RELIGIÃO, PRECONCEITO E TOLICES
A gritaria contra a reportagem de Márcio Aith, da Folha, que trata da denúncia que envolve Edir Macedo e outras nove pessoas ligadas à Igreja Universal do Reino de Deus, já chegou aqui. Não me impressiono com isso, não. São os de sempre. É aquela gente estranha, acometida de analfabetismo moral e ético, que sai […]
A gritaria contra a reportagem de Márcio Aith, da Folha, que trata da denúncia que envolve Edir Macedo e outras nove pessoas ligadas à Igreja Universal do Reino de Deus, já chegou aqui. Não me impressiono com isso, não. São os de sempre. É aquela gente estranha, acometida de analfabetismo moral e ético, que sai daqueles blogs que prestam serviços ao governo — e, no momento, a José Sarney —, cumprindo a tarefa do dia. Conforme eu previ, os mesmos que defendem Lula, Dilma e Sarney estão agora alinhados com Macedo.
Na semana passada, eles se entusiasmaram com as performances de Fernando Collor e Renan Calheiros. Se desconfiarem que o capeta também presta serviços ao petismo, não terão nenhum problema em dar o braço ao chifrudo, ao azucrim, ao barzabu, ao canhoto, ao excomungado, ao pé-cascudo, ao rabudo, ao zarapelho.
Uns poucos honestos entre os que fazem um reparo ou outro à reportagem afirmam que é preciso tomar cuidado para não generalizar, já que nem todas as denominações evangélicas são como a Universal. A reportagem nem de longe sugere isso. É claro que não são. E a seita de Macedo está longe de ser a maior entre as pentecostais. Ela só é a que conseguiu criar o maior grupo de empresas.
Um bestalhão afirmou que devo estar feliz porque, católico, divertir-me-ia com as notícias contra a Universal. Cretino! Em primeiro lugar, quem fez aquelas idas e vindas com dinheiro não fui eu, mas Macedo e sua turma. Ainda que eu estivesse contente, os responsáveis são os que praticaram os atos, entendeu? Se eu estivesse particularmente satisfeito, o que não é fato, isso seria só uma decorrência da descoberta dos atos do chefão da seita, não uma causa. Fui claro ou preciso desenhar um peixe na areia para você se lembrar a origem do Cristianismo?
É óbvio que nem todos os evangélicos ou neopentecostais são como Macedo. Assim como nem todos os católicos são como certos padres que fazem ginástica ou outros com pinta de acompanhantes de senhoras de fino trato. Há derivações teratológicas — em linguagem religiosa, a gente poderia dizer “heréticas” — em todas as crenças. A questão da Universal é particularmente interessante porque ela se tornou uma verdadeira máquina de conquistar concessões de rádio e TV e soube como ninguém transformar as doações de fiéis em empresas — para a honra e glória do Senhor, é claro.
Isso nada tem a ver com qualquer preconceito contra evangélicos ou protestantes. Quando um padre faz uma coisa errada — e olhem que não faltam padres para fazer besteiras, não é? Há até alguns que trocaram a Cruz pela foice e pelo martelo —, não me sinto minimamente obrigado a defendê-los: defendo é que a instituição seja preservada. Aliás, aqueles entre os nossos que pervertem os princípios são mais nefastos à causa do que os adversários reconhecidos.
A questão da Universal, então, é saber se existe uma instituição a ser preservada, que nada tenha a ver com eventuais desvios de conduta de seus chefões. Existe?