No post abaixo, dou uma esculhambada num comentário de Arnaldo Jabor, segundo quem só os picaretas reagem às boas ações de Dilma Primeira. Ele pensava o mesmo daqueles que reagiam às medidas adotadas por FHC e Lula… Por alguma razão, ele parece considerar que a adesão é moralmente superior à reação. Eu não chego a pensar o contrário, mas confesso certa simpatia pelos que vão na contramão. Costuma ser a minoria a provar as virtudes, ou falta delas, de um governo constituído com o voto da maioria. É um primado da democracia, esse!
Jabor é de outro tempo, de outra geração. Volta e meia, o CPC da UNE ainda vaza em seus comentários. Eram dias aqueles em que o PCB, o “partidão”, dava as diretrizes da luta política — depois a coisa descambou para a luta armada, terrorismo etc, práticas a que Dilma Rousseff aderiu. O “partidão” seguiu firme na luta política apenas, reunindo forças… Não vou me deter nisso agora. Havia um mecanismo mental, que sobrevive ainda hoje em muitas cabeças, segundo o qual é preciso ver sempre quais são as alianças possíveis contra o inimigo principal. As contradições secundárias são, pois, secundárias desde que estejamos atentos à contradição fundamental. A linha do partidão, por exemplo, pregava a união das esquerdas com a burguesia nacional contra o imperialismo e o capital internacional, que eram os males verdadeiros, os inimigos reais.
A cabeça de Jabor, de algum modo, é a mesma: sempre buscando as alianças táticas contra o inimigo principal. No governo Lula, seriam os “bolchevistas” atrasados que não percebiam a modernidade do Apedeuta; no governo Dilma, é o Apedeuta, com seu personalismo… Nos dois casos, evidentemente, há um erro fundamental se o paradigma é a democracia representativa: o PT, que hoje reúne Lula e Dilma numa festança para saudar as “conquistas” de um e reiterar o “apoio” à outra, é o suporte de um e de outra. O poder real dessa organização não está, ademais, no Orçamento da União, com ou sem corte, mas no aparelhamento dos fundos de pensão, dos órgãos do Executivo e do Judiciário, dos sindicatos e das estatais.
Não entender isso, lamento dizer, é, com efeito, não entender o principal, o fundamental. O resto é firula de quem confunde a realidade com um filme ou uma novela de TV. Jabor que se cuide! Ou ainda vai dirigir um remake de “A Pícara Sonhadora” no SBT.