VEJA 8 – Diogo: A era do cacarejo
Rimbaud espancava Verlaine. Eu invejo Rimbaud. Eu gostaria de ter espancado Verlaine. Eu gostaria de ter espancado qualquer poeta simbolista. Verlaine vingou-se alguns anos mais tarde, num quarto de hotel, dando dois tiros em Rimbaud. Eu também invejo Verlaine. Ele tinha apenas má pontaria. A editora Topbooks, depois de publicar os poemas de Rimbaud, agora […]
Rimbaud espancava Verlaine. Eu invejo Rimbaud. Eu gostaria de ter espancado Verlaine. Eu gostaria de ter espancado qualquer poeta simbolista. Verlaine vingou-se alguns anos mais tarde, num quarto de hotel, dando dois tiros em Rimbaud. Eu também invejo Verlaine. Ele tinha apenas má pontaria.
A editora Topbooks, depois de publicar os poemas de Rimbaud, agora publicou suas cartas, otimamente traduzidas e comentadas por Ivo Barroso. O primeiro lote de cartas mostra Rimbaud e Verlaine espancando um ao outro e atirando um no outro. Qual é o interesse disso? Para mim, nenhum. Eu poria os dois na cadeia. De fato, os dois foram parar na cadeia. O que realmente interessa é o segundo lote de cartas, escritas a partir de 1875, quando Rimbaud abandonou a poesia e passou a perambular de um lado para o outro. Num intervalo de apenas dezesseis anos – ele morreu em 1891 -, Rimbaud fez tudo o que uma pessoa dotada de um pingo de senso de dignidade quereria fazer: foi embora de Paris, que é uma cidade de maricotes; entranhou-se no deserto etíope, contraindo uma série de enfermidades; comercializou camelos e escravos; ganhou dinheiro e perdeu dinheiro; negociou armas dos mais variados calibres, permitindo o massacre de um monte de gente inocente; pegou um tumor no joelho e teve a perna amputada; morreu sozinho em Marselha, com muitas dores e pedindo ajuda a Deus, que caprichosamente se recusou a ajudá-lo. Aqui