Violência na Palestina e no Brasil: semelhanças e diferenças
Os métodos de combate à violência de Israel são iguais aos do Brasil. Os resultados, também
A faixa de Gaza (assim como a Cisjordânia) é um território pequeno, lotado de moradores miseráveis sem perspectiva concreta de melhorar de vida. É controlada por uma minoria não eleita, rancorosa e afeita à violência. Logo ao lado está Israel, país rico e próspero.
Israel não está presente em Gaza, mas de vez em quando faz operações militares contra os terroristas, provocando destruição e morte, inclusive de inocentes. Tais operações nunca resolvem o problema da violência.
Lembra alguma coisa?
Gaza tem muitas semelhanças com a situação das favelas brasileiras, onde se amontoa uma população miserável sem perspectiva concreta de melhorar de vida. As favelas também estão a pequena distância de bairros ricos e prósperos.
O Estado brasileiro não está presente nas favelas — que são controladas por traficantes e milicianos violentos —, mas de vez em quando faz operações policiais que provocam destruição e morte, inclusive de inocentes. Tais operações nunca resolvem o problema da violência.
As causas e os aspectos da violência, no entanto, são bem diferentes.
A violência na Palestina tem sua origem em uma disputa por território que começou há cerca de 100 anos, e foi alimentada pela violência e pelo ressentimento desde então. Árabes e judeus se ressentem tanto do Ocidente, pelo qual foram traídos em diversas ocasiões, como uns dos outros. A disputa, como não poderia deixar de ser, derivou para ódio racial. É uma briga onde ninguém tem razão. E ambos têm razão.
A violência nas favelas brasileiras passa por duas questões distintas. Uma é recente, data de 40 anos atrás, época em que se deixou de tratar a droga como questão de saúde pública para tratá-la como questão de polícia. Outra foi construída no decorrer de séculos: o racismo. As duas estão tão misturadas que, quando a polícia mata, nunca se sabe por que mata.
Semelhantes são também os caminhos escolhidos pelos Estados israelense e brasileiro para combater a violência (repressão e mais violência), assim como os resultados obtidos (nulos). Enquanto as perspectivas de vida não melhorarem nas regiões afetadas, tanto Hamas como o tráfico terão ao seu dispor fontes inesgotáveis onde recrutar soldados. Israel e Brasil podem matar quantos terroristas e traficantes quiserem, sempre aparecerão outros.
Por fim, há mais duas grandes diferenças entre a Palestina e o Brasil, que tornam o combate à violência mais fácil aqui. Uma é que as favelas ficam no Brasil, e o Estado tem o poder de dar saneamento, escolas de qualidade etc. para os moradores. A outra é que o Estado tem o poder de abandonar a política da Guerra às Drogas — reconhecida como fracassada na maior parte dos países do mundo — a qualquer momento. O que falta é se dar conta de que essas providências são necessárias.