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UNIVERSIDADE DO LULA: BRASIL, AME-O OU DEIXE-O

Já expus aqui mais de uma vez o filtro ideológico que passou a vigorar no processo de seleção para ingresso nas universidades públicas brasileiras. Exige-se do aluno que demonstre o seu, como é mesmo?, compromisso com as “questões sociais”. Dito assim, parece bacana. Ocorre que esse tal “compromisso” não é, como sabem, um valor absoluto. […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 18h12 - Publicado em 5 fev 2009, 19h03
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  • Já expus aqui mais de uma vez o filtro ideológico que passou a vigorar no processo de seleção para ingresso nas universidades públicas brasileiras. Exige-se do aluno que demonstre o seu, como é mesmo?, compromisso com as “questões sociais”. Dito assim, parece bacana. Ocorre que esse tal “compromisso” não é, como sabem, um valor absoluto. Exige-se a sua adequação a um corte ideológico — de esquerda — e a uma agenda: a do PT. Pois bem, estão atingindo o estado da arte na manipulação e na vigarice.

    A prova de redação do vestibular da Universidade Federal do Pará é um escândalo sob muitos pontos de vista. Supostamente inspirados num texto de Cecília Meireles — A Arte de ser feliz —, para o qual se formulam questões (energúmenas, diga-se) de interpretação, os examinadores elaboraram a seguinte prova de redação:

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    A vida é marcada por acontecimentos que são fonte de satisfação, contentamento, prazer e por acontecimentos que são fonte de desânimo e angústia. O brasileiro, por exemplo, convive com a desigualdade social, com inúmeras formas de carência, com atos de violência, no entanto tem também motivos para felicidade. Escreva um texto em prosa em que você exponha um dos motivos pelos quais se sente feliz por ser brasileiro, apresentando argumentos consistentes que justifiquem seu sentimento de felicidade

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    Vamos lá
    Sugiro que a Universidade Federal do Pará adote Marcelo Coelho, colunista da Folha, como patrono. Dia desses, ele esculhambou a mim e a três outros colunistas, dois deles da própria Folha, acusando-nos de “pessimistas” e “sombrios”. Em posts do seu blog, acabou fazendo uma defesa oblíqua do petismo. Como vocês percebem, estamos diante de uma mentalidade, que caracteriza uma época.

    Comecemos pelo aspecto moral, individual e existencial da prova.
    A – é possível ser feliz sem que isso tenha qualquer relação com o Brasil;
    B – é possível ser feliz, APESAR de ser brasileiro;
    C – é possível que alguém considere que a felicidade, dados os fatores apresentados na própria formulação, é inviável;
    D – é possível que existam pessoas infelizes sem que isso tenha qualquer relação com o Brasil e suas dificuldades;

    E – é possível haver quem nunca tenha pensado no assunto.

    Se é de felicidade pessoal que se está falando, como é que o examinador pode impor ao candidato um ponto de vista? E se ele considerar que ser brasileiro é mesmo uma porcaria? Não pode? Convenham: ser brasileiro não é como ser corintiano. Não é uma questão de gosto, de opção. ode ser uma fatalidade. Pois é. Então chegamos ao aspecto perverso da coisa e ao óbvio viés ideológico da prova.

    A formulação induz o candidato a falar sobre os motivos que “o brasileiro” tem para ser feliz. E a referência aos problemas sociais ali fornece uma pista. Quem, devidamente afinado com estes tempos, afirmar que se sente feliz porque, finalmente, há um governo ocupado das questões sociais já está com pelos dois pés na vaga… E, claro, haverá os incrédulos que saberão jogar as regras do jogo: “Querem elogio? Então tomem elogio; eu quero é passar”.

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    E pobre de quem não encontrar motivos para felicidade e resolver ser sincero. Vai levar zero. A prova já fornece a tese: “Você tem motivos para ser feliz; queremos saber se são os motivos certos”. Sim, isto mesmo: assim como Marcelo Coelho não quer “pessimistas sombrios” escrevendo em jornais, blogs e revistas, a Universidade Federal do Pará não quer saber de pessoas infelizes. Por lá, parece, todo mundo deve ter aquela exuberante alegria da família Carepa… Deus meu! Universidade Federal do Pará… A casa de Benedito Nunes, um patrimônio da inteligência nacional, amigo e melhor crítico de Mário Faustino.

    Nem durante a ditadura se viu coisa assim — não em exames oficiais. Havia, claro, os propagandistas meio apalhaçados do regime, como a dupla Dom e Ravel. A música “Eu te amo, meu Brasil” virou uma febre nacional. Até a nossa mulher tinha mais amor:

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    As praias do Brasil ensolaradas
    O chão onde o país se elevou
    A mão de Deus abençoou
    Mulher que nasce aqui tem muito mais amor

    O céu do meu Brasil tem mais estrelas
    O sol do meu país mais esplendor
    A mão de Deus abençoou
    Em terras brasileiras vou plantar amor

    Eu te amo, meu Brasil, eu te amo
    Meu coração é verde, amarelo, branco, azul anil
    Eu te amo, meu Brasil, eu te amo
    Ninguém segura a juventude do Brasil

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    As praias do Brasil ensolaradas
    O chão onde o país se elevou
    A mão de Deus abençoou
    Mulher que nasce aqui tem muito mais amor

    O céu do meu Brasil tem mais estrelas
    O sol do meu país mais esplendor
    A mão de Deus abençoou
    Em terras brasileiras vou plantar amor

    Eu te amo, meu Brasil, eu te amo
    Meu coração é verde, amarelo, branco, azul anil
    Eu te amo, meu Brasil, eu te amo
    Ninguém segura a juventude do Brasil, Brasil

    Questão de tempo
    Anotem aí: é uma questão de tempo Lula fazer um discurso convidando os “pessimistas sombrios” de Marcelo Coelho a deixar o país. É só a crise se agravar um pouquinho. Voltaremos ao “Ame-o ou deixe-o”.

    Como sabemos, a infelicidade é uma expressão da falta de patriotismo…

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