Alencastro, Kehl, “père-version” e Tião Macalé
As melhores coisas da Folha neste domingo são os dois “painéis”, tanto aquele que trata dos bastidores da política, o Painel propriamente dito (falo já dele), quanto o Painel do Leitor. Começo por este e com algumas reflexões. Paulo Betti é o melhor intelectual petista. É direto. Não tem medo de chamar a coisa pelo […]
“Paulo Nogueira Batista Júnior, por quem tenho respeito e amizade, relatou, em sua coluna ‘Um encontro com o presidente Lula’ (Dinheiro, 31/8), o encontro de intelectuais com Lula, dando ênfase aos ataques que ele proferiu ao Banco Central. Ficou parecendo que essas foram as únicas críticas substanciais apresentadas ao presidente – por alguém que furou a lista dos oradores inscritos. Ora, antes de sua intervenção, um dos inscritos na lista leu um manifesto, assinado por 213 intelectuais, que condena ‘os recentes escândalos que têm despertado perplexidades’. Outro inscrito afirmou, em seguida, que os delitos praticados por membros do PT e do governo, ‘incorrendo em penas previstas no Código Penal’, haviam deixado muitos militantes do PT ‘humilhados e ofendidos’. E Maria Rita Kehl, também inscrita na lista, disse que esperava um PT e um governo petista livres dos ‘vícios e dos crimes’ que marcaram o período recente. Havia, portanto, no encontro, gente que acredita que a questão ética do PT e do governo é muito mais importante do que o atual nível da taxa de juro.”
É uma coisa estupenda. O que será que ele ensina a seus alunos? A pergunta é retórica. Não tenho o menor interesse. O que a carta deste senhor deixa claro é que, diante do deprimente espetáculo de corrupção promovido pelos petistas, o importante é fazer declarações retóricas em favor da ética. Ela deixa de ser algo que se vive no presente para se tornar uma abstração à qual as pessoas se filiam por uma, sei lá, particularidade ou especialidade do espírito. Os petistas estavam inconformados, é? Sei… Subjacente à sua observação, está presente a tese petralha de que o petismo, em sua essência, é bom; alguns petistas é que o corrompem. Ou na glossolalia lulista: “não é porque alguns companheiros erraram que a gente vai condenar o partido”. Claro! Quais companheiros? Ah, o presidente, o secretário geral, o tesoureiro, o ministro-chefe da Casa Civil, o ministro da Fazenda…
Quer dizer que a psicanalista Maria Rita Kehl — resistirei à tentação de fazer trocadilho com o nome de um remédio muito usado no couro cabeludo de crianças… — estava lá e deixou claro que “que esperava um PT e um governo petista livres dos ‘vícios e dos crimes’ que marcaram o período recente”? Era a filhinha reclamando com o papai Lula que a vida real existe? Ela caiu do divã, mas não se deu por achada, é isso? Teria ela falado mesmo “vícios e crimes”? Uau!
Vou fazer aqui uma “lacanagem” com Maria Rita Kehl: acho que ela estava vivenciando um momento de “père-version”. Leitor amigo, pesquise sobre isso que vai entre aspas. É longo para explicar. O jogo é divertido.
Ah, Batista respondeu a Alencastro. Uma resposta que não deixa a menor dúvida sobre o que se passou na reunião com os supostos intelectuais: “Com todo o respeito e a amizade que tenho por Luiz Felipe Alencastro, digo que o clima dominante no encontro dos intelectuais com o presidente na segunda-feira passada em São Paulo era de apoio e deferência. O manifesto que ele menciona, apesar da perplexidade com os escândalos, pedia voto em Lula. Todos ou quase todos os inscritos na tal lista de oradores declararam voto no presidente. Alguns fizeram ressalvas críticas; outros, nem isso.”
Viva Tião Macalé, o verdadeiro pensador de Banânia: “Nojeeeeeeentos!”