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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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A morte do PT ao molho de dendê. Ou: Fala um militante das antigas

Converse com petistas com miolos. Sim, os há! Fiz exatamente isso nesse fim de semana. Por que são petistas ainda? A resposta é longuíssima, e não me ocuparei disso agora. Mas o fato é que aqueles que pensam a sério o destino do partido também o veem morrendo e não enxergam muito por onde ressuscitá-lo. […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 00h48 - Publicado em 3 ago 2015, 05h57

Converse com petistas com miolos. Sim, os há! Fiz exatamente isso nesse fim de semana. Por que são petistas ainda? A resposta é longuíssima, e não me ocuparei disso agora. Mas o fato é que aqueles que pensam a sério o destino do partido também o veem morrendo e não enxergam muito por onde ressuscitá-lo. Vários fatores se somam. E já chegarei a eles. Antes, quero que prestem atenção a alguns números.

O Instituto Paraná Pesquisas fez um levantamento na Bahia sobre a preferência partidária da população do Estado. A coisa não vai bem para os companheiros naquele que já foi considerado um reduto do petismo.

Indagados sobre qual é o partido de sua preferência, 40,8% dos que responderam a pesquisa disseram “nenhum”. O segundo grupo com o maior percentual é justamente o dos que disseram “PT”: 16,9%. Em seguida, vêm PMDB (10,8%) e PSDB (10,5%). Dez por cento não sabem. Vejam tabela.

 Bahia - partido de que mais gosta

Até aí, bem! Não é muita coisa, mas os petistas poderiam ficar felizes por liderar entre os que escolheram uma legenda. O busílis está em outra pergunta. O Paraná Pesquisas quis saber também qual é o partido de que os baianos menos gostam ou que mais rejeitam. Aí a coisa ficou feia: o PT disparou, com 43,6%, ganhando do “Nenhum/não tem”: 33,1%. Muito atrás na rejeição, vêm o PSDB, com 8,4%, e o PMDB, com 4,2%.

 Bahia partido de que menos gosta

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O Paraná Pesquisas ouviu 1.284 eleitores, entre os dias 21 e 26 de julho, e a margem de erro é de três pontos para mais ou para menos.

Congresso, refundação e mais do mesmo
Muito bem! Neste domingo, o Estadão publicou uma entrevista do petista Tarso Genro, ex-governador do Rio Grande do Sul e ex-ministro do governo Lula. Afirmou que tanto o partido como os governos petistas chegaram ao fim de um ciclo. Segundo Tarso, que articula uma frente de esquerda — que seria liderada pelo PT, é claro! —, chegou a hora de “refundar” o partido.

Então tá. A única coisa chata para quem tem memória é que Tarso fez esse mesmíssimo discurso, apelando até à mesma palavra — “refundação” — em 2005, por ocasião da crise do mensalão, quando pareceu que ele iria formar um polo na legenda para se opor a José Dirceu e companhia.

Pouco depois, foi desautorizado pelo próprio Lula, que passou a sustentar que aqueles que acusavam o PT pelos crimes do mensalão eram… “golpistas”, mesma palavra empregada hoje em dia, e que tudo não passava de uma trama urdida por reacionários, tendo a mídia monopolizada como organizadora daquela reação. Não tardou para que o próprio Tarso passasse a incorporar esse discurso.

Pois bem… Digamos que o PT tenha chegado ao fim de um ciclo, e os governos petistas também. Para que algo seja refundado é preciso admitir o erro. O partido realizou o seu congresso há menos de dois meses, na Bahia, entre 11 e 14 de junho. Não se ouviu por lá nem sombra de autocrítica. E a voz que mais reiterou os erros foi justamente Lula, segundo o qual os ataques ao partido decorrem de suas virtudes. Os petistas sustentaram a tese de que a legenda se tornou alvo dos conservadores porque distribuiu renda e inseriu os pobres na economia. Ora, por que um partido tão bonzinho iria mudar alguma coisa?

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O próprio Tarso, ao tentar apontar o caminho dessa refundação, pede a mudança da política econômica. A julgar pela crítica que faz, quer a volta do “dilmo-manteguismo” que vigorou entre 2011 e 2014, que contribuiu justamente para empurrar o país para uma grave crise. Ou por outra: hoje, o PT se divide entre os que não querem mudar nada e os que querem mudar para pior.

Um segundo elemento que empurra o partido ladeira abaixo, dizem os petistas que ainda conseguem raciocinar em meio ao caos, é o envelhecimento da legenda — envelhecimento físico mesmo. O PT se desconectou da juventude e perdeu aquele ar de vanguarda até de costumes que exibiu nos tempos da oposição. Tornou-se, na expressão do meu interlocutor, “ranzinza, ranheta, reativo e agressivo”. Ele pondera: “Seria inimaginável, até o começo dos anos 2000, supor que o PT teria de recorrer à militância paga para juntar gente, pagar lanchinho…”

O PT perdeu as ruas. Mas e os movimentos sociais? E um Guilherme Boulos, não é renovação? Meu interlocutor responde: “O sentimento difuso de mudança e de progresso social que o PT chegou a encarnar não é substituível por grupos militantes que, muitas vezes, têm um discurso corporativista, que é o avesso daquilo que a gente representava”. Ou por outra: houve um tempo em que a legenda, falando ou não a verdade, tinha um apelo universalista. Hoje, assemelha-se mais a um grupo de pressão em defesa de privilégios.

Finalmente, ele vê um problema conjuntural, mas que pode trazer ainda mais dificuldades. Diz que, país afora, prefeitos do próprio partido, em busca da reeleição, estão dispostos a esconder a sigla porque “anda difícil defender o PT”. Ele também aponta dificuldades para liderar alianças em cidades importantes. Teme por um brutal encolhimento da legenda nas eleições municipais.

Finalmente, pergunto: “Você acha que Lula será candidato?”. Diz ele: “Se tiver juízo, não! Talvez até venha a reunir condições de vencer. Mas acho que o PT deveria ir para a oposição para sobreviver”.

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Alguma chance, indago, de essa avaliação conquistar adeptos na legenda? Ele é sintético, com ar de desconsolo: “Não!”.

Texto publicado originalmente às 3h29
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