Federar não é um meio de sobreviver
A única coisa que diferencia federação de fusão são alguns poucos anos
Ninguém discorda de que é impossível ter uma democracia funcional com 25 partidos no Congresso Nacional.
A cláusula de barreira promete botar ordem na bagunça: com ela, o partido só terá representação se tiver 2% dos votos válidos ou eleger no mínimo 11 deputados federais distribuídos por pelo menos 9 estados. Quem tiver pouca representatividade, que se funda com partidos similares para ganhar corpo. Ou se transforme em uma corrente de um partido maior. Ou desapareça. É a vida.
Para reduzir o (brutal) impacto da cláusula de barreira, inventou-se algo chamado “federação” de partidos. Partidos que se federarem lançarão candidatos na mesma nominata e terão que operar como se fossem um partido só durante quatro anos.
Se o STF não mudar a decisão do ministro Luiz Roberto Barroso, o prazo para o anúncio de federações é abril, motivo pelo qual a negociação entre partidos está fervendo. Há muita gente tratando a federação como uma tábua de salvação que garanta a sobrevivência dos partidos menores.
Há quem suponha que será possível federar e manter a identidade do partido nesses quatro anos vindouros. Ou que quem é pequeno pode se tornar maior e ficar novamente autônomo a partir de 2026.
É uma ilusão.
Partido pequeno que não se fundir ou federar agora, vai desaparecer já em outubro (é o risco que correm o PSOL ou a Rede, por exemplo). Partido pequeno ou médio que se federar com partido grande, tem que saber que vai ser engolido pelo grande em poucos anos (é o risco que corre o PSB na federação com o PT, por exemplo).
Partido pequeno que se orgulha de ter identidade e coerência ideológica, se quiser manter suas bandeiras vivas, tem que federar com outros partidos pequenos dentro do entendimento de que a fusão é inevitável. E passar os próximos anos negociando para alcançar um desenho de partido em que suas bandeiras não se tornem apêndices.
Qualquer coisa fora disso é autoengano.