Revogação de reajuste em SP e Rio premia um método delinquente de militância. É o triunfo da irracionalidade sobre o bom senso, da voz rouca e dos ouvidos surdos
Na madrugada, tome textão sobre as implicações políticas das decisões tomadas em São Paulo e Rio. Por muito menos, posso escrever alguns quilômetros. Não sei se alguns odeiam em mim mais a ideia do que a disposição, hehe. Vamos a um aspecto fundamental dessa história toda: a revogação do reajuste premia um método de mobilização. […]
Na madrugada, tome textão sobre as implicações políticas das decisões tomadas em São Paulo e Rio. Por muito menos, posso escrever alguns quilômetros. Não sei se alguns odeiam em mim mais a ideia do que a disposição, hehe. Vamos a um aspecto fundamental dessa história toda: a revogação do reajuste premia um método de mobilização. Como vocês podem ver pelo título, eu não estou disposto a dar piscadelas para ele. De jeito nenhum! “Ah, mas é ruim para o PT…” Ainda que fosse, e daí? A minha profissão não é ser antipetista. Eu sou antipetista por causa dos métodos a que recorre o partido, não por fetiche. Se, amanhã, neonazistas começarem a agredir o PT, eu pedirei cadeia para os neonazistas, compreenderam? De resto — e já anuncio um dos temas da madrugada —, será que isso é mesmo tão ruim para o, digamos, espírito esquerdista? Só libertários do miolo mole caem nessa. Quanta coisa temos pela frente, né? Volto ao ponto.
1: está premiado um método de pressão que consiste em paralisar as cidades, num simulacro de democracia direta, sem mediação, que se recusa ao diálogo.
2: Há uma boa chance de que o método premiado também seja consagrado como normalidade. Quando alguém tiver alguma demanda ao poder público, basta parar as principais vias da cidade. Não é preciso contar com 65 mil de São Paulo ou os 100 mil do Rio. Pode-se fazê-lo com 5 mil: basta que grupelhos de 300 interditem o trânsito nas principais vias.
3: entendeu-se, no caso das manifestações, que o uso da polícia para restabelecer o direito constitucional de ir e vir é ilegítimo e deve, quem sabe?, ser declarado ilegal. É grande, então, a chance de que se consagre como norma a violação da Constituição.
4: no campo, já era corriqueiro o desrespeito permanente à lei; esse valor chega agora às cidades.
5: neste momento, e vamos ver por quanto tempo, há um novo ator que deve ser levado em conta: o Movimento Passe Livre. A sociologia babona acha “liiindo” que eles digam não ter partido. Será que não tem mesmo? Tratarei desse assunto também na madrugada.
6: o tal Passe Livre deixou claro na reunião com Haddad que entende, NUM PRIMEIRO MOMENTO, a revogação do aumento como um congelamento. Foi anunciado lá na Prefeitura: se e quando houver novo reajuste, a cidade para outra vez.
7: a pauta permanente do Passe Livre não é o congelamento, mas a tarifa gratuita. Mayara Vivian acha que transporte é direito e que as coisas que são matéria de direito não podem conviver com o lucro e com empresas privadas. O raciocínio da geógrafa e garçonete, levado ao limite, nos conduz à socialização plena. Afinal, divertir-se e tomar umas cervejas no bar em que ela trabalha também constituem matéria de… direito. Então viva o socialismo com, eventualmente, direito à gorjeta.
8: desculpo-me, claro, por não estar freudianamente buscando o mal-estar da civilização. A minha pegada é outra: acho que a irresponsabilidade de algumas autoridades se casou com a de amplos setores da imprensa, que resolveram confundir a reivindicação de privilégios — como o de impor ao outro a sua vontade — com direitos.
9: estamos diante de um caso típico em que à celebração na praça da “vitória” corresponde uma regressão de caráter institucional. Revogar um reajuste de 20 centavos na tarifa de ônibus à custa do corte de milhões em investimentos é o triunfo da irracionalidade, da estupidez, da voz literalmente rouca e surda da minoria que estava nas ruas. Rouca de tanto gritar. Surda porque não sabe ouvir.
Só pra encerrar
Alguns bananas estão enviando agressões pra cá em meio a coisas omo: “Aí, você perdeu!” Eu??? Nadica de nada! Gastarei menos com vale-transporte. Não dá, é verdade, para comprar um maço de Hollywood, o único mato que queimo, comprado na padaria. E não, não me orgulho disso. É só um dos meus defeitos.
Agora vamos começar a campanha pela revogação da Copa do Mundo no Brasil, certo? Depois, vamos propor o assalto ao céu, utilizando como instrumento as barricadas do desejo.