A crise no DEM escancara o quanto o Brasil é surreal.
ACM Neto, presidente do DEM, partido integrante da aliança anti-Bolsonaro, cogita apoiar Bolsonaro em 2022. Surgiram boatos de que ACM Neto poderia ser vice de Bolsonaro ou que este poderia se filiar ao DEM.
Já Rodrigo Maia negocia com Luciano Bivar, presidente e dono do PSL, para, quem sabe, se filiar ao partido pelo qual se elegeu seu arqui-inimigo, Jair Bolsonaro.
São hipóteses remotas. ACM Neto dificilmente deixará de concorrer ao governo da Bahia, e, sendo seu estado um dos mais antibolsonaristas do país, se abraçar com Bolsonaro pode ser um suicídio político. Rodrigo Maia não há de se meter no partido onde está gente como Bia Kicis e Carla Zambelli, nem deve querer atrelar seu destino a alguém como Bivar.
Mas o simples fato de esse troca-troca ser sequer imaginável demonstra o grau de maluquice que é a política nacional.
O PSL, aliás, é um excelente resumo da maluquice. Em 2017, Luciano Bivar, dono do que sempre foi uma legenda de aluguel, fez um acordo com o Livres — movimento cívico liberal de verdade (não só em economia, mas também em política e costumes) — para tornar o PSL um partido respeitável e fiel ao nome (Social Liberal). Mas, em 2018, Bivar traiu o Livres, cujo representante em Pernambuco era seu próprio filho, e se aliou a Bolsonaro.
Em 2019, Bolsonaro e Bivar saíram no pau porque o primeiro queria tomar o controle da verba partidária e o segundo não permitiu. Bolsonaro foi forçado a sair, e Bivar perseguiu os bolsonaristas o quanto pôde. Em 2020, Bolsonaro e Bivar já estavam conversando para o presidente voltar ao partido. Agora, em 2021, Bivar já está negociando com o maior inimigo de Bolsonaro para transformar seu partido em plataforma antibolsonarista.
O PSL é uma aula de como (não) funciona a política brasileira.