Mais uma vez, o fim do capitalismo está próximo!
Ah, a esperança das esquerdas é a última que morre — e, naturalmente, muita gente, muitos milhões, morre primeiro, é claro! Elas nunca mediram nem esforços nem vidas para fundar o “novo homem”. Desta vez, o capitalismo estaria mesmo caminhando para seu epílogo. Se não isso, ao menos o sistema estaria frente a frente com […]
Ah, a esperança das esquerdas é a última que morre — e, naturalmente, muita gente, muitos milhões, morre primeiro, é claro! Elas nunca mediram nem esforços nem vidas para fundar o “novo homem”. Desta vez, o capitalismo estaria mesmo caminhando para seu epílogo. Se não isso, ao menos o sistema estaria frente a frente com a sua miséria moral.
Na Folha de hoje, por exemplo, embora não revele a origem, o colunista Ricardo Mello citou um trecho do “Programa de Transição”, do socialista russo Leon Trostky, publicado em 1938, para retratar o drama a que o mundo estaria assistindo. Calma, Ricardo! Menos! Ele achou que este trecho sintetiza bem a realidade que vivemos:
“As crises conjunturais, nas condições da crise social de todo o sistema capitalista, sobrecarregam as massas de privações e sofrimentos cada vez maiores. O crescimento do desemprego aprofunda, por sua vez, a crise financeira do Estado e mina os sistemas monetários estremecidos. Os governos, tanto democráticos quanto fascistas, vão de uma bancarrota a outra.”
Não que eu não tenha certa nostalgia do tempo em que os jornalistas citavam Trotsky em vez de Luiz Inácio Apedeuta da Silva… Até tenho. Mas não cabe. Ainda que Trotsky realmente tivesse tido um delírio antecipatório, teria sido, assim, uma coincidência. Recomendo que Ricardo releia a Quarta Bucólica, do poeta latino Virgílio. Não foram poucos os que asseveraram, ao longo dos séculos, que Virgílio anteviu a vinda do Messias. Pois é. Em vez de poeta, seria um profeta! Virgílio morreu no ano 19… ANTES de Cristo. Ao ler um trecho do seu poema, tenho certeza de que Ricardo vai considerar que ele era um adivinho mais agudo do que Trotsky. Querem ver (na tradução de Pércles Eugênio da Silva Ramos)?
Também já volta a Virgem, volta o reino de Saturno;
já uma nova progênie desce dos mais altos céus.
Casta Lucina, ampara, que já reina o teu Apoio,
o menino que está nascendo: a geração de ferro
com ele findará, ao mundo vindo a raça de ouro.
Sendo tu cônsul surgirá a glória dessa idade,
Pólio; sob teu poder começarão os grandes meses.
Se o nosso crime deixou traços, nada valem eles,
que de um terror perpétuo livrar-se-ão todas as terras.
Terá a vida dos deuses o menino, que os verá
no meio dos heróis, e será visto em meio a eles,
regendo com as virtudes de seu pai um mundo em paz.
Sem trato algum, menino, a terra te oferecerá
como primícia as heras que se alastram, mais o bácar,
e as colocásias misturadas ao ridente acanto.
Por si, cheias de leite, as cabras voltarão ao aprisco,
e os rebanhos não mais terão pavor dos grandes leões.
Teu próprio leito cobrir-te-á de cariciosas flores;
morrerá a serpente, e a planta de falaz veneno
morrerá; e aqui e ali há de crescer o amorno assírio.
Assim que as proezas dos heróis e os feitos de teu pai
puderes ler, e discernir o que a virtude seja,
o campo dourar-se-á, aos poucos, com a tenra espiga,
dos incultos silvados penderá, vermelha, a uva,
e os duros robles suarão um orvalhado mel.
Mas do delito antigo restarão poucos vestígios (…)
Se isso não era o anúncio da vinda do Messias, o que poderia ser? E, no entanto, não era!!! O monumental poeta só estava puxando o saco de Marco Antônio e Otávio, os litigantes do Segundo Triunvirato. Otávio levou a melhor no fim da história.
Apesar de tanto sofrimento no mundo, que levou o colunista a associar o mundo de 2011 àquele de 1938, às vésperas da Segunda Guerra, é preciso dizer: os homens nunca viveram tanto e tão bem, e as conquistas tecnológicas jamais chegaram às massas com tanta rapidez. “Mas como pode haver ainda tanta iniqüidade?” Essa é a pergunta que nos fazemos desde que o mundo é mundo, e isso não quer dizer que tenhamos, como espécie, ficado na pura perplexidade. Ao contrário: a democracia (não o socialismo) e a luta por liberdade (não por igualdade) têm criado, a cada dia, um mundo… melhor! A liberdade induz o homem à justiça.
O “modelo” que aí está — que agora parece tão perverso — financiou um formidável avanço técnico; nunca se caminhou tanto em tão pouco tempo. Estamos, de fato, assistindo a uma revolução. Milhões de pessoas foram retiradas da miséria na Ásia, na América Latina e até na África. Nos países em que não se pôde avançar mais, o freio veio do déficit de liberdade, não da pouca vontade de implementar a “igualdade”. Quando, em nome desta, tolhe-se aquela, produzem-se ditadura e miséria.
A “crise” do sistema capitalista é só uma crise de liderança. Indivíduos fazem a diferença na história. A safra de líderes dos EUA e da Europa é a pior em muitas décadas. O capitalismo sobreviverá e continuará a tirar milhões da miséria. Precisamos é tomar cuidado com a democracia. Esta, sim, vive dias de crescente desprestígio.