Do ateísmo e do ecumenismo no instante final
Vejo na televisão a cerimônia de sepultamento de Oscar Niemeyer. Representantes de diversas religiões, uma mensagem comovida dos irmãos homicidas que governam Cuba, a Banda de Ipanema (ou algo assim), saudação de “companheiros comunistas”, o Cristo ao fundo, braços abertos sobre a Guanabara. No Rio, até enterro termina em cartão-postal. Não sei se Niemeyer deixou […]
Vejo na televisão a cerimônia de sepultamento de Oscar Niemeyer. Representantes de diversas religiões, uma mensagem comovida dos irmãos homicidas que governam Cuba, a Banda de Ipanema (ou algo assim), saudação de “companheiros comunistas”, o Cristo ao fundo, braços abertos sobre a Guanabara. No Rio, até enterro termina em cartão-postal.
Não sei se Niemeyer deixou alguma instrução pedindo uma cerimônia ecumênica. Se deixou, acho bacana. Falo sério. Não há hora para aceitação de Deus, ainda que seja só “em homenagem ao nosso povo crente”. Se não deixou, então é um desrespeito – este, sim! Um ateu tem o direito de viver e de morrer segundo as suas convicções.
É preciso ter um mínimo de rigor nessas coisas. Ateísmo não é sinônimo de ecumenismo. Este implica reconhecer que todas as religiões, ou um grupo delas, têm uma base mística comum ou, ao menos, estão movidas pelo mesmo impulso e pelas mesmas intenções. Eu, por exemplo, que acho que a tolerância religiosa é expressão necessária de civilidade, não sou ecumênico.
Niemeyer, o que deixou expresso mais de uma vez, não acreditava no deus de nenhum daqueles senhores que lá estavam paramentados. Muitas convicções religiosas juntas não são suficientes para converter um homem vivo. E, por óbvio, não convertem um morto. Se, reitero, ele não deixou instruções a respeito em defesa da solenidade, tratou-se de uma arbitrariedade.