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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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Niemeyer usou seu talento para apoiar as causas mais asquerosas. Como não sou comunista e não misturo as coisas, preservei a sua arquitetura do lixo do seu pensamento. Ou: A marcha da imbecilidade: sites petralhas incentivam os zurros. Ou: “Niemayer, Nielmayer, Noelmayer, Niermaier…”

É claro que a repercussão do que escrevi sobre Niemeyer é desproporcional. Até porque eu fiz o que deve ser feito: a devida distinção entre a obra e o homem. Tomar uma coisa por outra ou outra por uma pode piorar o que é bom e melhorar o que não tem conserto. O Niemeyer que […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 07h16 - Publicado em 7 dez 2012, 17h03

É claro que a repercussão do que escrevi sobre Niemeyer é desproporcional. Até porque eu fiz o que deve ser feito: a devida distinção entre a obra e o homem. Tomar uma coisa por outra ou outra por uma pode piorar o que é bom e melhorar o que não tem conserto. O Niemeyer que assinou um manifesto em favor de José Dirceu e contra o STF, por exemplo, não criava edifícios; só depredava a ordem democrática.

Comigo não, violão!

A obra de Niemeyer, no mais das vezes, era boa, ainda que eu veja com maus olhos o seu lado cortesão, excessivamente grudado a governos. No caso da Brasília de Juscelino, vivia-se uma democracia. Mas ele também produziu para ditaduras, sem constrangimento. Ainda assim, destaco outra vez, tinha um compromisso com a beleza, com a gratuidade estética, que, entendo, deve ser o primeiro compromisso de um criador. Artista que tem agenda é militante político.

Já o pensamento político de Niemeyer era puro lixo autoritário e não tem conserto. Alguém que, no pleno gozo de suas faculdades mentais – e ele as conservou, consta, até o fim, o que é uma graça divina, embora ele não acreditasse nela –, chama um homicida como Stálin de “fantástico” e trata as Farc como força patriótica não está contribuindo para um mundo melhor, não! A SUA ARQUITETURA FAZIA O ELOGIO DA BELEZA E DA VIDA; SUAS IDEIAS POLÍTICAS ESTAVAM ASSENTADAS NUM TERRENO ONDE JAZIAM MILHÕES DE MORTOS.

Niemeyer tem ao menos uma obra hedionda: o Memorial da América Latina, em São Paulo, com aquela mão aberta em que o desenho do subcontinente simula o sangue escorrendo. Acho arte menor o que fica no meio do caminho da representação simbólica e da literalidade. É o caso. Só falta ao autor cutucar o braço do “receptor” para perguntar: “Entendeu o que eu quis dizer?”.

No sangue que escorre naquela mão estão, por exemplo, os 100 mil mortos pela ditadura dos Castro em Cuba (perto de 20 mil fuzilamentos; o resto morreu afogado tentando sair daquele paraíso…)? A resposta é “não”. Porque Niemeyer morreu “fidelista”. No post desta manhã, registro suas palavras considerando necessários e corretos os fuzilamentos determinados por Stálin. No sangue que escorre naquela mão estão milhares de pessoas assassinadas pelas Farc? Não! A julgar pelo apoio que ele dava à causa e por analogia com o que diz sobre Stalin, supõe-se que também esses eram “mortos necessários” porque, como é mesmo?, “a revolução era mais importante”.

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Petralhas ensandecidos
A reação é coisa organizada, inclusive por blogs e sites que estão por aí, COM DINHEIRO PÚBLICO, a incentivar o linchamento do STF e dos ministros que votaram contra os mensaleiros. Como conhecem a minha opinião a respeito, querem usar a minha suposta e jamais havida “agressão ao gênio” para se vingar. Minutos depois que publiquei o primeiro post, quem já se manifestava no Twitter e, na prática, abria a temporada de “caça ao Reinaldo” era José Eduardo Dutra, ex-presidente do PT, diretor sei lá de quê da Petrobras e um dos que Dilma apelidou de “Os Três Porquinhos”.

Podem mandar brasa. Ontem, a página quase bate recorde de visitas num único dia. Quem sabe seja hoje… Os jumentos estão nos cascos. Enviam-me mensagens exaltando a obra de um certo “Niemayer”. Esses se deixam trair pelo ouvido apenas. Mas há também elogios a “Nielmayer”, “Noelmayer” e “Niermaier”, entre outras variações. Vale dizer: algumas mulas não conseguiram usar direito nem as orelhas.

Dizem que um coroa que faz programa de rock numa rádio – Deus do Céu! – me xingou e ameaçou me processar. Que bom! Que faça isso! Deve alegar que o meu crime é ter uma opinião diferente da dele…

Não concedo a nenhum homem, tenha 20 anos ou 105, a licença para fazer poesia sobre a morte. Niemeyer, aliás, disse certa feita que “a arquitetura não tem importância; o que tem importância é a vida”. É uma frase tonta porque, de fato, não quer dizer nada. Como foi dita por um ancião, supõe-se que haja alguma sabedoria secreta embutida. Não há! A arquitetura tem importância quando se precisa dela e traduz aspirações humanas; reflete um estado da cultura; expressa, sim, um momento da política e dos valores ideológicos etc. É o caso de Brasília.

Sim, o Brasil vivia uma democracia. É razoável a hipótese de que algo como aquilo só se fez porque o sonho das elites ilustradas e deslumbradas – de que Niemeyer fazia parte – tomou o lugar de algumas urgências que tinha (e ainda tem… urgências que duram no tempo!) o povo brasileiro.  O “sonho” de Brasília foi sonhado sobre indicadores sociais que faziam do país um dos piores lugares do mundo para se viver então. Poucos se dão conta disso. Mas “o povo” está presente na obra, entenderam?

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No que concerne à cultura e ao ambiente para o debate, o país raramente esteve tão próximo do fascismo como está hoje. Hordas mobilizadas por vigaristas financiados por dinheiro público são mobilizadas para partir para a depredação, sem nem mesmo saber por que estão batendo. Felizmente, também há milhares de pessoas dispostas a ouvir os apelos da razão.

Niemeyer dizer que o que tinha importância “era a vida”? Por que escolheu, então, ser um justificador da morte? O jornalismo baba-ovo pretende fazer de seu “comunismo” uma parte da sua utopia, traduzida nos seus edifícios? Que vá em frente! Houvesse um pouco de decência E INFORMAÇÃO, a abordagem seria outra: foi um bom arquiteto APESAR DA SUA IDEOLOGIA. Não será com o meu silêncio. Ainda que eu fosse o único a considerar detestável seu pensamento; ainda que eu fosse o único a reconhecer que sua ideologia se assentava num terreno sangrento, não abriria mão de dizê-lo.

Um homem e sua obra também são suas circunstâncias. O único erro que posso ter cometido é o de proporção. Uma das mais recentes manifestações políticas de Niemeyer foi assinar – e estava absolutamente lúcido – um “manifesto de intelectuais” em apoio a José Dirceu. Isso, por si, diminui a metade cabida ao gênio e aumenta a parcela do idiota.

Resumo: Niemeyer usou a sua arquitetura para apoiar as causas mais asquerosas. Como não sou comunista e não misturo as coisas, eu preservei a sua arquitetura do lixo do seu pensamento.

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