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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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Maria Rita Kehl, a psicanalista petista, mete os pés pelos pés em artigo sobre a segurança pública em SP, já antecipando a campanha eleitoral de 2014. E tem a merecida resposta

A psicanalista petista Maria Rita Kehl, agora membro da dita Comissão da Verdade, é uma velha conhecida deste blog. Sua capacidade de dizer bobagens pomposas que não resistem a dez minutos de exame dos fatos é espantosa. Por isso mesmo, mereceu um lugar na tal comissão. Escrevo sobre este particular em outro post. Pois bem. […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 07h48 - Publicado em 24 set 2012, 06h37

A psicanalista petista Maria Rita Kehl, agora membro da dita Comissão da Verdade, é uma velha conhecida deste blog. Sua capacidade de dizer bobagens pomposas que não resistem a dez minutos de exame dos fatos é espantosa. Por isso mesmo, mereceu um lugar na tal comissão. Escrevo sobre este particular em outro post. Pois bem. No dia 11 deste mês, a PM de São Paulo interrompeu um “julgamento” — isto mesmo, um “julgamento”! — que estava sendo feito pelo PCC. A bandidagem se reuniu para decidir se um “acusado” pelo seu tribunal iria viver ou morrer. A Rota, felizmente, entrou em ação. Nove pessoas morreram — nenhum policial.

Parece que isso deixou Dona Maria Rita nervosa. Petista militante, ela não pode ir além do que tal condição permite, não é? E pensou mais ou menos assim: “Ora, se só bandidos morreram, nenhum policial, então foi certamente uma ação injusta da PM”. Sem  o sangue dos policiais, ela não consegue ver justiça.

Ouvido sobre as mortes então, o governador Geraldo Alckmin disse uma obviedade: “Quem não reagiu está vivo”. Aquela senhora não gostou e escreveu um artigo para a Folha, publicado no dia 16. Trata-se do texto mais intelectualmente delinquente de sua carreira — e olhem que Maria Rita é uma concorrente quase invencível de Maria Rita em matéria de bobagem, em especial quando decide temperar a sua abissal ignorância sobre quase tudo com vocábulo que remetem à lacanagem de botequim chique. “Abissal ignorância, Reinaldo?” É, sim! Vou fazer um desafio público a ela daqui a pouco. Sei que é inútil; essa gente sempre foge porque sua covardia intelectual é gigantesca. Aliás, terei de fazer um repto até a Dilma Rousseff — e por causa de Maria Rita!

Alckmin disse o óbvio: numa ação em que a PM enfrenta bandidos armados até os dentes — como era comprovadamente o caso —, a única chance de o meliante não levar chumbo (e não é garantia, claro!) é não reagir. Se Maria Rita não sabe a diferença entre troca de tiros e execução extrajudicial, é compreensível que não saiba a diferença exata entre polícia e bandido. Aliás, isso parece claro nos estados em que seu partido é governo. A violência explodiu, especialmente o índice de homicídios. Se bem que ela parece saber. No artigo em questão, chegou a demonstrar mais simpatia pelos métodos da bandidagem.

Maria Rita é uma militante petista. Integra aquelas forças em São Paulo — com presença marcante no jornalismo paulistano, diga-se — empenhadas em desconstruir a gestão de Geraldo Alckmin para tentar pavimentar o caminho do petismo rumo ao Palácio dos Bandeirantes. Operação semelhante na capital acabou dando em… Celso Russomanno como líder das pesquisas! Mas os vigaristas intelectuais não aprendem.

Bem, na Folha de ontem, o jornalista Márcio Aith, subsecretário de Comunicação do governo do Estado de São Paulo, respondeu ao artigo de Maria Rita. Não posso dizer que o faz à altura porque seria subestimar seu texto. Ele trabalha com fatos; ela, com ideologia; ele exibe dados reconhecidos como verdadeiros até pelo próprio governo federal; ela só tem os preconceitos; ele lida com acontecimentos comprováveis, com a verdade; ela se regozija com as mentiras que alimentam a sua luta político-partidária.

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Segue abaixo o artigo de Aith. Sei que o post fica gigantesco, mas nem eu nem vocês ligamos pra isso. De resto, a verdade tem de se espalhar. Não há um só número aí que Dona Maria Rita possa contestar. E olhem que outros tantos poderiam ser elencados, demonstrando o tamanho da bobagem que ela escreveu. Aith ainda deixou de chamar a atenção para outra mentira vergonhosa contada por esta senhora naquele artigo, que deveria render desde já a sua demissão da Comissão da Verdade — ou Dilma vai se desmoralizar. Mas trato disso em outro post. Leiam a resposta.

Psicanálise de embromação
Quem não consegue distinguir a democracia da ditadura acaba escolhendo a ditadura como se fosse democracia e a democracia como se fosse ditadura.

Só assim se entende que a psicanalista Maria Rita Kehl associe o democrata Geraldo Alckmin, eleito com 11,5 milhões de votos, a um regime de força, como o fez em seu artigo publicado na última “Ilustríssima” (“O veredicto de Geraldo Alckmin”), com chamada de capa neste jornal.

Kehl comparou a ação da Polícia Militar de São Paulo contra um grupo de bandidos fortemente armados, em uma chácara do município de Várzea Paulista, ao massacre de prisioneiros políticos indefesos da ditadura militar.

Decretou que o senso de justiça da bandidagem, no caso de Várzea Paulista, estaria acima daqueles da PM e do próprio governo do Estado. Isto porque um tribunal do crime, que na chácara se instalara, “absolvera” de forma generosa um dos presentes -acusado de estupro, depois morto na operação policial.

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Por fim, Maria Rita classificou como sendo retórica ditatorial uma declaração do governador Geraldo Alckmin (“Quem não reagiu está vivo”) e despejou sobre os leitores números que pudessem dar verossimilhança a seu diagnóstico.

O texto é delirante, perverso e desequilibrado. A psicanalista demonstrou desconhecer segurança pública; desprezar fatos e estatísticas; e menosprezar a memória e o trabalho de várias pessoas que, embora não partilhem de sua cartilha, contribuíram para a redemocratização no país.

O Governo do Estado de São Paulo não tolera abuso oficial.

Desde 2000, 3.999 policiais militares e 1.795 policiais civis foram demitidos por má conduta no Estado (dados até 18 setembro deste ano). Só na atual gestão, foram 392 policiais militares e 252 policiais civis.

Ao mesmo tempo, e sem qualquer contradição entre os dois esforços, a Polícia Militar impediu, e vai continuar a fazê-lo, que o crime se organize e realize julgamentos ao arrepio do Estado democrático de Direito.

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Aqui, o crime não instala tribunal; aqui, o crime não ocupará funções privativas do Estado; aqui, o crime não vai dialogar com os Poderes constituídos.

A declaração do governador que tanto ouriçou a psicanalista Maria Rita foi feita dentro de um contexto de apuração e controle. Ele não se omitiu em relação à necessidade de investigar o que ocorreu.

Ao contrário. Disse ele, na mesma ocasião: “Olha, quando há resistência seguida de morte: investigação. A própria Polícia Militar investiga e o DHPP, que é o Departamento de Homicídios, também investiga A investigação pela Corregedoria já era de praxe. O que é que nós colocamos a mais? O DHPP. Ele faz a investigação em todos esses casos, ele conduz a investigação.”

E o que isto significa? Que o Estado de São Paulo foi o primeiro a colocar um corpo de elite da Polícia Civil -no caso, o DHPP- para apurar resistências seguidas de morte. Nas demais unidades da Federação (algumas das quais querem adotar o modelo paulista), as resistências não são apuradas, muito menos comandadas, por departamentos qualificados.

MENTE FANTASIOSA
A medida fortaleceu o eficaz sistema de freios e contrapesos, típico dos regimes democráticos. Apenas na mente fantasiosa de Maria Rita Kehl os experientes delegados do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa, da Polícia Civil, deixarão de cumprir sua obrigação para encobrir eventuais desvios de conduta de policiais militares.

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A retórica inflamada e irresponsável desta senhora não fará o governo mudar o rumo na segurança pública. Rumo este, aliás, iniciado na década de 90, com a criação da Ouvidoria da Polícia, com a instituição da disciplina de direitos humanos no curso das polícias e com o combate à letalidade. E que vem sendo seguido pelo atual secretário, Antonio Ferreira Pinto, notoriamente comprometido com o rigor e com a legalidade.

Segundo os dados do último anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública do Ministério da Justiça (2011), a letalidade da polícia paulista é menor do que a de outros Estados do Brasil, tanto em números absolutos como nas taxas por 100 mil habitantes.

Em 2010, morreram 510 pessoas em confronto com a polícia paulista, uma taxa de 1,2 mortos por 100 mil habitantes. No Rio de Janeiro, que tem pouco mais de um terço da população de São Paulo, foram mortas 855 pessoas em confronto policial (taxa de 5,3 por 100 mil habitantes). Na Bahia, a taxa é de 2,2 por 100 mil. Como se vê, a fantasia baseada em distorções ideológicas não se sustenta quando confrontada com dados.

Maria Rita Kehl retrata a Polícia Militar de São Paulo como assassina contumaz de jovens. Pois São Paulo foi o Estado brasileiro que mais reduziu a taxa de homicídio de crianças e adolescentes (até 19 anos) por 100 mil habitantes entre 2000 e 2010, segundo o Mapa da Violência do Instituto Sangari: queda de 76,1%, de 22,3 para 5,4.

Também em números absolutos, o Estado de São Paulo teve a maior queda nesse índice entre 2000 e 2010. A redução foi de 2.991 homicídios de jovens e adolescentes, registrados em 2000, para 651 em 2010.

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E o que aconteceu no Brasil no período? O número absoluto de homicídios de crianças e adolescentes cresceu 6,8%, entre 2000 e 2010 (de 8.132 para 8.686 casos) e a taxa por 100 mil habitantes subiu de 11,9, em 2000, para 13,8 em 2010.

DISTORÇÕES
Mas números não bastam para esta senhora. A distorção moral e ética de seu pensamento é insanável. Para Maria Rita, uma luta justa deveria contar sempre com mortos também entre policiais militares. Para ela, a profissionalização da Polícia Militar, treinada também para evitar baixas, é uma disfunção, um defeito, uma evidência de covardia.

Entende-se: entre a polícia e os bandidos, parece que ela já fez a sua escolha. Maria Rita acha que uma luta justa entre Polícia e bandido tem de terminar em empate -quiçá com a vitória da bandidagem, que ela deve confundir, em sua leitura perturbada da realidade, com uma variante da luta por justiça.

A Polícia Militar salva vidas, Maria Rita. É treinada para proteger a população do Estado. Atendeu a mais de 43 milhões de chamados em 2011. Realizou 310 mil resgates e remoções de feridos. Efetuou 128 mil prisões. A PM de São Paulo está entre as melhores do país.

Por isso, o Estado de São Paulo, segundo o Mapa da Violência, está em penúltimo lugar no ranking dos homicídios por 100 mil habitantes. A capital paulista é aquela em que, hoje, menos se mata no país, segundo o mesmo estudo.

Estivesse ela interessada em debater de fato o problema da Segurança Pública, Maria Rita tentaria entender a relação entre drogas e o crime organizado, como aquele instalado na chácara de Várzea Paulista. E por que o Brasil é o primeiro mercado consumidor mundial de crack e o segundo de cocaína? Nunca é suficiente repetir que o Estado de São Paulo produz laranja, cana, soja. Mas não produz folha de coca. Como ela entra no país? E as armas?

Mas estas não são as preocupações de Maria Rita. Ela quer confundir. Por isso até misturou o caso de Várzea Paulista à desocupação judicial da área conhecida como Pinheirinho, onde não houve vítima fatal e criou-se, bem ao seu estilo, um episódio mentiroso para fazer luta partidária.

A obrigação da autoridade pública é enfrentar o problema, seja ele a bandidagem comum ou a bandidagem da polícia. Se houve abusos, eles serão punidos após a investigação, como sempre o foram, e não antes.

Maria Rita Kehl, aliás, tornou-se partidária do julgamento extrajudicial. Ela não conhece detalhes da ação da polícia, mas já expediu a sua sentença condenatória, mimetizando, ela sim, os métodos das tiranias. Com uma diferença. As ditaduras criavam simulacros de julgamento. Precisavam convencer a si mesmas de sua farsa. Maria Rita não precisa ser nem parecer justa.

Ela deveria se envergonhar -mas não se conte com isso, pois está cumprindo uma agenda partidária -como, aliás, já havia feito nas eleições de 2010. Desmoralizar a polícia de São Paulo é parte de um projeto de poder.

O Governo do Estado de São Paulo não tem compromisso com o crime.

Texto originalmente publicado às 2h58
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