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O homem e sua hora

Et in saecula saeculorum: mas Que século, este século – que ano Mais-que-bissexto, este – Ai, estações – Esta estação não é das chuvas, quando Os frutos se preparam, nem das secas, Quando os pomos preclaros se oferecem. (Nem podemos chamá-la primavera. Verão, outono, inverno, coisas que Profundamente, Herói, desconhecemos…) Esta é outra estação, quando […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 03h17 - Publicado em 13 ago 2014, 16h55
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  • Et in saecula saeculorum: mas
    Que século, este século – que ano
    Mais-que-bissexto, este –
    Ai, estações –
    Esta estação não é das chuvas, quando
    Os frutos se preparam, nem das secas,
    Quando os pomos preclaros se oferecem.
    (Nem podemos chamá-la primavera.
    Verão, outono, inverno, coisas que
    Profundamente, Herói, desconhecemos…)
    Esta é outra estação, quando um mês tomba,
    O décimo-terceiro, o Mais-que-Agosto,
    Como este dia é mais que sexta-feira
    E a Hora mais que sexta e roxa.

    Quando fui tirado da cama pela morte de Eduardo Campos, que tinha 49 anos, me vieram à mente estes versos do poeta Mário Faustino, o maior do século passado a juízo deste escriba, morto ele também num acidente aéreo, em Lima, aos 32 anos apenas. De Faustino, poder-se-ia dizer uma máxima sintetizada por outro poeta, Fernando Pessoa, herança da cultura grega: “Morre cedo o que os deuses amam”.

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    Não sei se os deuses amavam Eduardo Campos, mas o fato é que teve uma trajetória fulgurante na política e certamente tinha futuro no debate das ideias porque havia encontrado um espaço de militância, que fica vazio. Buscava conciliar um discurso com sotaque inequívoco de esquerda, mas sem se descuidar do mundo real.

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    Mas chegou a sua hora neste dia 13, como escreveu Faustino,  “o décimo-terceiro”, o “Mais-que-Agosto”, o dia que é mais que sexta-feira. E Campos está morto.

    Agora vem a fase da especulação sobre os motivos da tragédia. Nós, os vivos, tentaremos saber se tudo estava certo com o avião, se as revisões tinham sido feitas, se foi erro humano, se os pilotos resolveram desafiar a natureza. Tudo muito justo, tudo muito certo, tudo muito compatível com os que ficam.

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    Esta é, afinal, a nossa luta: buscar nos libertar da morte, convictos de que caminhamos para ela, e, tudo bem pesado, não há certeza maior do que essa. Mas a nós, os vivos, cumpre, sim, o esforço de cercar as margens de erro para que não sejamos surpreendidos pelo evitável.

    A morte de Eduardo Campos — que não estava prevista em nenhum manual de sociologia nem nas projeções pretensiosas dos que se arvoram em contar a história do futuro — certamente altera de forma significativa o futuro do Brasil.

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    A cada um de nós, reitero, cumpre cercar as margens de erro em busca do melhor destino. Mas há uma arbitragem que não fazemos. Na mitologia grega, as Moiras, três terríveis irmãs, decidiam o destino dos homens e até dos deuses. Cloto, que significa fiar, tecia o fio da vida; Láquesis, que quer dizer “sortear”, enrolava o fio tecido e decidia o que cada indivíduo iria experimentar em vida; e Átropos, cujo significado é afastar, cortava o fio.

    E era o fim. Átropos era o oitavo passageiro do Cessna 560 XL, prefixo PR-AFA.

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