Casal gay? Isso está certo? Está
Hoje a “palavra da semana” é uma expressão que, em uso há muito tempo na língua das ruas, foi trazida ao centro do palco pela decisão do Supremo Tribunal Federal de reconhecer a união estável de parceiros do mesmo sexo: casal gay. Por sua atualidade, reproduzo abaixo a coluna publicada neste espaço no dia 1º. […]
Hoje a “palavra da semana” é uma expressão que, em uso há muito tempo na língua das ruas, foi trazida ao centro do palco pela decisão do Supremo Tribunal Federal de reconhecer a união estável de parceiros do mesmo sexo: casal gay. Por sua atualidade, reproduzo abaixo a coluna publicada neste espaço no dia 1º. de agosto do ano passado, a propósito do primeiro casamento gay celebrado na Argentina.
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“Dois homens, que estão juntos há 27 anos, se tornaram nesta sexta-feira o primeiro casal gay a celebrar uma união civil na Argentina”, leio aqui em VEJA.com.
Está certo. Quem diz – e muita gente diz – que “casal gay” é um contrassenso, argumentando que casal implica necessariamente os dois sexos, externa uma restrição moral ou religiosa embrulhada numa análise linguística pobre.
A acepção mais corrente de casal exclui mesmo os gays: “par composto de macho e fêmea, ou marido e mulher” (Aurélio). Mas esta é só uma das acepções de casal, que uma ampliação semântica transformou faz tempo em sinônimo de par, dupla, sem referência a gênero: “duas coisas iguais; par, parelha” (Houaiss). Atenção para “iguais”.
Há outras formas de aparar esse golpe do gato-mestrismo linguístico. O sentido original de casal era casa pequena e rústica ou conjunto de habitações desse tipo. Depois, por extensão de sentido, a palavra passou a nomear também quem ali morava. “No sentido de par de animais de sexos diferentes, (casal) vem da idéia de viverem eles juntos no mesmo casal”, diz o etimologista Antenor Nascentes. Ou seja, o foco é o endereço, não o gênero. Na Idade Média, quando surgiu a palavra, leis e costumes não permitiam aplicá-la a parceiros do mesmo sexo. Mas não estamos na Idade Média.
As escolhas que cada um faz em sua linguagem pessoal são soberanas, um direito inalienável. Melhor assumi-las do que partir à caça de “erros” que não estão lá, tentando legitimar tecnicamente uma opção que no fundo é política.