Vocês certamente se lembram deste vídeo. Vejam de novo. É curtinho.

httpv://www.youtube.com/watch?v=H9s1GSMY8OA

Trata-se da reação de Marco Aurélio Garcia, assessor especial do presidente Lula, e de um auxiliar seu ao ouvirem que havia um problema num dos reversores do avião da TAM  que, no dia 17 de julho de 2007, atravessou a pista de Congonhas, chocou-se com um prédio da própria empresa, pegou fogo e matou 199 pessoas. O acidente ocorreu em meio ao caos aéreo que havia tomado conta do país. O gesto de Marco Aurélio, com o seu “top, top”, e o de seu assessor, puxando contra os quadris um inimigo imaginário, denotam a preocupação do governo com as 199 vidas que se perderam. Eles se ocupavam de uma única coisa: sair da defensiva em que estavam e atacar os adversários. É para as oposições — e para a “mídia” — que o Rei do Tártaro bate a palma da mão contra o punho fechado; é com esses “inimigos” que aquele barbudinho imagina — que nojo!!! — estar copulando de modo forçado. Até ele considera que alguém naquela situação estaria mesmo sendo punido…

O relatório da Aeronáutica nem considerou que o reversor teve influência no acidente. O mais provável é que a causa principal tenha havido erro humano, não se descartando problema no sistema de transmissão de dados da aeronave. Mas as condições da pista de Congonhas — e, por isso, o governo era então criticado — também foram apontadas como fatores agravantes. A pista de Congonhas havia sido liberada, é bom lembrar, sem que as ranhuras tivessem sido concluídas. Bem, não vou entrar nos detalhes desse caso. Basta fazer uma pesquisa para rememorá-lo em detalhes.

Por que me volto agora para aquele fato? Porque a reação dos petralhas à queda daquelas vigas na obra do Rodoanel, em São Paulo, repetiu rigorosamente o mesmo padrão. De novo, essa gente pouco está se importando com o acidente em si — que, felizmente, não matou ninguém. Seu único e declarado objetivo é tirar dos próprios ombros suas responsabilidades — no caso, tentam tirar a todo custo o apagão do noticiário e substituí-lo pelo acidente do Rodoanel. E o fazem de um modo curioso, como sempre: Dilma e Lula não teriam nenhuma responsabilidade no apagão, mas o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), seria o culpado pela queda das vigas. ENTENDERAM? NÃO É QUE ELES ACHEM QUE É TUDO A MESMA COISA. Não!!! Lula e Dilma não têm de prestar contas de nada. Já o governador Serra…

A canalha, claro!, invadiu o blog: “Não vai comentar a tragédia (sic) do Rodoanel?”. Ou então: “Se você não comentar o Rodoanel, não confio mais em você” (gargalhada deste blogueiro…). Mais: “Vamos ver agora o que você fala”… Não é só a arraia-miúda. Parlamentares petistas decidiram também responder às críticas ao apagão com a questão das vigas, como se fossem coisas, ainda que longinquamente, equivalentes. Em suma, todos esses adotaram o padrão Marco Aurélio Top Top. Pouco importa o que aconteceu, o que eles querem é acusar os adversários.

É claro que o acidente na obra do Rodoanel tem de ser investigado com o máximo rigor. Que se cometeu ali algum erro, voluntária ou involuntariamente, é evidente. Ou as vigas não caem. Obras de engenharia obedecem a leis objetivas da física e da química e seguem padrões de exatidão matemática. Tudo se dando conforme o que já se sabe dessas ciências da natureza, a viga fica em pé. O TCU apontou irregularidades em partes da obra. Elas têm alguma relação com o ocorrido?

Vamos ver
1 – Alguém viu o governador José Serra desancando o TCU e propondo a sua substituição por uma espécie de tribunal de exceção, como querem fazer o governo federal e os petistas só porque o tribunal aponta problemas nas tais obras do PAC?

2 – Alguém viu o governador José Serra dando explicações esdrúxulas para a queda das vigas OU DECRETANDO QUE O CASO ESTÁ ENCERRADO? Ao contrário: determinou que a investigação das causas seja conduzida pelo IPT, da USP, órgão respeitado e independente.

3 – Alguém viu alguma reação histérica do governador ou o flagrou culpando Deus e a natureza pelo ocorrido?

Os petralhas querem que eu fale do assunto? Ora, claro que falo. Quero a apuração rigorosa, e, se houver dolo, que os responsáveis amarguem uma cana. Mas não vou tratar o apagão e a queda das vigas como coisas equivalentes só para lhes fazer a vontade ou para provar para o TPA — Tribunal dos Petistas Aloprados — que eu sou realmente um “cara independente”. A razão é simples: não os reconheço como meus juízes e estou me lixando para o que pensam a meu respeito.

Ora, não é só comportamento de um governo e o de outro que são, na compração, radicalmente diferentes. Não há paralelo possível entre as duas coisas. Um acidente localizado não tem o condão de pôr sob suspeição um setor fundamental da infra-estrutura do país, que é o coração mesmo do crescimento do país. Não por acaso, o mundo inteiro noticiou o apagão no Brasil e deu de ombros para um acidente ocorrido num canteiro de obras. Satanizem-se as empreiteiras o quanto for, mas suponho que não estejam aparelhadas pelos partidos que compõem a base de sustentação do governo estadual na Assembléia.

62 apagões só neste ano
Isso, reitero, em nada diminui a gravidade do que aconteceu. Mas é peça da mais pura pistolagem política tentar pôr em pratos opostos da balança o apagão e a queda das vigas. Informa a Folha deste domingo que, só neste ano, o país teve 62 apagões graves, 29% a mais do que no ano passado. Os dados são do ONS — Operador Nacional do Sistema. Entre as causas, falhas na manutenção de equipamentos e infra-estrutura deficiente.

Queda de viga? É grave, não deve acontecer, e os responsáveis têm de ser punidos. Mas não ameaça a futuro do país. Os apagões evidenciam falta de planejamento e execução deficiente do que se planejou — justamente questões de que este governo, Dilma Rousseff em particular, tanto se orgulha. Parece que a fama que  a ministra fez no Rio Grande do Sul começa a se confirmar: “Ela é muito competente em espalhar o boato de que ela é competente”. Ah, sim: também não vimos o governador José Serra dando pito na imprensa. Já a Dilma…

Não adianta eu recomendar aos petralhas que parem com ridicularias. Porque eles não vão parar. Também não lhes recomendarei que parem de comemorar o acidente no Rodoanel porque eles não vão parar. A sua natureza é aquela que se vê no vídeo que abre este post. Lula disse anteontem que será o primeiro ex-presidente a torcer para o seu sucessor ser bem-sucedido. Eu o critiquei num longo texto. Os sentimentos e as pessoas que ele mobiliza dizem muito bem da franqueza de seus propósitos.

Os urubus estão infelizes porque o acidente na obra do Rodoanel não matou ninguém. Eles são quem são e pertencem àquela escola de pensamento que rega suas demandas com o sangue alheio. Não há, nesse caso, cadáveres para fertilizar as suas esperanças. Mas ficarão à espreita, como urubus passeando a tarde inteira entre os girassóis, para citar Caetano Veloso, que não é da minha turma, mas mandou bem num adjetivo — e nem foi no “analfabeto” —- para qualificar o discurso de Lula: “cafona”.

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