Assine VEJA por R$2,00/semana
Ricardo Rangel
Continua após publicidade

Não está para peixe

A determinação do STF mudou o centro de gravidade em Brasília

Por Ricardo Rangel Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 19 jun 2020, 14h39 - Publicado em 19 jun 2020, 06h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • A promessa de que os militares palacianos moderariam os arroubos autoritários do presidente frustrou-se há tempos. Deu-se o oposto: Bolsonaro radicalizou seus militares. São eles que conduzem a insana política de saúde, cooptam o Centrão para barrar o impeachment, intimidam o Supremo Tribunal Federal.

    Publicidade

    A adesão a Bolsonaro por parte dos palacianos foi tão despudorada que a sociedade entendeu que o risco de ruptura democrática era real e se organizou para impedi-la. Com o Congresso paralisado pelo Centrão e a Procuradoria-Geral da República ocupada por alguém cujos colegas chamam de “procurador-geral do Bolsonaro”, coube ao Supremo a tarefa de ser intolerante com a intolerância. E o fez com maestria: preparou-se e, em apenas 48 horas, ordenou prisões e operações de busca e apreen­são, quebrou sigilos bancários, negou habeas-corpus a Weintraub.

    Publicidade

    ASSINE VEJA

    Acharam o Queiroz. E perto demais Leia nesta edição: como a prisão do ex-policial pode afetar o destino do governo Bolsonaro e, na cobertura sobre Covid-19, a estabilização do número de mortes no Brasil ()
    Clique e Assine

    A determinação do Supremo mudou o centro de gravidade da política em Brasília. O governador do Distrito Federal, um dos mais próximos ao presidente, desmantelou acampamentos, proibiu manifestações, demitiu o subcomandante da PM que permitiu o ataque ao prédio do STF e anunciou que vai prender recalcitrantes. O procurador-geral Augusto Aras, em que pese sua proximidade com o presidente, foi quem pediu as ações contra o bolsonarismo radical.

    Continua após a publicidade

    “Governos são diferentes de navios: quando eles começam a afundar, os ratos embarcam”

    Publicidade

    Dias antes de ordenar as ações, o Supremo enviou Gilmar Mendes para uma visita “de cortesia” ao general Edson Pujol. O objetivo aparente era desfazer a narrativa bolsonarista de que o tribunal impede o governo de funcionar e quer “tomar o poder”, mas é provável que Gilmar tenha adiantado ao comandante do Exército as ações que estavam por vir. O simples fato de Pujol ter aceitado receber Gilmar é uma sinalização de que o Alto-Comando do Exército não endossa as declarações golpistas dos generais palacianos.

    O governo ficou atordoado: em vez da costumeira agressividade, Bolsonaro respondeu com 48 horas de silêncio retumbante e, enfim, uma sequência de tuítes cautelosos. Mourão defendeu um “diálogo harmonioso” entre Executivo e Judiciário, e disse que há um “ruído de comunicação” a ser superado. Os generais palacianos permaneceram calados. Até os filhotes deram declarações conciliadoras. A única agressividade que o governo manteve foi intestina: brigou consigo mesmo, a ala militar tentando demitir o ministro da Educação, a ala olavo-­filial tentando dobrar a aposta e mantê-­lo no cargo. Mas o “acabou, porra!” acabou. Pelo menos por enquanto.

    Publicidade
    Continua após a publicidade

    A investigação está na porta do Palácio do Planalto, e, pela ordem natural das coisas, deverá estar do lado de dentro em algumas semanas. Este é aquele momento em que quem está no governo se pergunta o que está fazendo lá, e olha com inveja para Sergio Moro e Mansueto Almeida, que, um por sorte, outro por juízo, abandonaram o barco antes do naufrágio. Governos são diferentes de navios: quando eles começam a afundar, os melhores quadros se vão e os ratos embarcam — a chegada do Centrão ao ministério não é coincidência.

    O mar de Jair Bolsonaro não está para peixe.

    Publicidade

    Publicado em VEJA de 24 de junho de 2020, edição nº 2692

    Continua após a publicidade
    Publicidade
    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Domine o fato. Confie na fonte.

    10 grandes marcas em uma única assinatura digital

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo
    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 2,00/semana*

    ou
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 39,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.