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O cadáver de Celso Daniel volta a incomodar Gilberto Carvalho

O ministro Gilberto Carvalho diz que vai processar o delegado Romeu Tuma Junior. Isso e lá com ele. Em entrevista à VEJA, Tuma Junior o acusa de ter confessado a existência, sim, de um propinoduto em Santo André — nota: Carvalho era o braço-direito do prefeito. Mais do que isso. O agora ministro teria dito […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 04h50 - Publicado em 10 dez 2013, 06h21
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  • Carvalho: ele repudia a acusação e diz que processará Tuma Jr.

    Carvalho: ele repudia a acusação e diz que processará Tuma Jr.

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    O ministro Gilberto Carvalho diz que vai processar o delegado Romeu Tuma Junior. Isso e lá com ele. Em entrevista à VEJA, Tuma Junior o acusa de ter confessado a existência, sim, de um propinoduto em Santo André — nota: Carvalho era o braço-direito do prefeito. Mais do que isso. O agora ministro teria dito ao delegado que ele, pessoalmente, levava a dinheirama para José Dirceu.

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    Não é a primeira vez que o nome do petista graúdo aparece na história. O oftalmologista João Francisco Daniel, um dos irmãos de Celso, diz que Carvalho lhe fez, sim, a confissão. E nos mesmos termos.  Marcos Valério também afirmou à polícia que foi convidado a dar um cala-boca, com grana, em pessoas que chantageavam Carvalho e Lula, ameaçando contar o que sabiam sobre a morte do prefeito. Segundo disse, não aceitou a tarefa. Acho que é mais uma questão a ser investigada. Já escrevi sobre o estranho comportamento dos petistas quando Celso foi assassinado.

    Recuperem o noticiário de janeiro de 2002, por ocasião da morte do prefeito. Antes que qualquer pessoa aventasse publicamente a possibilidade de que o PT pudesse ter tido algum envolvimento, os petistas botaram a boca no trombone e saíram acusando a suposta tentativa de incriminar o partido, exigindo, em tom enérgico, que a polícia fizesse alguma coisa. Montou-se uma verdadeira operação de guerra para controlar o noticiário. No arquivo do blog, vocês encontram alguns textos a respeito. Celso foi o primeiro de uma impressionante série de oito cadáveres.

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    O prefeito morto era já o coordenador do programa de governo do então pré-candidato do PT à Presidência, Lula. O partido seria o primeiro a ter motivos para desconfiar de alguma motivação política para o sequestro e imediato assassinato. Deu-se, no entanto, o contrário: o partido praticamente exigia que a polícia declarasse que tudo não havia passado de crime comum.

    Celso Daniel com Lula pouco antes de ser assassinado

    Celso Daniel com Lula pouco antes de ser assassinado

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    O último morto, por causa desconhecida (!), foi o legista Carlos Delmonte Printes, que assegurou que Celso fora barbaramente torturado antes de ser assassinado. Luiz Eduardo Greenhalgh, advogado do PT que acompanhou o caso em nome do partido e teve acesso ao cadáver, assegurou à família do prefeito, no entanto, que não havia sinais de tortura. O fato é conhecido porque foi denunciado pelos familiares do morto.

    Carvalho movimentou-se freneticamente logo depois da morte do “amigo” para que prevalecesse a versão do partido: crime comum. O esforço deixou um rastro de conversas gravadas que vieram a público. Tudo muito impressionante. Leiam, por exemplo, este diálogo em que Sérgio Sombra, acusado de ser um dos assassinos de Celso, entra em pânico e pede para falar com Carvalho. Alguém garante que está sendo montado “um esquema”. Sombra, no diálogo abaixo, é o “personagem A”.
    A – Ô Dias!
    B – Oi chefe!
    A – Onde é que você está cara?
    B – Tô na avenida (…). Eu tô saindo, to indo praí.
    A – (…) Fala prá ligá nesse instante (…) Pará de fazer o que está fazendo.
    B – Peraí, Peraí, Perai. Ei! Oi! Escuta o (…) Já está aí onde está todo mundo (…) Alô!
    A – Ô meu irmão!
    B – Cara cê está no sétimo?
    A – Ô meu! O cara da Rede TV está me escrachando, meu chapa! Tá falando que… Tá falando que é tudo mentira, que o carro tá pegando, que não destrava a porta, que sou o principal suspeito.
    B – Ô cara! Deixa eu te falar. O que hoje tá pegando contra você é esse negócio do carro. Nós temos que fazer é armar um esquema aí: “porque as empresas de (…) junto com a Mitsubishi, por razões óbvias de mercado, se juntaram para dizer que você está mentindo, que o câmbio está funcionando”…Entendeu? Então é o seguinte…
    A – Peraí. Perai, péra um pouquinho.
    B – (…) Pô! Pegá o que Porra?
    A – Chama o Gilberto aí! Chama o Gilberto! Tem que armar alguma coisa!
    B – Calma!
    A- Eu tô calmo. Quero é que as coisas sejam resolvidas.

    Outro diálogo: “Puta! Tá dez!”
    Há outro diálogo bastante interessante. Alguém liga para Ivone, tornada pelo partido a “viúva oficial” de Celso — consta que era sua “namorada” à época… E lhe dá nota dez por sua performance como “viúva” numa entrevista. Vocês entenderam direito. Leiam. Ivone é a personagem B.
    A – Oi!
    B – Oi meu amor. O Xande quer falar com você. Tá bom?
    A – Ok.
    B – Tchau.
    C – Como vai minha querida?
    B – Vou assim. Arrastando.
    C – Ótima a sua entrevista! Viu?
    B – Você gostou Xande?
    C – Eu gostei muito mesmo.
    B – É importante a sua opinião pra mim porque estou totalmente sem referência. Né?
    C – Eu achei muita boa. Entendeu. Tá super. Tem coisas… tá perfeito!
    (…)
    B – Hoje tem uma coisa. Programa pra ir na Hebe.
    A – É. Porque vai a mulher… a viúva do Toninho.
    B – Sabe que o Genoino quer. E é uma merda, né? Uma merda!
    A – Olha. Se você falar o que falou ai está 10. Puta! Tá 10, não parece estrela, a dor de uma viúva. Tá dez!

    Como se nota, a morte do “companheiro” havia se transformado apenas numa questão de marketing e de guerra para ganhar a “mídia”. Com direito a nota pela performance da, sei lá como chamar, “atriz” talvez.

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    João Francisco: Carvalho lhe teria contado tudo

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    Bruno: até irmão de esquerda teve de sumir

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    Retomo
    Já lhes contei aqui. Mesmo a ala petista da família Daniel rompeu com o PT. Um dos irmãos, Bruno, teve de se exilar na França com mulher e filhos. Estavam sendo ameaçados de morte no Brasil. Vale a pena, reitero, por curiosidade quase científica, voltar ao noticiário daqueles dias para constatar a frenética movimentação preventiva do partido, certo de que poderia conduzir para onde quisesse a opinião pública. Passada uma semana, quem estava na defensiva era a polícia paulista… Agora, a acusação de Tuma Junior se junta às de João Francisco e Marcos Valério.

    Uma coisa é certa: o cadáver de Celso Daniel volta a se agitar no armário.

    PS – Por favor, nada de acusações ou ilações além dos fatos nos comentários. O certo é pedir que tudo seja devidamente apurado. E pronto!

    Texto publicado originalmente às 3h09
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