Violência: as ideias de Lula
Quem viu a live do presidente sem prestar muita atenção deve ter sentido algum alento. Quem prestou atenção sentiu o mesmo desânimo de sempre.

Lula falou da violência na live. Prestou solidariedade à população do Rio e de outros estados e prometeu “não lavar as mãos” diante do problema. Quem não prestou muita atenção deve ter sentido algum alento.
Para quem prestou atenção, foi mais do desalento de sempre.
Lula afirmou que a violência “acaba” se tornando problema do governo federal e escolheu verbos como ajudar, apoiar, compartilhar, discutir. Ficou claro que entende que o problema é acima de tudo dos estados e que ao governo federal cabe um papel de coadjuvante.
Ou seja, não é só que Lula não tenha feito qualquer qualquer proposta nem tenha se comprometido com coisa alguma: ele tem certeza de que a responsabilidade pelo problema não é sua.
Lula está errado. É mentira que segurança seja atribuição dos estados: segurança é obrigação solidária de todas as esferas de poder. Controle de fronteiras e de rodovias, combate ao terrorismo, investigação de crime financeiro e legislação penal são federais. A PM é um braço do Exército. Facções criminosas são transestaduais, seu combate é necessariamente federal. No limite, existe o recurso da intervenção federal. Sem falar que grande parte do dinheiro usado pelos estados para combater a violência vem da União.
Quando deixou o governo, FHC fez um mea-culpa sobre não ter dado à segurança a prioridade adequada e declarou que ela seria “o plano real” de Lula. Lula e, depois, Dilma, passaram 14 anos afirmando que segurança não era problema deles.
Mas Lula acertou ao dizer que a violência está diretamente ligada à questão social. Afinal, se a população — seja aqui ou em Gaza — vive ao deus-dará e não tem qualquer perspectiva, o crime terá uma fonte inesgotável onde buscar mão-de-obra.
Esquisito é que Lula fale da questão na terceira pessoa, como se pouco tivesse a ver com isso. Durante os governos do PT, a renda da população subiu no começo e caiu no fim, e a qualidade dos serviços primordiais (saúde, educação básica, saneamento e, claro, segurança) continuou onde sempre esteve: abaixo da crítica.
E hoje, o que faz o PT? Tenta revogar a reforma do ensino médio (está feliz com a qualidade atual?). Tenta revogar o marco do saneamento (está feliz com a cobertura atual, de 50%?). Pouco fala de saúde. Tenta proibir presídios privados, por temer pelos direitos humanos (está feliz com a situação atual?). Cria subsídios para não-pobres.
E tenta se eximir de liderar o combate à violência.
Lula ainda usou a live para tirar uma casquinha do desastre fazendo demagogia de palaque. “Não é possível que o povo do Rio tenha que sofrer tanto”, afirmou… como se não tivesse nada com isso.
(Por Ricardo Rangel, em 25/10/2023)