Além de sustentar que Wilson Witzel não teria condições de saber da roubalheira nos contratos da saúde, a defesa do governador também alega no documento de 23 páginas enviado ao STJ que a primeira-dama, Helena Witzel, também não sabia das ligações de uma de suas clientes, a empresa DPAD Seviços Diagnósticos LTDA, com um dos investigados por desvios no governo do marido.
Na tese da defesa, a primeira-dama, que é advogada, foi vítima de “fantasiosa linha de argumentação” da PGR, pois “quando os serviços da Primeira-Dama foram contratados, não havia nenhuma informação de que a DPAD possuía vínculos com Mário Peixoto”, o empresário investigado por pagar propinas no governo do Rio.
Os advogados argumentam que os próprios investigadores tiveram dificuldades de descobrir a suposta ligação entre o empresário propineiro e a empresa que contratou a primeira-dama e que seria injusto, portanto, cobrar que ela também soubesse.
Em outro trecho, os advogados sustentam que os 15.000 reais de suposta propina recebida pela primeira-dama a título de honorários advocatícios destoam dos valores praticados na roubalheira institucionalizada e conhecida do Rio em outras gestões.
“Não é minimamente crível que parcelas mensais de R.000,00 (quinze mil reais) seriam algum benefício ilícito oriundo supostamente de um grupo que mantém contratos milionários com o Estado. A desproporcionalidade é gritante e foge do padrão de negociações espúrias dessa natureza”, diz a defesa.
Em outras palavras, se fosse para o governador e sua mulher se envolverem em um esquema de propina na máquina, não seria por um valor tão baixo: “Não há nada, absolutamente nada a indicar que aquele pequeno valor mensal signifique qualquer outra coisa que não exatamente o que diz o contrato, ou seja, honorários por serviços de advocacia, e em valores nem de longe vultosos”.
Deflagrada na terça-feira passada, a Operação Placebo, autorizada pelo STJ, buscou provas em 12 endereços relacionados ao governador e a outros envolvidos nos supostos desvios da Saúde. Em sua decisão, o ministro Benedito Gonçalves destacou trecho que mostrava pagamentos em nome da primeira-dama por uma das empresas ligadas aos investigados.
O inquérito investiga gastos de 1 bilhão de reais na construção de hospitais de campanha durante a pandemia no Rio. Os valores dos contratos sem licitação incluem compra de respiradores, máscaras e testes rápidos, mas a maior parte do dinheiro, cerca de 836 milhões de reais, foi destinada à Organização Social (OS) Instituto de Atenção Básica e Avançada à Saúde (Iabas).
A PGR investiga crimes de “peculato, corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa” nos gastos emergenciais do governo do Rio de Janeiro na pandemia.