“Apesar de nunca ter participado de discussões finais de preços ou contratos – tarefa de Mônica Moura –, João Santana participou dos encaminhamentos iniciais e decisivos com Antonio Palocci. Nestes encontros ficou claro que Lula sabia de todos os detalhes, de todos os pagamentos por fora recebidos pela Pólis [empresa de Santana], porque Antonio Palocci, então ministro da Fazenda, sempre alegava que as decisões definitivas dependiam da ‘palavra final do chefe'”.
O trecho acima compõe um dos anexos da delação premiada de João Santana, ex-marqueteiro do PT, e de sua mulher, Mônica Moura, a que a Folha teve acesso. O casal sustenta ainda que também Dilma Rousseff sabia dos pagamentos feitos pela Odebrecht por intermédio do caixa dois.
A ex-presidente afirmou que Santana e Mônica “prestaram falso testemunho e faltaram com a verdade em seus depoimentos, provavelmente pressionados pelas ameaças dos investigadores”. Ouvido pela reportagem do jornal, Cristiano Zanin, advogado de Lula, destacou: “Como [as declarações] foram prestadas em uma delação, elas nada provam. Delações são negociações que o Ministério Público Federal faz com pessoas que confessam a prática de crimes e desejam sair da prisão ou obter outros benefícios”.
Pequena confusão
Dá-se de barato por aí que delações só são homologadas se o colaborador apresentar “provas”. Logo, todas seriam verdadeiras. Não é assim. A prova propriamente terá de ser apresentada em outra fase do processo. Num acordo de delação, basta que a narrativa oferecida seja compatível com a leitura que faz o Ministério Público da arquitetura criminosa.