ocorrerá no próximo dia 14, mas o programa já mostrou esta semana nas redes sociais – com a divulgação da lista de participantes – que continua capaz de marcar o calendário cultural brasileiro entre o Ano Novo e o Carnaval. Para alegria […]
A estreia da décima quarta temporada do “Big Brother Brasil”, da TV Globo, ocorrerá no próximo dia 14, mas o programa já mostrou esta semana nas redes sociais – com a divulgação da lista de participantes – que continua capaz de marcar o calendário cultural brasileiro entre o Ano Novo e o Carnaval. Para alegria de muitos e desolação de outros tantos.
Como se sabe, o nome Big Brother foi tirado pela produtora holandesa Endemol, que criou o programa em 1999, de “1984”, romance distópico que o escritor inglês George Orwell terminou de escrever em 1948, pouco antes de morrer. O livro quase se chamou “O último homem da Europa”, mas Orwell acabou optando por situar desde o título o futuro sombrio em que se passa a ação num ano que invertia os dois últimos algarismos daquele em que nasceu a obra.
Big Brother, ou Grande Irmão na tradução para o português, é como se chama o líder da sociedade totalitária descrita em “1984”, que tudo vê e tudo controla – uma evidente referência a Josef Stalin. A ditadura soviética já havia sido satirizada por Orwell, politicamente identificado com o “socialismo democrático”, em “A revolução dos bichos”. No entanto, o próprio autor escreveu que seu último romance deveria ser compreendido como algo mais amplo, “uma mostra das perversões a que está sujeita uma economia centralizada e que já se concretizaram parcialmente no comunismo e no fascismo”.
Não deixa de ser curioso – e um exemplo do poder corruptor da Novilíngua, outra sacada de Orwell no livro – que o Big Brother reapareça como nome de um programa televisivo de massa em sociedades de economia descentralizada, esvaziado do seu conteúdo crítico e transformado em senha para a celebração do voyeurismo, do narcisismo e do consumo. Como observa o crítico George Steiner, Orwell pregava uma recusa “tanto do totalitarismo stalinista quanto da cultura anti-histórica de massas do capitalismo americano”. Ganhou um jogo e perdeu o outro.