Compra dos caças continua a voar em zona nebulosa
(leia primeiro o post abaixo) Vamos lá. Lula tinha anunciado a compra dos Rafales na viagem que Nicolas Sarkozy fizera ao Brasil? Não há como negar: tinha, sim! Como a questão ainda era objeto de análise da Aeronáutica, fez-se uma lambança retórica para dizer que não era bem aquilo, que haviam entendido mal o que […]
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Vamos lá. Lula tinha anunciado a compra dos Rafales na viagem que Nicolas Sarkozy fizera ao Brasil? Não há como negar: tinha, sim! Como a questão ainda era objeto de análise da Aeronáutica, fez-se uma lambança retórica para dizer que não era bem aquilo, que haviam entendido mal o que ele havia dito etc. Todo mundo havia entendido direitinho.
Ficamos sabendo depois que a Aeronáutica, dadas as três opções, fez uma espécie de hierarquia das preferências: em primeiro, está o sueco Gripen; depois vem o F-18 , da Boeing, e o Rafale, da Dassault, é a última opção da Força que vai lidar com os aviões. Restou, e Nelson Jobim a tanto se prestou à época, afirmar que a decisão não era técnica, mas política. Ah, bom! Decisão política envolvendo até US$ 7 bilhões de dinheiro público é coisa complicada, né?
A Aeronáutica produziu 20 mil páginas explicando por que o Rafale é apenas sua terceira — e última — opção. E o custo de manutenção das aeronaves é um dos motivos. Aí apareceu a tal “questão estratégica”: os franceses estariam sendo mais generosos na chamada “transferência de tecnologia”. Suecos e americanos se apressaram em demonstrar que eles podem concorrer também nesse campo.
Tudo indica que Lula não decidiu porque, por alguma razão, não tinha como não escolher os Rafales. Parece que era coisa de palavra empenhada — vai se saber em quais circunstâncias e por quê. Deixou, então, o assunto para Dilma. Ora, ela não é exatamente uma neófita no caso, certo? Aquele não era, afinal, o governo “Lula-Dilma”?
Vamos ver. Demora para tomar uma decisão não deve ser confundida com qualidade da escolha. Se, depois de toda a enrolação, a presidente escolher os Rafales, será grande a possibilidade de que a demora só terá servido para conferir a aparência de rigor técnico a uma decisão que foi, como é mesmo?, “política”. Caso Dilma fique com o Gripen ou com o F-18, restará aquela questão primitiva: qual era, afinal, o compromisso de Lula com os franceses?
Para encerrar: parece que Dilma se mostra disposta a manter a questão dos caças naquela mesma zona nebulosa em que ela se mantinha no governo Lula. Como dá para perceber, agências e governos estrangeiros têm mais informações do que a imprensa brasileira. Por aqui, tudo é desconversa.