Dino erra a primeira vez…
O ministro da Justiça insulta os eleitores de cujos votos precisa
Pela manhã, a respeito da vitória de Javier Milei nas primárias argentinas, Flavio Dino tuitou: “A história mostra: em eleições, os monstros de extrema-direita só chegam ao poder quando o centro e os liberais caminham com as aberrações. E quando o fazem, se arrependem.” De quebra, deu uma paulada no centro e nos liberais, que, a seu juízo, apoiaram Bolsonaro e se arrependeram.
É curiosa essa fixação cristã que parte da esquerda brasileira tem na moral, na culpa, no mal. Tudo de muito ruim que ocorre é porque alguém (sempre o centro e os liberais) são maus ou compactuaram com o mal. Essa esquerda, que se considera monopolista da virtude, acredita que todo mundo que é decente tem obrigação de votar nela — e quem não o faz, é porque tem alguma falha de caráter. (Marx não tinha esse cacoete: achava que a economia predominava e abordava a política pela lente da luta de classes, não da moral.)
Dino está errado de várias maneiras. Para começar, centro e liberais não são a mesma coisa nem votam juntos. Liberais de verdade são poucos e não apoiaram nem Milei nem Bolsonaro. Já o centro é uma coisa enorme, difusa e sem identidade ideológica. Como é grande parcela do partido do ministro, o PSB, que apoiou e ainda apoia Bolsonaro em vários lugares do país. Foi do PSB que veio a senadora bolsonarista, ex-ministra da agricultura, por exemplo.
A tese do monopólio da virtude seria arrogante se não fosse ridícula. Na Argentina, a esquerda promoveu uma catástrofe econômica e levou a inflação a mais de 100%. Cristina foi condenada a seis anos de cadeia por corrupção e chegou a ser acusada de mandar matar um promotor público. No Brasil, que dizer de mensalão, petrolão e do caos econômico, que provocou uma brutal recessão e fez o desemprego disparar?
Além disso — perguntar não ofende — quando chegam ao poder os monstros da extrema-esquerda, como Stalin, Mao, Kim e Pol Pot, também é culpa do centro e dos liberais?
Foi por um triz que Lula não perdeu a eleição. Dino e o resto da esquerda deveriam estar mais interessados em reconquistar os votos que perderam do que em insultar os eleitores donos desses votos.
Afinal, 2026 é amanhã.