Há dez anos, uma investigação da Polícia Federal descobriu um esquema de corrupção envolvendo algumas das maiores empreiteiras do país, três dos principais partidos da República — PT, PMDB e PP –, e uma série de políticos importantes associados a doleiros e operadores de propinas na Petrobras. Os bolsos dos políticos e o caixa dois dos partidos eram abastecidos por propinas que variavam de 1% a 3% na estatal. As empreiteiras lucravam como nunca superfaturando contratos no famoso Clube do Bilhão.
Os doleiros e operadores, que faziam a ponte entre corruptos e corruptores, delataram primeiro. A partir dos documentos dessas delações, os investigadores chegaram a contas no exterior com milhões de reais em nomes de políticos e integrantes do esquema. Muita gente foi presa e muitas provas foram descobertas. Bilhões de reais retornaram aos caixas da União.
Um famoso ex-ministro de Lula chegou a faturar, nessa brincadeira, quase 40 milhões de reais em “consultorias” prestadas a empreiteiras que tinham interesses nos governos de Lula e Dilma Rousseff. Outro ministro, também consultor petista, comprou apartamentos de luxo e mudou bastante de vida administrando a relação do então presidente com empreiteiras.
Marqueteiros, ministros de Estado, ex-ministros, deputados, ex-deputados, senadores, ex-senadores, tesoureiros e outros caciques partidários estavam numa longa lista de mesadas pagas por empreiteiras. Um dos tesoureiros até tinha apelido carinhoso para a propina: pixuleco!
As investigações avançaram, chegando a esquemas de corrupção envolvendo verbas de aposentados, aos gabinetes da Caixa Econômica Federal e até numa das gigantes de proteína animal do planeta. Na nova leva de delações, o país soube que as campanhas do PT eram alimentadas por milhões de reais pagos em propinas no exterior.
E que sítios — com direito a pavões, pedalinhos e cozinha Kitchens — e apartamentos ganhavam nova vida em reformas bancadas por empreiteiros amigos em São Paulo.
Dez anos depois, o presidente Lula voltou. Governa confraternizando com amigos de outros tempos. As empreiteiras voltaram a ganhar contratos na Petrobras e a estatal voltou a ser um ninho de intrigas políticas. Na CGU, que controla a regularidade das relações na máquina estatal, o chefe do balcão tem a mulher advogando para quem vai lhe pedir refresco e o mercado de consultores petistas nunca esteve tão aquecido.
Os investigadores que descobriram toda essa história caíram em desgraça — por força dos próprios erros, é verdade — e, agora, são os acusados da vez. Os processos foram quase todos anulados, as provas, enterradas, e a alegria voltou a reinar no Planalto Central da República.
E seguirá assim enquanto o STF, a PGR e a Polícia Federal estiverem ocupados concluindo as investigações contra Jair Bolsonaro e seus seguidores golpistas.