Assine VEJA por R$2,00/semana
Reinaldo Azevedo Por Blog Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
Continua após publicidade

Ódio à democracia – Truculência, humilhação, mentiras, baixarias… É o Planalto operando no Congresso! Os petistas Vaccarezza e Paulo Teixeira comandaram o triste espetáculo!

Caros, o texto é um pouco longo, vai a minudências sobre o funcionamento de votações, mas, asseguro, é importante. Vamos lá. Foi um espetáculo de truculência como raramente se viu. Assistiu-se ontem no Congresso a uma conspirata para humilhar o Poder Legislativo, evidenciando a sua condição de mero caudatário do Poder Executivo. Pela terceira vez, […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 12h01 - Publicado em 12 Maio 2011, 07h53
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Caros, o texto é um pouco longo, vai a minudências sobre o funcionamento de votações, mas, asseguro, é importante. Vamos lá.

    Publicidade

    Foi um espetáculo de truculência como raramente se viu. Assistiu-se ontem no Congresso a uma conspirata para humilhar o Poder Legislativo, evidenciando a sua condição de mero caudatário do Poder Executivo. Pela terceira vez, adiou-se a votação do relatório do deputado Aldo Rebelo (PD do B-SP) de um novo Código Florestal. Só que os fatos ocorridos no fim da noite de ontem e início desta madrugada foram mais graves. Nas duas outras vezes, a Casa foi poupada do ritual de humilhação. Agora não! O Planalto fez questão de tratar os deputados de sua base como cãezinhos amestrados.

    Publicidade

    A coisa é um pouco enrolada, mas vamos ver se consigo sintetizar. Todo o dia de ontem foi ocupado na tentativa de se chegar a um consenso para pôr o texto em votação — o consenso possível. PV e PSOL, por exemplo, já haviam deixado claro que não aceitavam os fundamentos da proposta. Uma reunião no gabinete do presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), com os líderes dos partidos da base e da oposição celebrou um acordo que consistia no seguinte:
    – o governo abria mão da exigência de que os pequenos proprietários (até quatro módulos) também fossem obrigados a recompor a reserva legal;
    – no caso das Áreas de Preservação Permanente (APPs) — como beira de rios, por exemplo, muitas delas ocupadas há décadas pela agricultura, especialmente no Sul do país —, a regulamentação da ocupação se daria por decreto. Nota: o texto refere-se, reitero, a áreas já ocupadas; não é autorização para desmatamento novo;
    – a oposição teria direito a apresentar um destaque.

    E se foi, então, para a votação.

    Atenção, leitor! Esse texto, chamado de emenda aglutinativa do plenário, foi acompanhado pessoalmente pelo líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), e pelo líder do PMDB na Casa, Henrique Eduardo Alves (RN). Todas as lideranças assinaram simbolicamente o relatório final, inclusive Paulo Teixeira, o líder do PT (SP).

    Publicidade
    Continua após a publicidade

    Dois partidos tinham propostas para retirar o texto de votação: PSOL e PV. Os verdes desistiram da sua, e Ivan Valente (SP) defendeu, então, o adiamento em nome da turma do “Socialismo e Liberdade”. Ora, se Vaccarezza não queria votar o relatório de Aldo, bastaria ter chamado os seus “companheiros” de governismo e orientado: “A hora é agora; a gente diz ‘sim’ ao requerimento de Valente e pronto! Adia-se de novo!” MAS ISSO NÃO HUMILHARIA SEUS PARCEIROS O BASTANTE, OS MESMOS QUE HAVIAM DECIDIDO NA SALA DE MAIA QUE ERA HORA DE VOTAR. Vaccarezza permitiu que todos  os líderes de siglas governistas recomendassem a rejeição ao adiamento para, então, tomar a palavra.

    Grotesco
    E se viu, então, o grotesco! O mesmo homem que havia ajudado a costurar o acordo pedia aos partidos governistas que simplesmente MUDASSEM A ORIENTAÇÃO E QUE O “NÃO” À PROPOSTA DO PSOL FOSSE CONVERTIDO NUM “SIM”. Tratou-se de uma espécie de teste de fidelidade canina: “Deita, levanta, junto, morto!!!” Paulo Teixeira, líder do PT, obedeceu e anunciou que os petistas, a partir daquele momento, defendiam a retirada da proposta. E acusou o deputado Aldo Rebelo de ter alterado o texto combinado; alegou desconhecer a nova versão. Aldo o desmoralizou (ver post abaixo deste) ao exibir a sua assinatura no documento. Henrique Eduardo Alves (PMDN-RN), líder do PMDB, inverteu a orientação, mas, anunciou, é só para que o governo tenha tempo de mudar de idéia. Disse que seu partido não vota mais nada antes de aprovar o novo Código Florestal.

    O plenário, no entanto, rejeitou o adiamento; mais deputados se manifestaram contra a proposta de Valente do que a favor.  Então era para votar! Mas PMDB e PT pediram verificação de quórum, e Vaccarezza orientou os partidos da base a entrar em obstrução.  Só 190 deputados confirmaram presença. É necessário um mínimo de 257 para votar projetos (metade mais um). Pronto! Outro adiamento!

    Publicidade

    Mas que diabo aconteceu?
    Mas que diabo, afinal de contas, havia acontecido? Simples! A oposição tinha direito a um destaque, certo? E ela resolveu usá-lo justamente para tentar retirar do texto a prerrogativa de o governo decidir a vida dos agricultores por decreto. Atenção mais uma vez! O fato de os oposicionistas terem concordado com o texto-base e terem assinado o acordo não lhes tira o direito de, por intermédio do destaque, tentar mudar o texto. Ou ela está ali para quê?

    Continua após a publicidade

    Não sei como os jornais vão tratar disso nesta quinta — ou sexta, sei lá eu. No começo desta madrugada, o único portal que noticiava corretamente o que havia acontecido, sem qualquer viés opinativo, era o G1. O resto era militância vagabunda

    A truculência comandada por Vaccarezza não se voltou só contra a sua base, mas também contra os três partidos de oposição. Sabia que, por meio do destaque, eles tinham grande chance de retirar do governo o poder de decidir por decreto o que o pequeno agricultor pode ou não plantar. Aliás,  Dilma começa a ficar viciada nesse instrumento. Contra a Constituição, já decide por decreto o salário mínimo, por exemplo.

    Publicidade

    Nem oposição nem governo
    Aldo Rebelo é deputado da base do governo. Seu texto expressa a vontade da maioria esmagadora do Congresso, que representa os brasileiros, goste Marina Silva disso ou não. Anteontem, ela sugeriu que é o Executivo quem deve cuidar do assunto. Não era uma guerra entre oposição e governo, como Vaccarezza tentou fazer parecer.

    Há dias, vimos o Supremo Tribunal Federal assoberbar-se e assumir o lugar dos legisladores. Ontem, foi a fez de o Executivo passar o trator no Congresso. Como a reportagem vai cedendo lugar à militância, é bem possível que tudo seja noticiado, assim, com um indiscreto tom de vitória das “forças do bem”, a exemplo do que viu no caso casamento gay.

    Continua após a publicidade

    Para certos iluminados que andam por aí, a democracia sai ganhando sempre que o Congresso é humilhado.  Se a “causa” é boa, a democracia que se dane, certo?

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Domine o fato. Confie na fonte.

    10 grandes marcas em uma única assinatura digital

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo
    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 2,00/semana*

    ou
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 39,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.